Comentários de Cinema - Parte 31


Filmes abordados:

Demônio, O Rei das Trevas (Prime Evil, EUA, 1988)
Espíritos do Demônio (Evil Spirits, EUA, 1990)
Hora do Terror, A (Witchcraft 7: Judgement Hour, EUA, 1995)
Maldição da Casa do Diabo, A (The Fall of the House of Usher, EUA, 1979)
Maldição de El Diablo, A (The Evil Below, EUA, 1989)
Maldição dos Espíritos, A (Spirits, EUA, 1990)
Marca do Vampiro, A (Pale Blood, EUA / Hong Kong, 1990)
Morada do Terror, A (Grandmother´s House, EUA, 1988)
Morte Veste Vermelho, A (I´m Dangerous Tonight, EUA, 1990)

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* Demônio, O Rei das Trevas (1988)
Tranqueira americana que recebeu o manjado e totalmente sem criatividade título nacional “Demônio, O Rei das Trevas” (Prime Evil, 1988), esse filme obscuro dirigido por Roberta Findlay foi lançado no Brasil em VHS pela “Alvorada”, numa época que nossas locadoras de vídeo eram infestadas de inúmeras bagaceiras descartáveis realizadas por desconhecidos e com elencos inexpressivos.
Durante a peste negra que arrasou a humanidade no século XIV, uma ordem medieval de monges renegados da Igreja Católica, uma vez revoltados contra Deus, criou uma seita satânica que realizava rituais de sacrifícios humanos de parentes de sangue em troca de longevidade e bens materiais. O culto demoníaco se manteve por séculos e as ações se voltam para o tempo presente (final da década de 80, época de produção do filme) na cidade de Nova York, liderado pelo sinistro padre Thomas Seaton (William Beckwith).
Um dos membros da seita é George Parkman (Max Jacobs), que precisa manter seu pacto com o diabo de longevidade e riquezas, além de interesses pessoais no controle do poder no culto. Ele planeja oferecer em sacrifício sua neta Alexandra (Christine Moore), que trabalha num abrigo para jovens delinquentes. Porém, mortes violentas de pessoas próximas dela despertam a atenção da polícia, sob a investigação do detetive Dann Carr (Gary Warner), e também de seu noivo Bill King (Tim Gail), que tenta protegê-la da conspiração demoníaca. Em paralelo, uma jovem freira, Irmã Angela (Mavis Harris), se oferece para ajudar a igreja se infiltrando na seita para tentar destruí-la.
O filme é uma tranqueira produzida diretamente para o limbo dos esquecidos. O roteiro é ruim, com uma história óbvia de seita satânica e sacrifícios humanos, apostando unicamente em velhos clichês do gênero. Como todo filme de horror bagaceiro, temos elementos que merecem citação como a presença de belas mulheres nuas oferecidas ao “rei das trevas” (do patético título nacional), algumas mortes com discretas doses de sangue (numa época sem os efeitos vagabundos de computação gráfica dos tempos modernos), e ainda a aparição rápida do próprio demônio em efeitos extremamente toscos, e por isso garantindo algum divertimento rápido. Tem também aquela atmosfera característica dos saudosos anos 80 que inevitavelmente torna o filme datado. De resto, o excesso de clichês, os atores medíocres e a história desinteressante fazem de “Demônio, O Rei das Trevas” apenas mais um filme descartável, que curiosamente foi lançado por aqui na saudosa época do mercado de home vídeo.
(RR – 19/02/17)

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* Espíritos do Demônio (1990)
Lançado no Brasil em VHS pela “NCA”, “Espíritos do Demônio” (Evil Spirits, 1990) é um típico filme do saudoso período entre as décadas de 80 e 90 do século passado, uma época infestada de produções situadas no sub-gênero “slasher”, com mortes violentas creditadas às ações de um assassino misterioso.
Com direção de Gary Graver, é apenas mais um filme mediano perdido numa imensidão de similares e esquecido no limbo, mas que tem uma vantagem significativa através de uma homenagem ao gênero na escolha de um elenco repleto de nomes nostálgicos como Karen Black, Michael Berryman, Virginia Mayo, Martine Beswick, Robert Quarry e Yvette Vickers, entre outros, que foram rostos conhecidos em diversas pérolas do cinema fantástico bagaceiro.
A misteriosa Sra. Ella Purdy (Karen Black, de “A Mansão Macabra”, 1976), é proprietária de uma pensão onde vivem beneficiários da Previdência Social, cujos cheques pagos pelo governo americano são depositados mensalmente em sua conta bancária. Entre os pensionistas estranhos, temos o escritor Sr. Balzac (Michael Berryman, de “Quadrilha de Sádicos”, 1977), um homem bizarro que gosta de observar os quartos vizinhos por orifícios secretos nas paredes; a sensitiva Vanya (Martine Beswick, de “Mulheres Pré-Históricas”, 1967), que gosta de realizar sessões espíritas; e o bêbado inveterado Willie (Mikel Angel, que também é o roteirista do filme), que é o responsável por algumas situações cômicas por causa do excesso de consumo de álcool. Temos ainda a bela jovem Tina (Debra Lamb), que é muda e fica dançando o tempo todo mostrando seu corpo escultural, e o casal de idosos recém chegados, John e Janet Wilson (Bert Remsen e Virginia Mayo, respectivamente), que logo se sentem desconfortáveis na nova moradia.
Os problemas se iniciam na ocorrência de assassinatos sangrentos na pensão, com os cadáveres sendo enterrados no quintal, exalando um odor pútrido que desperta a atenção de uma vizinha interpretada pela veterana Yvette Vickers (de bagaceiras divertidas dos anos 50 como “A Mulher de 15 Metros” e “O Ataque das Sanguessugas Gigantes”). O desaparecimento dos pensionistas também intriga o fiscal da previdência social Lester Potts (Arte Johnson), que decide fazer uma investigação particular.
“Espíritos do Demônio” é somente outro filme comum com mortes misteriosas e razoáveis doses de sangue com olhos perfurados, gargantas dilaceradas e golpes de machado na cabeça. A história não tem novidades e pelo contrário, está repleta de clichês e previsibilidade, características que inevitavelmente condenam o filme ao esquecimento. Porém, existe um diferencial que é o elenco de veteranos, pois além dos já citados na sinopse, ainda conta com nomes como Robert Quarry, que esteve em vários filmes preciosos como “Conde Yorga, Vampiro” (1970), “A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes” (1972) e “A Casa do Terror” (1974). E Anthony Eisley, que fez apenas uma ponta como um detetive da polícia, e esteve nas divertidas tranqueiras “A Mulher Vespa” (1959), “Os Monstros da Noite” (1966), “Jornada ao Centro do Tempo” (1967) e “Dracula vs. Frankenstein” (1971).        
(RR – 18/02/17)
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* A Hora do Terror (1995)
Na época do mercado de vídeo VHS no Brasil foram lançadas muitas porcarias em nossas locadoras. Uma delas foi o sétimo filme de uma extensa série de tranqueiras cujo nome nos Estados Unidos é “Witchcraft”. Com o subtítulo original de “Judgement Hour”, aqui recebeu o título de “A Hora do Terror” (1995), um fato que apenas reforça a incrível a falta de criatividade dos responsáveis pela escolha dos nomes para distribuição no Brasil, contribuindo para confundir e dificultar um trabalho de catalogação ou a pesquisa dos colecionadores de filmes de horror. Cuidado para não se enganar com outro filme lançado por aqui com o mesmo nome, “The Midnight Hour” (1985).
Dirigido por Michael Paul Girard, que também fez a parte 9 da série (1997), temos uma história básica sobre vampirismo, totalmente inexpressiva, com clichês cansativos, previsibilidade, piadas idiotas, efeitos toscos e muitas cenas com mulheres peladas, que é a principal característica da imensa série. Poderíamos até interpretar que “Witchcraft” é uma série de filmes eróticos com elementos de horror.
Um obscuro empresário romeno tem a intenção de tomar o controle dos bancos de sangue nos Estados Unidos, enquanto belas mulheres são assassinadas apresentando estranhas marcas no pescoço. As misteriosas mortes despertam a atenção de um advogado, Will Spanner (David Byrnes) e de uma dupla de policiais de Los Angeles, os detetives Lutz (Alisa Christensen) e Garner (John Cragen), que partem para uma investigação, descobrindo as atividades de um antigo vampiro.
Nada se salva nesse filme, que é o exemplo típico de tranqueira descartável que não diverte e somente consegue depreciar ainda mais o gênero. O cinema de horror é tão maltratado com filmes ruins e a série “Witchcraft” contribui significativamente para denegrir essa imagem. O mais importante para uma chance mínima de sucesso num filme é a existência de um bom roteiro. Em “A Hora do Terror”, a história é péssima e os atores são inexpressivos. É apenas um filme com belas mulheres sem roupas. E talvez, citaríamos o vampiro transformado numa criatura tosca no ato final, devido exclusivamente aos efeitos extremamente bagaceiros.
Curiosamente, a série “Witchcraft” tem treze filmes produzidos pela “Vista Street Entertainment” e foi anunciado o lançamento de mais outros três. Alguns deles foram distribuídos pela “Troma”. O personagem Will Spanner aparece em quase todos eles, interpretado por vários atores diferentes. A parte 5 foi lançada em DVD no Brasil com o título “Dançando Com o Mal” (Witchcraft V: Dance With the Devil, 1993), que saiu em 2004 num DVD lançado em bancas de jornais e revistas num mesmo disco, junto com outro filme, “A Lenda da Múmia” (The Legend of the Mummy, 1997).
(RR – 26/02/17)
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* A Maldição da Casa do Diabo (1979)
O cultuado escritor americano Edgar Allan Poe (1809 / 1849) teve uma grande quantidade de seus contos transformados em filmes. “A Queda da Casa de Usher” é uma das histórias mais filmadas, com diversas versões. Entre as principais temos a produção francesa muda em preto e branco “La chute de la maison Usher”, dirigida por Jean Epstein em 1928, e a preciosidade “A Casa de Usher”, também conhecido por aqui como “O Solar Maldito” (1960), dirigido por Roger Corman e com o lendário Vincent Price. Porém, temos também outra versão, produzida especialmente para a televisão em 1979, fazendo parte do programa “Classics Illustrated”, sobre grandes obras literárias adaptadas para filmes, que recebeu o sonoro nome no Brasil de “A Maldição da Casa do Diabo” (The Fall of the House of Usher) quando lançado em vídeo VHS pela “Alvorada”.
Com direção de James L. Conway, essa versão televisiva apresentava o grande ator Martin Landau, dono de um currículo imenso com quase 180 filmes, no papel de Roderick Usher, um dos últimos remanescentes de uma antiga família proprietária de uma mansão gótica amaldiçoada, localizada numa região inóspita e evitada por todos chamada “Ravenshead Lake”, com um lago de águas podres, sem vida, cercado por uma floresta morta envolta em névoa espessa, transmitindo medo e insegurança constantes.
Com história ambientada em 1839, Roderick Usher é um homem portador de uma doença misteriosa hereditária e incurável que o torna extremamente sensível nos cinco sentidos, enfrentando dolorosas torturas por causa de ruídos e claridades, vivendo a maior parte do tempo enclausurado em seu quarto. Ele vive com sua irmã Madeleine (Dimitra Arliss), também terrivelmente doente e sofrendo de insanidade. A mansão centenária esconde segredos obscuros do passado da família Usher, envolvendo práticas de magia negra, bruxaria, idolatria satânica, rituais demoníacos, torturas e sacrifícios humanos, e suas imensas estruturas de pedra e madeira estão decadentes, mal conservadas, cheias de enormes rachaduras e em constante movimentação, ameaçando cair o tempo todo (daí o título do filme). Além deles, também é morador o mordomo Thaddeus (Ray Walston), que faz de tudo no mausoléu macabro, desde cozinhar até inspecionar as diversas salas e quartos imensos, com direito a passagens e túneis secretos para todos os lados. Seus antepassados sempre serviram a obscura família Usher, e ele sente-se preso ao sinistro lugar.
Para tentar ajudá-lo a impedir a queda da casa, Roderick chama seu único amigo de infância e que se formou em arquitetura e engenharia, Jonathan Cresswell (Robert Hays), que decide visitá-lo juntamente com sua recém esposa Jennifer (Charlene Tilton). Porém, após a chegada do casal as coisas sem complicam, a saúde dos irmãos amaldiçoados piora, a loucura se instaura no ambiente, passando uma atmosfera de horror, e mesmo com as tentativas de reforçar as estruturas da casa, suas paredes tremem assustadoramente, ameaçando a vida de todos.
Só pela história inspirada na obra de Edgar Allan Poe (mesmo já filmada várias vezes) e pela presença do ator Martin Landau, já vale a conferida desse filme que é especialmente indicado para os fãs do cinema de horror gótico, com o clima característico das produções inglesas da “Hammer”. Essa versão de “A Queda da Casa de Usher”, com esse título nacional oportunista envolvendo as palavras “maldição” e “diabo” no nome, não é tão famosa e cultuada quanto principalmente a versão da dupla dinâmica formada pelo cineasta Roger Corman e o ator Vincent Price. Porém, a diversão está garantida com todos os elementos típicos do horror gótico, e pela interessante história de loucura e maldição familiar. Com carruagens, floresta fantasmagórica, aldeões supersticiosos, mansão assombrada, ambientes escuros iluminados por velas, vultos ameaçadores ocultos nas sombras, gemidos agonizantes, mortos que levantam do caixão, instrumentos medievais de tortura usados para matar, e atmosfera sufocante do poder das trevas. 
“Todo ato abominável de degradação e horror, aconteceu aqui neste vil abismo do pecado” – Roderick Usher, sobre uma sala secreta para a prática de magia negra.       
 (RR – 27/02/17)
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* A Maldição de El Diablo (1989)
Algumas coisas são melhores deixadas sozinhas
A frase acima é uma tradução literal de uma tagline promocional do filme “A Maldição de El Diablo” (The Evil Below, 1989), e podemos alterar para algo como “Alguns filmes são tão descartáveis que não valem a pena assistir”. Lançado em vídeo VHS em nosso mercado pela “Top Tape”, o filme foi dirigido por Jean-Claude Dubois, em seu único trabalho.
Max Cash (Wayne Crawford) tem um barco e leva turistas para pescar em alto mar, auxiliado pela jovem assistente Tracy (Sheri Able). Endividado, ele aceita o convite de uma bela mulher, a professora de Arte Sarah Livingstone (June Chadwick), para alugar seu barco por uma semana na tentativa de localizar um suposto tesouro perdido num navio espanhol que naufragou em 1683. O navio carregava artefatos religiosos roubados por um grupo de padres hereges renegados do catolicismo, inspirados por Lucifer. Por causa disso, o navio afundado, conhecido por “El Diablo” (do título nacional), tinha fama de amaldiçoado e seu paradeiro no fundo do mar era desconhecido e protegido por um misterioso guardião sobrenatural, Adrian Barlow (Ted Le Platt). 
A ideia central do roteiro nem é tão ruim, com potencial para uma boa história. Porém, não é o que acontece com “A Maldição de El Diablo”, cujo título original numa tradução literal seria algo como “O Mal Abaixo”. O filme é arrastado e quase sem elementos de horror, perdendo a oportunidade de explorar melhor a lenda de um navio satânico maldito e as conseqüências para todos que se atreviam a tentar roubar seus tesouros. Tem poucas mortes e sangue, quase sempre fora da tela, e a parte “mistério sobrenatural” não consegue empolgar, num inevitável convite ao sono.
Curiosamente, no mesmo período foram lançados vários filmes com temática sub-aquática como por exemplo “Abismo do Terror” (Deep Star Six), de Sean S. Cunningham, e “Leviathan”, de George P. Cosmatos, que pelo menos divertem muito mais que a bagaceira analisada nesse breve texto.   
“Convém não mexer em certas coisas, senão você morre misteriosamente” – tagline promocional da fita VHS lançada no Brasil. Acho que ficaria melhor assim: “Convém não ver esse filme, senão você pode dormir de tédio.”
(RR –01/04/17)
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* A Maldição dos Espíritos (1990)
A frase acima é uma junção de duas taglines originais promocionais do filme “A Maldição dos Espíritos” (Spirits, 1990), lançado no mercado brasileiro de vídeo VHS pela “Carat Home Video”. A direção é do veterano Fred Olen Ray, dono de um currículo imenso repleto de bagaceiras, e o elenco é liderado por Erik Estrada, da cultuada série de TV “CHiPs” (1977 / 1983), e por Robert Quarry, conhecido por vários filmes preciosos de horror como “Conde Yorga, Vampiro” (1970), “A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes” (1972) e “A Casa do Terror” (1974).   
A história é manjada e já vista várias vezes em outros filmes. Um grupo de estudiosos de fenômenos paranormais vai investigar uma casa assombrada que tem um passado sinistro de mortes violentas. A equipe de investigação é formada pelo cientista Dr. Richard Wicks (Robert Quarry), a psicóloga descrente Beth Armstead (Kathrin Middleton), a médium sensitiva Amy Goldwin (Brinke Stevens, veterana atriz com carreira de mais de 150 créditos de tranqueiras diversas), e pelo membro da “Sociedade de Preservação Histórica” Harry Matthias (Oliver Darrow). O objetivo do grupo é obter provas da existência de espíritos (daí o título original), de vida após a morte, baseando-se em relatos sobre atividades psíquicas misteriosas no local e que resultaram em assassinatos.
A casa existe desde 1901 e seu morador original foi um expatriado francês místico e ocultista, que realizava rituais satânicos com sacrifícios de jovens virgens. Enquanto eles enfrentam a ira dos espíritos malignos que assombram a casa, um padre católico, Anthony Vicci (Erik Estrada), está atormentado pela perda da fé e por ter cometido pecados com uma bela mulher que viveu na casa maldita, sendo constantemente perturbado com visitas de demônios femininos, obrigando-o a se juntar ao grupo de investigadores para tentar combater o mal que habita a casa.
Primeiramente, não dá para deixar de citar a escolha do nome nacional do filme, apelando para o manjado “Maldição” no título, somando-se às dezenas de outros filmes que também tem essa palavra clichê em seus nomes, numa falta de criatividade imensa dos responsáveis por essa tarefa, os preguiçosos distribuidores dos filmes de horror que chegam ao Brasil.
“A Maldição dos Espíritos” é certamente um filme datado, nos remetendo imediatamente para os anos 80 e início de 90. Uma época sem a artificialidade da moderna computação gráfica, tanto que os efeitos das pessoas possuídas pelos espíritos malignos e demônios são tão toscos que divertem pela precariedade, com os atores maquiados e transformados em monstros. O filme tem um diretor de cinema bagaceiro, um nome associado ao gênero, e tem um elenco de atores cultuados pelos apreciadores de filmes de orçamentos menores. Apesar de que parece bem apelativa a exploração do nome de Erik Estrada, inclusive com um dos cartazes do filme estampando seu rosto, sendo que na verdade ele nem aparece tanto em cena, com o foco de boa parte das atenções para o grupo de estudiosos da casa assombrada.
O roteiro é um grande clichê, já explorado à exaustão pelo cinema de horror, onde podemos citar apenas por curiosidade os clássicos “Desafio ao Além” (The Haunting, 1963) e “A Casa da Noite Eterna” (The Legend of Hell House, 1973), com histórias muito similares, também apresentando um grupo de pesquisadores que investiga as atividades sobrenaturais de uma casa com fama de maligna.
Depois dessa breve análise, o que podemos dizer é que o filme é indicado para quem aprecia bagaceiras oitentistas e se diverte com efeitos toscos, histórias rasas, clichês comuns e atores com imagens associadas às produções de orçamentos reduzidos.
(RR –26/03/17)
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* A Marca do Vampiro (1990)
Lançado em VHS no Brasil pela “Sato Comunicações”, “A Marca do Vampiro” (Pale Blood, 1990) é um obscuro filme de vampirismo totalmente datado, nos remetendo ao período de transição entre as décadas de 80 e 90 do século passado, uma época sem as facilidades do celular, da internet e dos efeitos artificiais de computação gráfica. Tudo é datado, desde a atmosfera, figurinos e trilha sonora, com várias músicas da banda americana de punk rock “Agent Orange”.
Numa co-produção entre EUA e Hong Kong e com direção de V. V. Dachin Hsu e Michael W. Leighton, a história é sobre a chegada aos Estados Unidos de um misterioso homem vindo da Europa, Michael Fury (George Chakiris), atraído pela ocorrência de estranhos assassinatos em série de mulheres, que apresentavam sinais de mordidas no corpo e com o sangue drenado, como se fossem atacadas por um vampiro. Ele solicita ajuda para investigar os casos, contratando uma bela jovem, Lory (Pamela Ludwig), representando uma agência de detetives. Ela é aficionada pelo tema do vampirismo, consumindo filmes e livros sobre o assunto. Em paralelo, um videomaker esquisito, Van Vandameer (Wings Hauser), contrata duas dançarinas de boate, Jenny (Diana Frank) e Cherry (Darcy DeMoss) para participarem de um filme erótico, e misteriosamente ele sempre aparecia nas cenas dos crimes para captar imagens. Com os principais personagens apresentados, a ideia é descobrir a autoria das mortes sangrentas e a possível relação com as ações de um vampiro.
Primeiramente, vale registrar uma crítica na escolha do nome nacional, que poderia ser uma tradução literal do original, algo como “Sangue Pálido”, uma vez que já existia um filme chamado “A Marca do Vampiro” (Mark of the Vampire), de 1935 e com o ícone Bela Lugosi, confundindo os colecionadores e apreciadores do cinema fantástico, e dificultando ainda mais um trabalho de catalogação.
Esse “A Marca do Vampiro” de 1990 não apresenta nada que já não tenha sido visto à exaustão em filmes de vampirismo, e sua existência praticamente significa apenas mais um produto dentro do tema e que foi criado para permanecer no limbo do esquecimento. A presença do ator canastrão Wings Hauser, um rosto conhecido em uma infinidade de produções bagaceiras, pode até ser um convite para conhecer o filme, mas a narrativa arrastada e os clichês por outro lado tendem a afastar o espectador.
Curiosamente, no quarto da jovem investigadora Lori, consumidora de produtos relacionados ao vampirismo, podemos notar a exibição do clássico “Nosferatu” (1922) na televisão, além de posters de cinema nas paredes, com destaque para uma foto do ator Bela Lugosi caracterizado como “Drácula” e o cartaz francês do filme “O Beijo do Vampiro” (Kiss of the Vampire, 1963) da lendária produtora inglesa “Hammer”. 
(RR –03/04/17)
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* A Morada do Terror (1988)
Com direção de Peter Rader, “A Morada do Terror” (outro título nacional oportunista e sem relação com o original) é de 1988 e foi lançado por aqui em VHS pela “Transvídeo”. A produção é do grego Nico Mastorakis, que também é conhecido pela direção de outras bagaceiras dos anos 1970 e 80 como “A Ilha da Morte” (1976),  “A Próxima Dimensão” (1984) e “The Zero Boys” (1986).
Depois da morte do pai dos irmãos adolescentes David (Eric Foster) e Lynn (a bela Kim Valentine), eles vão morar com seus avós numa casa de campo (daí o nome original “A Casa da Vovó”). São bem recebidos pelo avô (Len Lesser) e a avó (Linda Lee), mas depois que o garoto David testemunha um movimento suspeito deles com uma misteriosa e estranha mulher (a “scream queen” Brinke Stevens), ele passa a se sentir inseguro e desconfia que seus parentes mais velhos possam estar envolvidos em assassinatos.
Qualquer informação adicional pode ser considerada “spoiler” e comprometer a diversão do espectador, pois o filme é cheio de reviravoltas e revelações importantes ao longo da história. Temos um clima constante de suspense que consegue manter a atenção, apesar de que algumas situações inverossímeis ocasionalmente atrapalham o resultado final. Alguns personagens desaparecem por um tempo e reaparecem depois, numa manobra propícia para facilitar o trabalho do roteirista, porém prejudicando a coerência da história.
O filme tem pouco sangue, as mortes são discretas e as cenas de golpes com faca e machado não evidenciam o líquido vermelho, com as lâminas limpas mesmo após penetrarem repetidas vezes nos corpos das vítimas, numa falha grosseira que minimiza o grau de violência. Mas, ainda assim, “A Morada do Terror” consegue despertar o interesse com as reviravoltas na descoberta da verdade. A dupla de atores adolescentes cumpre bem o papel, principalmente o garoto Eric Foster, assumindo uma posição importante na história tentando entender a postura sinistra de seus avós e a real identidade da mulher misteriosa que surge para aterrorizar a casa. E o veterano ator Len Lesser (1922 / 2011) também se destaca no papel do avô com segredos obscuros do passado, numa interpretação assustadora e convincente.       
(RR –09/04/17)
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* A Morte Veste Vermelho (1990)
 “A Morte Veste Vermelho” é um filme que tem direção de Tobe Hooper, um cineasta com nome reconhecido no gênero principalmente pelo eterno clássico “O Massacre da Serra Elétrica” (1974). O elenco é formado, entre outros, por Anthony Perkins, o psicopata Norman Bates de “Psicose”, e Dee Wallace-Stone, atriz veterana e um rosto conhecido por preciosidades dos anos 80 como “Grito de Horror”, “E.T. – O Extraterrestre”, “Cujo” e “Criaturas”. Lançado em nosso mercado de vídeo VHS pela “CIC”, o filme realmente desperta a atenção por essas credenciais e só por esses nomes no projeto já valeria uma conferida. Mas, fora isso, não deixa de ser apenas mais um filme mediano de horror, produzido diretamente para a televisão, que diverte ligeiramente sem muita exigência.
Um caixão misterioso que era utilizado em rituais de sacrifícios humanos pelos antigos astecas é comprado ilegalmente por um museu. Em seu interior repousa a múmia de um sacerdote maligno, vestindo um manto cerimonial vermelho com poderes sobrenaturais. Após um incidente com morte, o manto vermelho vai parar dentro de um baú que foi comprado numa venda de garagem pela bela estudante Amy O´Neill (Madchen Amick), namorada do colega de escola Eddie (Corey Parker). Depois de transformado num belo vestido, aos poucos a jovem vai descobrindo que o estranho tecido vermelho exerce forte influência na personalidade das pessoas que o vestem, despertando agressividade e tendências assassinas em seus usuários.
Entre as vítimas gananciosas do manto estão Gloria (Daisy Hall), prima de Amy, e Wanda Thatcher (Dee Wallace-Stone), uma mulher envolvida com bebidas, drogas e prostituição e que se aproveita do vestido sobrenatural para se afundar ainda mais na criminalidade. Os assassinatos misteriosos despertam a atenção da polícia, sob a investigação do Capitão Ackman (R. Lee Ermey), que sempre está fumando, e também a curiosidade do sinistro Prof. Gordon Buchanan (Anthony Perkins), que está interessado no “Animismo” (a crença que objetos inanimados possuem uma essência espiritual), e consequentemente nos eventuais poderes do misterioso manto vermelho, com sua história sobre violência e mortes sangrentas.
Quem combate monstros deve se cuidar para não virar monstro. Quando você olha um abismo, o abismo também olha para você.” – Friedrich Nietzsche (1844 / 1900)
Dessa vez parece que o título nacional escolhido é até melhor que o original. “A Morte Veste Vermelho” soa bem e tem relações coerentes com a história, funcionando bem melhor que “I´m Dangerous Tonight”, que numa tradução literal seria “Eu Estou Perigoso(a) Esta Noite”, um título mais comum e sem impacto. O filme tem o diferencial pela direção de Tobe Hooper e elenco com Dee Wallace-Stone e Anthony Perkins, mas isso não é suficiente para torná-lo especial. A história, baseada num conto de Cornell Woolrich, até tem seus interesses, mas o resultado final é mediano, principalmente pelas doses discretas de violência. O desfecho apresenta um gancho que até poderia ser explorado para uma sequência, mas a ideia foi descartada.
(RR –12/04/17)