Comentários de Cinema - Parte 21

Filmes abordados:

Beijo do Vampiro, O (The Kiss of the Vampire, Inglaterra, 1963)
Chupacabra (Chupacabra vs. The Alamo, Canadá, 2013)
Cyborg – O Dragão do Futuro (Cyborg, EUA, 1989)
Deusa da Cidade Perdida, A (She, Inglaterra, 1965)
Fim do Amanhã, O / No Limite da Salvação (Age of Tomorrow, EUA, 2014)
Górgona, A (The Gorgon, Inglaterra, 1964)
Independence Daysaster (Canadá, 2013)
Mil Séculos Antes de Cristo (One Million Years B.C., Inglaterra, 1966)
Usina de Monstros (Quatermass 2 / Enemy From Space, Inglaterra, 1957, PB)


* O Beijo do Vampiro (1963) – A produtora inglesa “Hammer” tem em seu vasto catálogo vários filmes de vampirismo, muitos deles com a dupla Christopher Lee e Peter Cushing liderando os elencos. Mas, também tem filmes sem a presença desses astros, como “O Beijo do Vampiro”, que traz Clifford Evans no papel do caçador de vampiros e Noel Willman no papel do líder de uma seita vampírica. A direção é do australiano Don Sharp, de “Rasputin – O Monge Louco” (66), e o roteiro é de autoria do produtor Anthony Hinds, utilizando o pseudônimo John Elder. A história é ambientada no início do século XX, onde um casal em lua de mel, Gerald Harcourt (Edward de Souza) e Marianne (Jennifer Daniel), está viajando de carro por estradas remotas da Alemanha quando a falta de gasolina os obriga a se hospedar num decadente hotel pouco frequentado. Os proprietários são um casal de idosos formado por Bruno (Peter Madden) e Anna (Vera Cook), que dizem que não recebem hóspedes há muito tempo e apenas um dos quartos está ocupado. O outro hóspede é o Prof. Zimmer (Clifford Evans), um homem rude e alcoólatra, estudioso de ocultismo e que está na região com objetivos misteriosos investigando as atividades de uma família que vive num imenso castelo vizinho. O sinistro e refinado cientista Dr. Ravna (Noel Willman) é o dono do imponente mausoléu de pedra, onde vive com um casal de filhos, Carl (Barry Warren) e Sabena (Jacquie Vallis). Os jovens viajantes são então convidados para uma festa no castelo e não imaginariam que no local existe um culto vampírico liderado pelo Dr. Ravna, exilado de sua cidade natal devido uma falha num de seus experimentos científicos, e que ficou encantado com a beleza de Marianne, desejando o seu ingresso na sociedade secreta de sugadores de sangue. Mesmo sem os tradicionais “Drácula” e “Prof. Van Helsing”, “O Beijo dos Vampiros” é mais uma preciosidade da “Hammer” dentro da temática dos vampiros humanos, seres bestiais que se alimentam do sangue de outros humanos. A narrativa é lenta, com uma atmosfera gótica e de horror sutil, sem violência e com pouca exposição de sangue, mas com as tradicionais características do estilo tão cultuado pelos fãs do estúdio, com um castelo tétrico, um baile com máscaras sinistras e bizarras de gelar a espinha, aldeões vivendo em constante medo, lindas vampiras sedutoras e um culto vampírico secreto. Tem até um ataque de dezenas de morcegos (de borracha e manipulados por barbantes) invocados num ritual de magia negra pelo Prof. Zimmer, contra os discípulos da seita do Dr. Ravna, numa similaridade com o ataque dos pássaros no filme de Alfred Hitchcock lançado no mesmo ano de 1963. Com direito a toques de erotismo de belas mulheres vampiras sendo sugadas pelos morcegos. Curiosamente, o filme teve uma versão americana estendida, produzida para a televisão, com o acréscimo de mais personagens e que recebeu o título de “Kiss of Evil”. “O Beijo do Vampiro” é o terceiro filme de vampirismo da “Hammer” em ordem cronológica, sucedendo “O Vampiro da Noite” (58), com a dupla Lee e Cushing, e “As Noivas do Vampiro” (60), com Cushing sozinho. (RR – 06/06/15)

* Chupacabra (2013) – O canal de TV a cabo “SyFy” é voltado para filmes de ficção científica e horror. Seu slogan é “SyFy – Imagine Mais”. Mas, o ideal seria algo como “Imagine filmes ruins e no SyFy eles são piores ainda”. É o cinema fantástico bagaceiro do século XXI, com histórias fracas, elenco inexpressivo, CGI vagabundo, produção tosca, e tudo com uma roupagem moderna. Se essas tranqueiras serão cultuadas no futuro, somente o tempo dirá, mas o que certamente podemos dizer agora, é que são filmes péssimos e o espectador precisará ser muito paciente e pouco exigente para tentar conseguir alguma diversão, mesmo que em pequenas e logo esquecíveis doses. Dirigido por Terry Ingram, “Chupacabra” tem a curiosidade da presença na liderança do elenco do veterano Erik Estrada, o policial rodoviário Frank Poncherello da série de TV “CHiPs” (1977 / 1983), que foi exibida à exaustão na televisão brasileira. O ator faz o papel do policial da divisão de narcóticos, agente Carlos Seguin, na pequena cidade americana de San Antonio, no Estado do Texas, divisa com o México. Inclusive, provavelmente servindo de homenagem ao ator e à série de TV, temos várias cenas gratuitas com ele dirigindo uma bela e imponente moto, com direito até a uma acrobacia saltando sobre um canteiro de obras. Junto com a nova parceira, Tracy Taylor (Julian Benson), ele recebe a missão de investigar as mortes misteriosas e de forma sangrenta de um grupo de traficantes de drogas. Descobrindo mais tarde que a responsabilidade dos assassinatos é de um bando imenso de “chupacabras”, uma lenda urbana que virou realidade, animais mutantes e nômades, misto de cachorros e coiotes, que invadem a cidade à procura de comida, encontrando nos seres humanos a carne e o sangue para saciarem sua fome. A dupla de policiais forma uma improvável aliança com um grupo de arruaceiros rebeldes, e fortemente armados, partem para o combate contra a invasão da horda de “chupacabras” que já fizeram dezenas de vítimas. Culminando num confronto decisivo dentro do histórico Forte Álamo (daí o título original), que no passado teve importância relevante na guerra entre Estados Unidos e México pela posse do Texas. A invasão de uma pequena cidade por animais enfurecidos ou criaturas sobrenaturais é a já conhecida e largamente explorada premissa básica do filme. Dentro desse clichê, ainda temos um elenco patético, com exceção talvez para a nostalgia da presença de Erik Estrada, somado com uma história despreocupada com lógica ou coerência, e efeitos tão vagabundos de computação gráfica que obviamente não convencem. São “chupacabras” aparecendo por todos os lados, sendo abatidos por tiros, e atacando os humanos como cachorros raivosos. É verdade que tem bastante sangue, com mortes violentas, mas com uma artificialidade que não funciona. Ainda tem os comentários patéticos no meio do caos e o desfecho previsível onde facilmente sabemos quem serão os sobreviventes e os vitoriosos da batalha. Mais um filme descartável exibido pelo canal “SyFy”, que deveria “imaginar” que seus espectadores gostariam de ver filmes melhores. (RR – 05/07/15)

* Cyborg – O Dragão do Futuro (1989) – Com produção da saudosa “Cannon”, de Menahem Golan e Yoram Globus, direção de Albert Pyun e com o ator belga Jean-Claude Van Damme, especialista em artes marciais, “Cyborg – O Dragão do Futuro” é um filme de ação e porradaria com elementos de ficção científica, na ambientação de um mundo pós-apocalíptico, devastado por uma peste. Além da presença de uma cyborg, numa mistura de mulher e máquina, carregando uma informação vital para a cura da doença que assola a civilização em decadência. Van Damme é Gibson Rickenbacker, um homem que vaga pela cidade destruída de New York, num mundo selvagem em ruínas à procura de vingança pessoal contra um pirata chamado Fender Tremolo (o neo-zelândes Vincent Klyn), que lidera uma gangue que espalha terror e violência para os poucos sobreviventes do caos, e que tentam sobreviver num mundo desolado. Ele encontra em seu caminho uma moça guerreira, Nady Simmons (Deborah Richter), e juntos partem em busca dos piratas, que sequestraram uma mulher cyborg, Pearl Prophet (a canadense Dayle Haddon), que possui uma informação essencial que pode curar a praga que assola a humanidade. Eles estão levando-a para a cidade de Atlanta, onde estão os últimos médicos e cientistas que podem evitar a extinção da humanidade. A intenção do maníaco Fender é tornar-se um ditador sanguinário com o poder da cura da peste nas mãos, e até chegarem ao destino final, o caminho de sua gangue e do lutador Gibson se cruzará muitas vezes em confrontos violentos. A história futurista é bem simples, com poucos diálogos (o personagem de Van Damme quase não fala, só distribui porradas), muitas lutas, tiroteios, perseguições e selvageria num mundo pós-apocalíptico. E nem precisa de explicações e conversas fúteis, pois o mundo está em colapso, destruído pela anarquia, genocídios e fome, e uma praga está dizimando o que restou da civilização humana, o que pode ser resumido num breve diálogo entre o monossilábico Gibson e a guerreira Nady:
- Já está acostumado? – pergunta a moça.
- Com o quê?
- A matança.
- Eu não fiz o mundo – responde o áspero Gibson.
- Não. Apenas vive nele.
O filme é até divertido dentro de sua proposta simples de mostrar pancadaria desenfreada e muita gritaria num ambiente futurista de desolação. Van Damme é um daqueles atores com imagem totalmente associada aos filmes de lutas, e que mesmo tentando fazer papéis um pouco diferentes, sempre será lembrado pelas produções de ação e porradas. Em “Cyborg”, sua escolha para o papel principal veio depois de atuar em outros dois filmes similares anteriores, “Retroceder Nunca, Render-se Jamais” (No Retreat, No Surrender, 1986) e “O Grande Dragão Branco” (Bloodsport, 1988), que lhe trouxeram notoriedade dentro do estilo que já tinha atores mais conhecidos como Chuck Norris, sem contar astros mais famosos como Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Curiosamente, vieram em seguida outros três filmes dentro desse universo ficcional: “Cyborg 2: Glass Shadow” (1993), “Cyborg 3: The Recycler” (1994) e “Cyborg Nemesis” (2014). O roteiro de “Cyborg – O Dragão do Futuro” também é do diretor Albert Pyun, usando o pseudônimo Kitty Chalmers, e foi criado a partir do cancelamento da produção de “Masters of the Universe 2 – The Cyborg”, utilizando os vestuários e cenários idealizados para a sequência inexistente de “Mestres do Universo” (1987), com Dolph Lundgreen. (RR – 05/06/15)

* A Deusa da Cidade Perdida (1965) – A produtora inglesa “Hammer” é normalmente lembrada por seus filmes de horror gótico, mas também fazem parte de seu catálogo histórias de aventura com elementos de fantasia, como “A Deusa da Cidade Perdida” (1965), com direção de Robert Day e roteiro de David T. Chantler, baseado em livro de H. Rider Haggard. E no elenco ainda temos a dupla Peter Cushing e Christopher Lee, e eles atuam ao lado da estonteante atriz suiça Ursula Andress, a “deusa” do título nacional. Na Palestina de 1918, um arqueólogo a serviço do exército inglês, Major Horace L. Holly (Peter Cushing), juntamente com seu fiel mordomo Job (Bernard Cribbins) e o jovem amigo aventureiro Leo Vincey (John Richardson), tentam descansar num bar dançante, bebendo, conversando e se divertindo com as belas mulheres locais. Porém, a incrível semelhança física de Leo com uma imagem num medalhão antigo, desperta uma atenção especial e ele recebe um anel precioso e um mapa para localizar a misteriosa cidade faraônica de Kuma, perdida no vasto deserto em direção à África. Os três amigos montam uma pequena expedição com a esperança de encontrar a cidade e possíveis tesouros. Kuma é governada com tirania por uma linda e sobrenatural mulher chamada Ayesha (Ursula Andress), que tem o poder de imortalidade, e que conta com o apoio do sumo sacerdote Billali (Christopher Lee) para manter a ordem e obediência com os escravos. Ela acha que Leo pode ser a reincarnação de seu amado companheiro de séculos atrás, Callicrates, oferecendo-lhe a oportunidade de vida eterna com poder e riquezas. O filme é uma típica aventura com fantasia, daquelas que eram exibidas com frequência na saudosa “Sessão da Tarde” da TV Globo. O tema de “cidade perdida” costuma despertar a curiosidade, instigando a imaginação sobre as lendas de civilizações escondidas. Peter Cushing, como sempre, lidera o elenco com seu talento característico, e Christopher Lee aparece menos, ficando com um papel secundário, mas sua presença sempre é motivo de interesse. E tem a beleza de Ursula Andress, no auge da carreira na época, após atuar com Sean Connery no filme do agente secreto 007 em “O Satânico Dr. No” (1962). O escritor Henry Rider Haggard é conhecido por suas histórias de aventuras que inspiraram muitos filmes como “As Minas do Rei Salomão” (1985) e “Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido” (1986), ambos com Richard Chamberlain. Além de “She”, que recebeu inúmeras outras versões no cinema. “A Deusa da Cidade Perdida” teve uma sequência em 1968, “A Vingança da Deusa” (The Vengeance of She), também com produção da “Hammer”. (RR – 20/06/15)

* O Fim do Amanhã (2014) – A produtora americana “The Asylum” é conhecida por seus filmes tranqueiras de ficção científica e horror, com roteiros ridículos, atores inexpressivos e efeitos especiais vagabundos. São produções baratas feitas em pouco tempo sem qualquer tipo de preocupação com lógica, verossimilhança ou qualidade. O importante é produzir em quantidade e descarregar seus filmes em lançamentos em DVD e exibições na televisão, como o canal a cabo “SyFy”, especializado no gênero. Podemos considerar como o “cinema bagaceiro do século XXI”, que se hoje é ruim demais e um exercício de coragem e excesso de tolerância para conseguir assistir, pode ser que daqui meio século essas porcarias até sejam cultuadas, justamente por suas características bagaceiras. Assim como atualmente temos uma legião de apreciadores dos filmes tranqueiras com roteiros absurdos e efeitos toscos produzidos em imensa quantidade a partir de meados do século passado. “The Asylum” também é conhecida por descaradamente e assumidamente copiar o nome, a ideia central e partes das histórias de filmes com orçamentos milionários, aproveitando o sucesso comercial dos chamados “blockbusters”. Eles lançam em pouco tempo as suas versões fuleiras desses filmes de grandes bilheterias, que ganharam o nome pejorativo “mockbusters”. Dentro desse princípio, a produtora oportunista fez “O Fim do Amanhã” (Age of Tomorrow), dirigido por James Kondelik, e que também ganhou o título no Brasil de “No Limite da Salvação”, quando exibido pelo canal de TV “SyFy” (algo típico em nosso país, que costuma criar vários nomes para os filmes, confundindo e dificultando um trabalho de pesquisa e catalogação). No caso, o plágio é para o ótimo “No Limite do Amanhã” (Edge of Tomorrow), com o astro Tom Cruise. Na cópia picareta, um grande asteróide está em rota de colisão com a Terra, obrigando o exército, sob o comando do General Magowan (Robert Picardo), com o auxílio do Coronel Mac (Mitchell Carpenter), a organizar uma equipe para uma missão que viajaria até o asteróide a bordo de um foguete e tentaria explodir partes dele, desviando sua rota. A equipe é liderada pelo Capitão James Wheeler (Anthony Marks), que conta com a ajuda da cientista Dra. Gordon (Kelly Hu), entre outros. Lá chegando, eles encontram uma caverna e em seu interior uma sala de controle com um portal tecnológico de teleporte para outro planeta, descobrindo que o asteróide é apenas uma ponte para uma invasão alienígena. Enquanto isso, numa trama paralela, na Terra as pessoas estão sendo atacadas por máquinas fortemente armadas e um bombeiro metido a herói (típico dos americanos), Chris Meher (Lane Townsend), se junta ao militar Major Blake (Nick Stellate) para combater a ameaça do espaço e tentar encontrar sua filha no meio da confusão. Todos acabam se encontrando no planeta dos invasores e descobrem que eles estão abduzindo os humanos, mantendo-os prisioneiros e fazendo experiências. É inevitável um confronto mortal com eles com os heróis lutando pela continuidade da civilização humana. O filme foi rodado em Los Angeles, na California, em apenas quinze dias, o que dá para imaginar o resultado final, com a história sendo contada muito rapidamente, sendo impossível estabelecer qualquer tipo de empatia com os personagens, que são fúteis ao extremo. Tudo é bagaceiro demais, desde o elenco patético ao CGI vagabundo. O bombeiro herói usa um machado como arma, desferindo golpes para todos os lados, destruindo as sondas robóticas que atacam a Terra e os alienígenas em seu planeta, e o machado está sempre limpo e impecável. As decisões estratégicas para definir o futuro da humanidade que está com risco de extinção por uma invasão alienígena, são todas tomadas por um único militar, pois o filme não tem orçamento para reunir uma conferência com representantes que definiriam melhor o destino de nosso mundo. “O Fim do Amanhã” é um filme tão descartável que nem mereceria ter tantas linhas nessa resenha. (RR – 07/06/15)

* A Górgona (1964) – A dupla de atores ícones do gênero Horror, Peter Cushing e Christopher Lee, estiveram juntos em vários filmes, agregando um valor inestimável ao gênero. Alguns destes filmes foram produzidos pelo cultuado estúdio inglês “Hammer”, e parte deles também teve a direção do especialista Terence Fisher, o principal cineasta da produtora. “A Górgona” (1964) reúne os três numa história com elementos góticos explorando um monstro da mitologia grega, com roteiro de John Gilling, a partir de uma história original de J. Llewellyn Devine. “Sobre a aldeia de Vandorf se ergue o Castelo Borski. Desde a virada do século, um monstro de tempos remotos chegou para viver lá. Ninguém que tenha se deparado com ele sobreviveu, e o espírito da morte ronda esperando sua próxima vítima.” Com essa narração, o filme tem início com uma ambientação no início do século XX numa pequena cidade alemã. O médico de um hospital psiquiátrico, Dr. Namaroff (Peter Cushing), tenta guardar um segredo envolvendo a ocorrência de mortes misteriosas na região durante a lua cheia, com os cadáveres literalmente petrificados, registrando atestados de óbito falsos e encobrindo a verdade. Sua assistente, a bela Carla Hoffman (Barbara Shelley), não se sente à vontade com o excesso de super proteção do médico. A polícia, representada pelo Inspetor Kanof (Patrick Troughton), está pressionada pelo contínuo insucesso na investigação dos misteriosos assassinatos, num ambiente que evidencia uma conspiração de silêncio e medo. Nesse cenário de mistério, as coisas complicam mais ainda após a chegada no vilarejo de Paul Heitz (Richard Pasco), que vem para investigar a morte de seu pai, o Prof. Jules Heitz (Michael Goodliffe), estudioso de mitologia grega e que morreu em circunstâncias estranhas. O jovem recém chegado se apaixona por Carla, que corresponde o seu interesse amoroso. Ele também solicita a ajuda de seu amigo Prof. Karl Meister (Christopher Lee), um conceituado acadêmico da Univedrsidade de Leipzig, para juntos tentarem descobrir o mistério por trás das mortes cujas vítimas foram transformadas em pedra. “Havia três horrendas irmãs monstruosas, as Górgonas. Seus nomes eram Tisifona, Medusa e Megera. Tinham serpentes vivas nas cabeças e cada uma delas era um tentáculo do cérebro diabólico que possuíam. Tão espantosas eram as Górgonas que todo aquele que as viam se convertia em pedra.” – anotações do Prof. Heitz, escritas momentos antes de morrer petrificado, revelando informações sobre a lenda de dois mil anos de uma mulher com cobras na cabeça e que poderia estar em atividade ao se apossar do corpo de outra mulher. Gosto pessoal é algo totalmente subjetivo, e no caso específico de “A Górgona” posso revelar que o filme está entre os meus preferidos da “Hammer”. Além da presença da dupla Cushing e Lee e do cineasta Terence Fisher, a ambientação gótica é bastante eficiente, com uma atmosfera sinistra constante, acentuada pelo castelo abandonado há meio século, envolto em névoa e cercado por árvores retorcidas e fantasmagóricas. E tem um monstro habitando suas ruínas decrépitas, a última das górgonas, que transforma suas vítimas em pedra. Apesar da concepção visual da górgona Megera (interpretada por Prudence Hyman) não ter agradado ao produtor Anthony Nelson Keys, que juntamente com Christopher Lee, revelou sua insatisfação com os efeitos toscos utilizados para simular as serpentes, e também pelos clichês inevitáveis da história, o filme ainda assim funciona muito bem como representante legítimo do estilo gótico e horror sugestivo da “Hammer”. Curiosamente, o grande ator Christopher Lee, que normalmente faz os papéis de vilão (com destaque para o eterno vampiro “Drácula”), assume o posto contrário em “A Górgona”, interpretando um influente professor que tenta desvendar os assassinatos misteriosos em Vandorf. E Peter Cushing, que na maioria das vezes está do lado que combate o mal, é agora o principal articulador de uma conspiração para abafar a real causa dos assassinatos, apesar de sua motivação ser passional. (RR – 28/06/15)

* Independence Daysaster (2013) – Típico exemplo do cinema bagaceiro do século XXI. Com produção canadense e direção de W. D. Hogan, de “Behemoth” e “Earth´s Final Hours” (ambos de 2011). Foi exibido pelo canal de TV a cabo “SyFy”, que ajudou na distribuição mundial. O título picareta já diz tudo, com uma história de invasão alienígena no comemorativo dia 04 de Julho nos Estados Unidos, data que lembra a sua independência. Curiosamente, o filme nem é americano, com seus vizinhos de cima demonstrando falta de imaginação, e optando por explorar um assunto que já é um clichê exaustivo. E o nome, com uma junção oportunista das palavras em inglês “Day” e “Disaster”, também nos remete ao anterior da década de 90 do século passado, com Will Smith, Bill Pullman e Jeff Goldblum, mais conhecido e produzido com muito mais dinheiro. Na história, uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos é destruída por imensas máquinas perfuradoras que saem debaixo do solo, com o apoio aéreo de pequenas sondas esféricas voadoras, equipadas com armas poderosas, e que estão em comunicação com uma imensa nave mãe estacionada perto da lua. Logo é revelada uma invasão extraterrestre em escala mundial, num ataque maciço com grande poder de destruição e caos global. Para combater a ameaça mortal dos alienígenas é lógico que temos um improvável time de heróis formado por cidadãos comuns que formarão a base da resistência. O bombeiro Pete Garcette (Ryan Merriman), que é irmão do Presidente americano Sam Garcette (Tom Everett Scott), encontra-se com Celia Lehman (Emily Holmes), uma técnica do programa “S.E.T.I.” (Procura por Inteligência Extraterrestre). Eles se juntam com um grupo de adolescentes que incluem o filho do Presidente, Andrew (Keenan Tracey) e sua namorada Eliza (Andrea Brooks), além de um casal de nerds especialistas em informática e invasão de sistemas de comunicação. O grupo descobre uma arma capaz de anular o funcionamento das sondas voadoras alienígenas e tenta avisar o exército num plano de retaliação contra os invasores. Patético do início ao fim, barulhento, sonolento, com elenco inexpressivo, CGI vagabundo e história entediante de tão previsível, carregada de ufanismo americano. Eles são os salvadores do mundo, nunca desistem, e nosso planeta sem a sua proteção certamente seria um alvo fácil para qualquer invasão alienígena. São tantos filmes medíocres que insistem nesse clichê que fica difícil criar algum tipo de sintonia com a história. O resultado acaba surtindo um efeito contrário, com o espectador impaciente obrigando-se a torcer pelo extermínio da humanidade e pelo sucesso dos invasores vindos do espaço. (RR – 14/06/15)

* Mil Séculos Antes de Cristo (1966) – Dentre as várias temáticas de filmes da produtora inglesa “Hammer”, existem aquelas ambientadas na pré-história, ou seja, aventuras com elementos de fantasia. “Mil Séculos Antes de Cristo” (1966) é um destes filmes, e que traz como diferencial a presença da belíssima Rachel Welch liderando o elenco ao lado de John Richardson (que esteve no anterior “A Deusa da Cidade Perdida”, 1965), além dos divertidos efeitos de “stop motion” do mestre Ray Harryhausen. A direção é de Don Chaffey (de “Criaturas Que o Mundo Esqueceu”, 1971, também da “Hammer”), e a história se passa num longínquo período no passado, onde humanos primitivos e dinossauros conviviam no mesmo ambiente hostil, num planeta Terra ainda em formação. E com muitos perigos que ameaçavam a sobrevivência dos seres vivos, desde a natural e impiedosa cadeia alimentar até a instabilidade do solo, com terremotos e erupções vulcânicas catastróficas. Nesse cenário, um dos homens primitivos, Tumak (John Richardson), é banido de seu grupo pelo próprio pai, o líder Akhoba (Robert Brown), sendo obrigado a explorar as regiões externas, deixando para trás sua antiga tribo, que vivia em cavernas. Após algumas aventuras perigosas e encontros com animais imensos interessados em sua carne, ele é acolhido por outra tribo, formada por homens e mulheres loiros, que também vivia em cavernas próximas ao mar, de onde tiravam parte de seu sustento com a pesca de peixes, além de um cultivo com agricultura rudimentar. Eles eram mais evoluídos, faziam pinturas nas paredes de pedra e fabricavam lanças pontudas para servir de armas na defesa contra os dinossauros e para facilitar a caça. Tumak desperta o interesse de uma bela moça, Loana (Rachel Welch). Porém, depois de uma briga, o intruso também é expulso do novo grupo, e Loana decide acompanhá-lo. Eles enfrentam juntos vários perigos e ameaças com ataques de dinossauros diversos, até reencontrarem a antiga aldeia de Tumak, gerando um confronto com o irmão rival Sakana (Percy Herbert), além de enfrentarem a devastadora erupção de um vulcão. Com apenas algumas frases de um narrador no início e grunhidos dos homens e mulheres pré-históricos no restante do filme, é inevitável o surgimento de certo desinteresse pela história. E o grande destaque despertando a atenção do espectador é o trabalho de “stop motion” de Ray Harryhausen, nas inúmeras cenas com dinossauros e monstros gigantes, tanto nos ataques aos humanos primitivos quanto nos confrontos entre si. Temos tartarugas, aranhas e lagartos gigantescos, sendo que no caso desse último, é um animal real filmado numa perspectiva que passa a sensação de gigante, uma técnica já utilizada em vários filmes anteriores como “Viagem ao Centro da Terra” (59), “O Gigante Monstro Gila” (59) e “O Mundo Perdido” (60). Além de primatas agressivos, criaturas voadoras e dinossauros de todos os tipos e tamanhos, todos ávidos por supremacia territorial, conquista de liderança e por saciar a fome com a carne dos rivais, incluindo no cardápio nossos antepassados. “Mil Séculos Antes de Cristo” é uma refilmagem de “O Despertar do Mundo”, filme americano de 1940 e com Victor Mature e Lon Chaney Jr, e que por sua vez também foi refilmado pela mesma “Hammer” em 1970 com “Quando os Dinossauros Dominavam a Terra” (When Dinosaurs Ruled the Earth), dirigido por Val Guest. (RR – 24/06/15)

* Usina de Monstros (1957) – O estúdio inglês “Hammer” ficou famoso e cultuado por seus inúmeros filmes coloridos de horror gótico. Porém, a produtora também tem em seu catálogo uma série de filmes em preto e branco com temática principal de Ficção Científica, lançados no final dos anos 50 do século passado, e que fazem parte de um conjunto de preciosidades daquele período especial do cinema fantástico. “Usina de Monstros” é um filme de invasão alienígena dirigido por Val Guest e com o ator irlandês Brian Donlevy (de “A Maldição da Mosca”, 1965) repetindo seu papel do cientista Quatermass, que também esteve em “Terror Que Mata” (The Quatermass Xperiment, 1955). Na história, o Prof. Quatermass está tentando obter recursos do governo para financiar seu projeto científico de uma complexa base lunar. Porém, não conseguindo sucesso na liberação de verbas, sua atenção é desviada para a misteriosa ocorrência da queda de inúmeros meteoritos. Indo até a região das quedas para estudar o fenômeno, na pequena cidade de Winnerden Flats, ele encontra uma fábrica imensa controlada por guardas fortemente armados e hostis, que utiliza a população do vilarejo como mão de obra para supostamente produzir comida sintética. Porém, depois que o cientista descobre que os estranhos objetos caídos do espaço possuem formatos aerodinâmicos que guardam em seu interior um gás venenoso composto de amônia, e mortal para os humanos, ele decide investigar junto com o inspetor de polícia Lomax (John Longden), o mistério por trás da usina. A qual curiosamente tem o formato similar ao seu projeto de colonização lunar e que trabalha de forma confidencial, parecendo esconder suas reais intenções. “Usina de Monstros” é uma ficção científica com elementos de horror situada dentro do sub-gênero de invasões alienígenas, ao apresentar uma conspiração secreta para a conquista de nosso mundo por um gigantesco organismo amorfo formado por milhões de partículas inteligentes com uma só consciência. Controlando os seres humanos para colocar em prática seu plano de invasão, e infiltrando-se em importantes setores do governo e das autoridades militares.
Entre as várias curiosidades interessantes, podemos citar:
* o filme também é conhecido pelo título original “Enemy From Space” nos Estados Unidos;
* ele faz parte do universo ficcional criado pelo roteirista Nigel Kneale, composto por vários filmes e séries de TV, porém da “Hammer” temos uma trilogia formada por “Terror Que Mata”, “Usina de Monstros” e “Uma Sepultura na Eternidade” (Quatermass and the Pit, 67), esse último com Andrew Keir no papel do cientista;
* o ator Michael Ripper (1913 / 2000), eterno coadjuvante em muitas produções da “Hammer”, dono de um currículo imenso com mais de duzentos trabalhos, aparece em “Usina de Monstros” como um dos moradores do vilarejo que se rebela contra os “inimigos do espaço”;
* nos créditos finais temos um agradecimento especial dos produtores para a famosa empresa de combustíveis “Shell”, que cedeu uma refinaria de sua propriedade para servir de locação para as cenas na “usina dos monstros”, o projeto secreto dos alienígenas para tomar nosso mundo;
* a palavra “zumbi” é mencionada algumas vezes para se referir às vítimas infectadas pelos alienígenas, transformando-as em criaturas desprovidas de ações próprias, tendo suas mentes controladas. (RR – 05/06/15)