Comentários curtos de cinema - Parte 8 (17/08 a 17/09/13)

Filmes abordados:

1984 (1984, Inglaterra, 1956)
Círculo de Fogo (Pacific Rim, EUA, 2013)
Escolhidos, Os (Dark Skies, EUA, 2013)
Instrumentos Mortais – Cidade dos Ossos, Os (The Mortal Instruments: City of Bones, EUA / Alemanha, 2013)
Invocação do Mal (The Conjuring, EUA 2013)
Jogos Vorazes (The Hunger Games, EUA, 2012)
Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief, EUA / Canadá, 2010)
Percy Jackson e o Mar de Monstros (Percy Jackson: Sea of Monsters, EUA, 2013)
Uma História de Amor e Fúria (Brasil, 2013) animação


* 1984 (1984, 1956) – “Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força.” Produção inglesa em preto e branco, inspirada no conhecido livro de George Orwell, publicado em 1949. Com direção de Michael Anderson (de “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, “Fuga do Século 23” e “Orca, a Baleia Assassina”), o filme foi lançado em DVD pela Coleção Folha “Grandes Livros no Cinema” número 03, junto com um livro de capa dura e leitura rápida em 64 páginas, trazendo informações, curiosidades e análises críticas do filme, livro e realizadores. Na história, no futuro ano de 1984, após uma guerra nuclear, o mundo foi dividido em três potências e todas comandadas por regimes totalitários e inimigos entre si, com conflitos armados constantes. Em Oceania, a liderança é do “Grande Irmão” (“Big Brother”, termo que originou os populares “reality shows” da televisão), e as pessoas são observadas o tempo todo por câmeras. Nessa sociedade opressora, um homem, Winston Smith (Edmond O´Brien) e uma mulher, Julia (Jan Sterling), que trabalham no governo, se apaixonam e sentem o prazer, mesmo que em pequenos momentos, de uma vida livre. Mas, são logo descobertos, perseguidos e torturados, perdendo a identidade, e obrigados a se submeterem ao ditador “Grande Irmão”. Lembrando filmes similares de FC com roteiros explorando sociedades com regimes políticos totalitários como “Fahrenheit 451” e “Laranja Mecânica”, a história de “1984” é extremamente perturbadora ao abordar um futuro pessimista em guerra contínua, com os cidadãos vivendo vigiados sem liberdade. Foi produzida outra versão em 1984, dirigida por Michael Radford e com John Hurt e Richard Burton. George Orwell também escreveu “A Revolução dos Bichos” (1945), outra interessante história com crítica ao totalitarismo. (RR – 07/09/13)

* Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013) – Estreando nos cinemas brasileiros em 09/08/13, com opção de exibição em 3D, “Círculo de Fogo” (curiosamente, existe um ótimo filme de guerra feito em 2000 com esse mesmo nome) é acima de tudo uma homenagem aos filmes japoneses de monstros gigantes que destroem cidades inteiras e são combatidos pór robôs igualmente colossais. Só que, ao contrário dos filmes toscos do passado, com atores dentro de fantasias de borracha, os tempos modernos reservam efeitos visualmente impressionantes obtidos pela computação gráfica. O roteiro apresenta um mundo em guerra contra alienígenas que se esconderam no subsolo do Oceano Pacífico e que enviam monstros (conhecidos como “Kaiju”) através de uma fenda para atacarem os humanos. Para se defender, a humanidade se uniu através de seus governos para a construção de imensos robôs (conhecidos como “Jaeger”), pilotados por uma dupla de lutadores experientes unidos por uma ponte neural, ocasionando batalhas de alto poder de destruição no meio de grandes cidades. Após anos de guerras e com a evolução dos monstros, a humanidade se viu obrigada a atacar a fenda com um artefato nuclear para tentar evitar o apocalipse. Extremamente exagerado e barulhento, mas principalmente por causa disso mesmo, também bastante divertido em suas mais de duas horas de duração, com cenas constantes de ação e destruição. Atenção para uma interessante cena após os créditos finais. Curiosamente, a produtora picareta “The Asylum”, conhecida por seus filmes bagaceiros e por copiar a ideia de produções milionárias com sucessos de bilheterias no cinema, fazendo suas próprias versões tranqueiras, lançou no mesmo ano de 2013 o “mockbuster” (um nome pejorativo para “blockbuster”) “Círculo de Monstros” (Atlantic Rim). O filme é extremamente ruim, principalmente o roteiro, e está entre os piores do catálogo da produtora. (RR – 19/08/13)

* Escolhidos, Os (Dark Skies, 2013) – Horror com elementos de Ficção Científica, que estreou nos cinemas em 09/08/13. Uma família americana comum enfrenta uma série de acontecimentos estranhos e misteriosos, formada pelo pai, Daniel Barrett (Josh Hamilton), a mãe, Lacy (Keri Russell), e por dois filhos, o adolescente de 13 anos Jesse (Dakota Goyo), e o pequeno Sam (Kadan Rockett). Eles são obrigados a investigar e procurar respostas para os diversos eventos bizarros que passam a ameaçar sua segurança, como pássaros suicidas desorientados que se chocam contra sua casa, marcas de violência física nos corpos dos garotos e perigosas crises de sonambulismo. Conforme dizia o escritor Arthur C. Clarke numa transcrição no início do filme, algo como “existem duas possibilidades, vivermos sozinhos no Universo, ou não, e as duas são aterrorizantes”, em “Os Escolhidos” o roteiro procura explorar a segunda possibilidade, utilizando-se dos clichês característicos do gênero, com contatos misteriosos, sustos fáceis e conspirações. Até prende a atenção do espectador, mas no geral é mais um filme ligeiramente acima da média dentro do quesito “alienigenas maus”, sem nada de especial. (RR – 17/08/13)

* Instrumentos Mortais – Cidade dos Ossos, Os (The Mortal Instruments: City of Bones, 2013) – Uma adolescente, Clary Fray (Lily Collins), tem sua vida modificada radicalmente depois que sua mãe desaparece misteriosamente e passa a ver pessoas estranhas que somente ela tem o pode de visualizar, como o jovem Jace (Jamie Campbell Bower). Descobrindo que na verdade ela descende de uma raça secreta de guerreiros conhecidos como “caçadores das sombras”, que tem a missão de exterminar demônios. Baseado em livro de Cassandra Clare e com estréia nos nossos cinemas em 23/08/13, é mais um filme com todos os já desinteressantes clichês envolvendo vampiros, lobisomens e principalmente demônios e seus inimigos caçadores, que vivem num mundo alternativo paralelo ao nosso em constante conflito e guerras. São 130 minutos arrastados, com correrias e lutas cansativas, algumas piadas sem graça, cenas bregas românticas do casalzinho de protagonistas, num filme banal de ação com elementos de horror com criaturas em CGI exagerado. Perda de tempo e totalmente esquecível. (RR – 24/08/13)

* Invocação do Mal (The Conjuring, 2013) – Com estréia nos cinemas na sugestiva data de sexta-feira 13 de Setembro de 2013, “Invocação do Mal”, dirigido por James Wan (de “Jogos Mortais”, 2004, e “Sobrenatural”, 2010), é mais um filme de horror explorando casas assombradas e possessão demoníaca. Sendo dessa vez inspirado em fatos reais ocorridos com uma família em 1971 e nas atividades do casal Ed e Lorraine Warren, investigadores de casos paranormais. No filme, Ed Warren (Patrick Wilson) e sua esposa Lorraine (Vera Farmiga), são chamados para ajudar uma família que estava enfrentando manifestações estranhas e misteriosas envolvendo a presença de espíritos demoníacos após se mudarem para uma casa no interior dos Estados Unidos. Formada pelo pai Roger Perron (Ron Livingston), a mãe Carolyn (Lili Taylor), e cinco filhas, eles precisam juntamente com o casal Warren, lutar por suas vidas e tentar reestabelecer a paz no local. Apesar do desfile de clichês, o filme até que consegue manter uma eficiente atmosfera sombria de horror ao contar uma história de assombração com possessão, baseada em acontecimentos reais, utilizando-se dos pontos de vista tanto da família vítima como dos investigadores de casos sobrenaturais, passando uma ideia de realidade. Exceto pelo ato final, muito exagerado na fantasia e abandonando um desfecho com soluções mais pessimistas. (RR – 15/09/13)

* Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012) – Inspirado em livro de Suzanne Collins e dirigido por Gary Ross (de “A Vida em Preto e Branco”, 1998), “Jogos Vorazes” é uma aventura com elementos de ficcção científica e horror com um tema já visto antes em filmes como “O Sobrevivente” (1987), com Arnold Schwarzenegger, ou o japonês “Battle Royale”. No futuro após uma guerra, formou-se no planeta uma nação rica totalitária chamada Panem, com a capital governada pelo Presidente Snow (Donald Sutherland), abastecida por recursos vindos do trabalho escravo de doze distritos. Para entreter a população da capital e impor a tirania de seu governo, foi criada uma competição anual com um casal sorteado de representantes jovens de cada distrito, para lutarem entre si até a morte e com um único vencedor. O violento torneio é televisionado o tempo todo no formato de um show com apresentação de Caesar Flickerman (Stanley Tucci). A garota Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) acaba tornando-se voluntária no lugar de sua irmã pequena, e junto com Peeta Mellark (Josh Hutcherson) representam o Distrito 12 na competição, lutando por suas vidas. Apesar da longa duração (142 minutos), o filme consegue manter a atenção e aproxima o espectador numa empatia com o drama da jovem protagonista, torcendo por seu sucesso. Também sempre é interessante a ideia de um futuro opressor com uma nação altamente tecnológica subjugando com tirania grupos menores. Porém, o desfecho é previsível e comum, com um óbvio gancho para as próximas continuações que vieram nos anos seguintes: “Jogos Vorazes: Em Chamas” (The Hunger Games: Catching Fire, 2013), “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1” (The Hunger Games: Mockingjay – Part 1, 2014) e “Jogos Vorazes: A Esperança – O Final” (The Hunger Games: Mockingjay – Part 2, 2015). (RR – 17/09/13)

* Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief, 2010) – O adolescente Percy Jackson (Logan Lerman) descobre que é um semideus, ou seja, filho do deus dos mares Poseidon com uma humana. Conhecendo aos poucos seus poderes e se ambientando com a nova condição, ele se une com outros de sua espécie, Grover (Brandon T. Jackson), um ser híbrido de homem e bode, e a bela Annabeth (Alexandra Daddario), filha de Athena, deusa da sabedoria. Juntos eles tentam encontrar um artefato mágico criador de raios, que foi roubado do deus Zeus, e que se não recuperado, daria origem a uma guerra no Olimpo. Mais uma bobagem colossal com roteiro baseado em livro de Rick Riordan e na mitologia dos deuses gregos. É um desfile com todos os clichês do gênero, com adolescentes patéticos lutando contra criaturas e monstros que não convencem, em correrias demais, piadas banais (a cargo principalmente de Grover), e efeitos exagerados de CGI. Trata-se apenas de mais um filme explorando a mitologia grega que não empolga em nenhum momento, mesmo tendo um bom elenco de apoio formado por nomes conhecidos como Sean Bean (Zeus), Pierce Brosnan (o líder de um acampamento próprio para os semideuses), Uma Thurman (como Medusa, a mulher com cobras na cabeça e olhar que transforma quem a vê em pedra) e Rosario Dawson (Persephone, a esposa do demoníaco Hades). (RR – 27/08/13)

* Percy Jackson e o Mar de Monstros (Percy Jackson: Sea of Monsters, 2013) – Continuação de “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” (2010), que entrou em cartaz nos cinemas em 16/08/13. Agora o adolescente Percy Jackson (Logan Lerman), junto com seus amigos Grover (Brandon T. Jackson) e Annabeth (Alexandra Daddario), parte numa missão ao temível “Mar de Monstros” (localizado no “Triângulo das Bermudas”), para tentar encontrar um manto sagrado e mágico, o Velo de Ouro, que tem o poder de curar uma árvore envenenada que protege com um campo de força o acampamento dos semideuses, filhos de deuses com humanos. Eles se juntam ao cíclope atrapalhado Tyson (Douglas Smith), irmão de Percy Jackson, e a guerreira Clarisse (Leven Rambin), filha do deus da guerra. Mais do mesmo, num roteiro explorando a mitologia grega com adolescentes lutando contra monstros criados por CGI. Porém, ligeiramente superior ao antecessor, o que não significa muito. (RR – 01/09/13)

* Uma História de Amor e Fúria (2013) – “Viver sem conhecer o passado é viver no escuro”. Animação adulta genuinamente brasileira, produzida por profissionais de nosso país e com roteiro sobre a história do Brasil, e que teve uma passagem rápida nos cinemas, estreando em 05/04/13. Um guerreiro imortal (tipo um “highlander”), na voz de Selton Melo, vive há 600 anos lutando em fases importantes da história do Brasil, sempre honrando o amor da bela morena Janaína (voz de Camila Pitanga), reencarnada ao longo dos séculos. Inicialmente como um índio tupinambá durante a sangrenta colonização no século XVI, lutando contra os invasores europeus no descobrimento do Brasil, passando pela época da escravidão, como um líder em conflitos contra a tirania dos poderosos, chegando no conturbado período da ditatura militar, fazendo um guerrilheiro em busca de liberdade, até culminar num futuro de 2096 na cidade do Rio de Janeiro, onde um mundo decadente faz da água escassa um item valioso para os interesses dos poderosos. Uma animação com produção modesta em comparação com os estúdios americanos, mas com um roteiro excepcional, numa verdadeira aula sobre fases importantes da história de nosso país. Entre os extras do DVD, todos muito interessantes, vale destacar um depoimento do diretor e roteirista Luiz Bolognesi sobre a história do filme, num recado valioso para os educadores. Tem também a presença do ator Rodrigo Santoro na voz de um cacique e um guerrilheiro. Altamente recomendável. (RR – 01/09/13)