Blackout (EUA, 2007)


Um grupo de três pessoas, todas com seus próprios dramas e problemas pessoais, fica preso num elevador de um prédio antigo, devido a um apagão. Logo, o confinamento e o sentimento de claustrofobia, somados à necessidade de cada um de precisar sair o mais rápido possível por causa de assuntos pendentes de grande importância, causarão graves conflitos de relacionamento entre eles, não faltando elementos surpresas. Filme curto (cerca de 75 minutos) e eficiente na construção de um clima de suspense, criando no espectador uma empatia com os dramas dos personagens, principalmente após a revelação do comportamento agressivo de um deles.

“Blackout” (Estados Unidos, 2007) # 523 – data: 28/04/09
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/04/09)

Perkins´14 (EUA, 2009)


O filme apresenta os habituais clichês do gênero, mas o mais interessante foi a abordagem do roteiro com foco não no “serial killer”, que morre logo e nem parece ameaçador, mas sim nas suas vítimas, que se transformaram em monstros por causa do isolamento de muitos anos e os tratamentos com drogas, atacando violentamente a cidade. Por ser um filme americano, está acima da média dos normalmente produzidos por lá, repletos de imagens convencionais e pouca ousadia nas histórias, e que têm sido lançados nos cinemas brasileiros com freqüência.

“Perkins´14” (Estados Unidos, 2009) # 522 – data: 27/04/09
www.bocadoinferno.com / www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/04/09)

Martyrs (França / Canadá, 2008)


“Alta Tensão” (Haute Tension / High Tension, 2003), “Eles” (Ils / Them, 2006), “A Invasora” (À L´intérieur / Inside, 2007), “Fronteira (A)” (Frontiere (s) / Frontier (s), 2007), e agora “Martyrs” (2008). O cinema de horror francês é atualmente um dos mais violentos e perturbadores, com filmes tensos, carregados de “gore” em roteiros que prendem a atenção e principalmente que ficam na memória do espectador. E também, com algumas exceções, constatamos que o tão badalado e popular cinema americano de horror não tem conseguido nos dias de hoje deixar de ser comum, trivial, repleto de clichês e excessivamente comercial, em detrimento de histórias originais e imagens ousadas de violência gráfica.

É difícil apresentar a sinopse de “Martyrs” sem esbarrar em armadilhas reveladoras de “spoilers”, portanto a história será resumida em poucas palavras básicas apenas para registro: Lucie (Mylène Jampanoi) é uma jovem em busca de vingança contra as pessoas que a aprisionaram e torturaram quando criança e de quem conseguiu fugir de forma desesperada, abandonando o cativeiro. Em sua jornada por justiça pessoal, conta com a ajuda da amiga Anna (Morjana Alaoui), que a apoiou durante anos nos momentos de depressão e com seu problema de auto mutilação. Porém, tanto Lucie (atormentada num mundo de insanidade), quanto principalmente Anna, não imaginariam a horrenda experiência com propósitos obscuros em que seriam vítimas.

Dirigido e escrito por Pascal Laugier, o cineasta escolhido para comandar a refilmagem de “Hellraiser” (com previsão de lançamento em 2011), o filme é ultra violento (a cena de vingança com o tiroteio é memorável), sangrento ao extremo (o líquido vermelho banha a tela em demasia), e explora um tema original (depois de ver o filme o espectador refletirá sobre o real significado de “mártir”), através de elementos interessantes que nos remetem a outros filmes como o americano “O Albergue” (Hostel), de Eli Roth, na idéia de uma sociedade secreta com objetivos sinistros, e as películas orientais com fantasmas atormentados, nas cenas de alucinação de uma das personagens. E ainda temos um desfecho adequado, tão perturbador quanto toda a bizarra história que é apresentada. É interessante também notar como os cineastas franceses procuram colocar mulheres como protagonistas (reparem nos filmes citados no início desse texto), fazendo-as sofrer na carne dores e torturas inimagináveis, transformando-as em mártires literalmente. Altamente recomendável, “Martyrs” é cinema de horror puro, que merece e deve ser respeitado e reverenciado.

Obs.: Em 05/05/16 estreou nos cinemas brasileiros uma refimagem americana produzida em 2015, com direção dos irmãos Kevin e Michael Goetz, e que recebeu por aqui o mesmo título original. De uma forma geral é inferior ao filme francês, mas ainda assim passa a sua mensagem com boas cenas de violência e um final também perturbador. 

“Martyrs” (França / Canadá, 2008) # 521 – datas: 23/04/09 - 14/05/16
www.bocadoinferno.com.br / www.juvenatrix.blogspot.com.br (postado em 23/04/09)

Pânico e Morte na Cidade (The Night Stalker, 1972)


A cultuada e popular série de TV “Arquivo X” (The X-Files), criada por Chris Carter e que durou entre 1993 e 2002, explorando em seus roteiros temas conspiratórios repletos de elementos de horror, mistério e ficção científica, escondendo a verdade sobre casos bizarros da opinião pública, teve inspiração numa outra série de TV dos anos 70 do século passado, “Kolchak: The Night Stalker”, que no Brasil recebeu o nome “Kolchak e os Demônios da Noite”. A série teve apenas uma temporada com episódios de sessenta minutos entre 1974 e 75, estrelando Darren McGavin (1922 / 2006) como o destemido repórter investigativo Carl Kolchak, que testemunha e documenta casos estranhos e misteriosos com desfechos envoltos em situações sobrenaturais com presença de vampiros, demônios, zumbis, alienígenas e lendas urbanas. Seu chefe no jornal, Tony Vincenzo (Simon Oakland), representa o outro lado da moeda, sempre desacreditando as reportagens de Kolchak e impedindo de torná-las públicas.
A série teve dois filmes pilotos produzidos especialmente para a televisão: “Pânico e Morte na Cidade” (The Night Stalker, 1972) e “A Noite do Estrangulador” (The Night Strangler, 1973), ambos produzidos por Dan Curtis, o diretor de “Drácula – O Demônio das Trevas” (1973), com Jack Palance. Com o sucesso e boa receptividade dos filmes, a ideia de uma série de TV foi colocada em prática e Kolchak protagonizou mais vinte histórias com elementos fantásticos.

Em “Pânico e Morte na Cidade”, escrito por Richard Matheson a partir de livro de Jeffrey Grant Rice, o jornalista Kolchak se depara com uma série de assassinatos misteriosos na cidade de Las Vegas, onde as vítimas apresentam uma característica comum: falta de sangue e dois pequenos orifícios no pescoço. Após intensa investigação, coletando dados de seus informantes da noite, não faltando perigosas correrias, perseguições e confrontos, não demora para ele descobrir que o responsável pelas mortes de mulheres e o desaparecimento de sangue dos estoques dos hospitais deve-se à ação de um vampiro imigrante do leste europeu. Mas, apesar de registros concretos sua reportagem é censurada e ele é obrigado a sair da cidade, ameaçado pelas autoridades policiais.

Um dos destaques do filme é a presença de um ótimo elenco, tanto principal na figura de Darren McGavin, como de apoio, com atores de prestígio na televisão como Claude Akins (no papel do xerife Warren A. Butcher), Ralph Meeker (como Bernie Jenkins), Kent Smith (como o prefeito Tom Paine) e Carol Linley (de “O Destino do Poseidon”, 72), interpretando a namorada de Kolchak, a belíssima Gail Foster. Tem ainda a rápida participação do veterano Elisha Cook Jr., como o informante Mickey Crawford. O vampiro Janos Skorzeny é interpretado por Barry Atwater, também numa performance convincente, sem dizer uma única palavra e utilizando apenas expressões faciais com os olhos vermelhos e pele pálida de uma criatura da noite sedenta por sangue. O diretor é o argentino John Llewellyn Moxey, o mesmo de “Horror Hotel” (1960), com Christopher Lee.
Nesse episódio piloto percebemos algumas características que iriam povoar a série como o uso de efeitos especiais discretos, típicos de uma produção de baixo orçamento, além do argumento central apresentando uma origem sempre fora do comum para a condução dos eventos, com Kolchak investigando e descobrindo a realidade dos fatos, por mais absurdos que pareçam, mas sempre sendo censurado e tido como um jornalista de reputação duvidosa, deixando a “verdade lá fora”, longe do alcance das pessoas.

“Pânico e Morte na Cidade” (The Night Stalker, EUA, 1972) # 520 – data: 21/04/09
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Filhos das Trevas (Demons / Demoni, Itália, 1985)


Eles farão de suas catedrais, cemitérios, e de suas cidades, tumbas.

Em meados dos saudosos anos 80 do século passado, no início do mercado de fitas VHS no Brasil, tive oportunidade de alugar numa locadora pequena de bairro, um filme de horror que na época ainda fazia parte das chamadas “fitas alternativas” (depois, foi lançado oficialmente pela “FJ Lucas” e hoje é item raro de colecionadores de vídeo VHS), ou seja, aquelas cópias “piratas” de filmes obscuros. “Filhos das Trevas” (Demons / Demoni) é um filme italiano de 1985 dirigido por Lamberto Bava (filho do lendário cineasta Mario Bava, de “A Máscara de Satã”, 1960) e produzido por Dario Argento (“Suspiria”, 1977).

Um misterioso homem mascarado está fazendo a promoção de um filme, distribuindo para as pessoas nas ruas ingressos para uma sessão numa espaçosa sala de cinema chamada “Metropol”. Cheryl (Natasha Hovey) é uma estudante que recebe ingressos para ela e sua amiga Kathy (Paola Cozzo). Lá chegando, elas encontram outros convidados e entre eles dois amigos, George (Urbano Barberini) e Ken (Karl Zinny), que tentam flertar com as moças. Uma vez iniciado o filme, eles descobrem se tratar de uma história de horror onde um grupo de jovens está explorando as ruínas de um castelo e encontram a tumba do profeta Nostradamus. Um deles pega uma máscara e ao colocar no rosto sofre um corte que infecciona e o transforma num demônio que passa a perseguir os amigos. Num exercício de metalinguagem (filme dentro de um filme), de modo similar à película assistida, os espectadores convidados para a sinistra sessão de cinema no “Metropol” também são atacados por demônios enfurecidos que se apossam das vítimas após uma moça também ter se cortado ao colocar no rosto uma misteriosa máscara que estava exposta na entrada da sala de projeção, transformando-a num demônio sedento pelo sangue e que inicia a contaminação. Resta apenas aos sobreviventes lutar por suas vidas, numa correria desenfreada pelos enormes corredores do cinema, deixando um rastro de sangue e tripas.

“Filhos das Trevas” faz parte de um grupo seleto composto pelos melhores filmes italianos de horror de todos os tempos, com um roteiro simples, mas eficiente, explorando um tema apocalíptico geralmente protagonizado por zumbis, e apenas substituindo-os por demônios enfurecidos e ávidos por destroçar a carne humana. A contaminação é semelhante, através de contato com o sangue, espalhando-se em escala progressiva e fora do controle. E para aqueles que ainda não foram afetados, resta apenas fugir e procurar abrigo, lutando pela sobrevivência num mundo mergulhado no caos.
Os clichês característicos estão presentes como era de se esperar, como o tradicional casal de heróis que se sobressai das demais vítimas e juntos tentam combater a praga demoníaca, com um rapaz comum se transformando num guerreiro que demonstra uma improvável força e habilidade para defender-se e proteger a mocinha da ameaça dos demônios. A overdose de sangue, mutilações, olhos arrancados, gargantas destroçadas, membros decepados, vísceras expostas, feridas pestilentas e gosmas putrefatas jorrando em demasia garantem o entretenimento dos apreciadores de um cinema de horror mais extremo, sem o uso dos artificiais efeitos de computação gráfica, numa época onde os efeitos especiais sangrentos eram produzidos graças à criatividade e talentos dos técnicos em maquiagem.
Na trilha sonora, temos músicas de bandas de Heavy Metal populares na década de 80 como “Motley Crue” (EUA), “Saxon” (Inglaterra) e “Accept” (Alemanha), sendo que esta última emprestou a ultra rápida porrada sonora “Fast as a Shark” para ilustrar uma cena de confronto entre o herói e os demônios, com sangue e tripas espalhados para todos os lados. E curiosamente, tem também uma cena bem absurda quando um helicóptero cai pelo telhado e adentra a sala do cinema, facilitando o trabalho dos roteiristas em descobrir um meio de saída do casalzinho de heróis, e também aproveitando para homenagear os filmes de zumbis de George Romero, especialmente “Despertar dos Mortos” (1978), com a tradicional cena da hélice decepando uma parte do cérebro de uma vítima infectada.
“Demons” teve uma seqüência no ano seguinte, também dirigida por Lamberto Bava, mas utilizando a mesma idéia básica, somente alterando os eventos de uma sala de cinema para um condomínio residencial, investindo ainda mais no quesito violência, porém falhando na intenção de mostrar algo diferente no roteiro.

20/06/10: Em Junho de 2010, a “Cult Classic” lançou em DVD no Brasil um pack contendo “Demons” 1 e 2, e um outro filme também dirigido por Lamberto Bava, mas erroneamente considerado “Demons 3”, chamado “O Ogro”. Na verdade, esse filme já tinha outro nome nacional (“O Terror Não Tira Férias”, de 1988, lançado em VHS), e não tem qualquer relação com a franquia “Demons”.

“Filhos das Trevas” (Demons / Demoni, Itália, 1985) # 519 – data: 19/04/09
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Monstros vs. Alienígenas (Monsters vs. Aliens, EUA, 2009)


Confesso que nunca tinha dado muita atenção aos inúmeros filmes de animação com computação gráfica que invadiram os cinemas nos últimos anos. Mas, depois do nascimento de minha filha, e a necessidade de acompanhar alguns desses filmes, cheguei à conclusão que eles são extremamente divertidos e recomendáveis, principalmente aqueles que exploram elementos fantásticos em seus roteiros como por exemplo “Monstros S.A.” (Monsters, Inc., 2001), “Wall-E” (2008) e “Monstros vs. Alienígenas” (Monsters vs. Aliens, DreamWorks, 2009), onde este último estreou nos cinemas brasileiros em 03/04/09, numa grande e bem humorada homenagem ao cinema fantástico da década de 1950, quando desfilavam nas telas cientistas loucos em meios as suas experiências descontroladas, alienígenas hostis de olhos esbugalhados em suas naves espaciais e monstros mutantes imensos oriundos da exposição à radiação atômica de testes nucleares na turbulenta época da guerra fria, sem contar a constante paranóia de conspiração militar ocultando da população os fatos reais sobre os mistérios que assombram a humanidade.

Na história, Susan Murphy (voz de Reese Whiterspoon) é uma bela garota que está prestes a se casar com um apresentador de TV panaca, Derek Dietl (voz de Paul Rudd), porém ela é atingida por um meteoro desgovernado no dia de seu casamento, e uma vez recebendo a radiação de um poderoso elemento químico trazido do espaço, a jovem cresce de forma descomunal atingindo cerca de 15 metros de altura (referência explícita ao filme “O Ataque da Mulher de 15 Metros” / “Attack of the 50 Foot Woman”, 1958, com a bela Alisson Hayes).
Uma vez capturada pelo governo e chamada agora de Ginormica, ela é mantida presa e afastada da sociedade numa base secreta, juntamente com outras aberrações como um cientista com cabeça de barata, Dr. Cockroach (voz de Hugh Laurie), remetendo-nos ao filme “A Mosca da Cabeça Branca”, 1958, com David Hedison e Vincent Price; uma gosma azul sem cérebro e devoradora de qualquer coisa, B.O.B. (voz de Seth Rogen), numa alusão ao clássico “B” de 1958 “A Bolha”, com um ainda jovem Steve McQueen; um ser mutante misto de homem e lagarto, Elo Perdido (voz de Will Arnett), uma homenagem à criatura de “O Monstro da Lagoa Negra”, 1954, dirigido por Jack Arnold; e uma larva gigantesca (Insectosaurus) com mais de 100 metros de comprimento, numa lembrança aos diversos filmes do sub-gênero “Big Bug”, que exploravam em seus roteiros a ameaça devastadora de simples insetos que se transformavam em monstros colossais por causa do uso indiscriminado da energia atômica em testes de armas nucleares.
Quando a Terra passa a ser alvo de uma invasão alienígena com objetivos de conquista, através de um vilão tirano cheio de tentáculos, um cérebro descomunal e olhos esbugalhados, Gallaxhar (voz de Rainn Wilson), o governo americano decide recorrer à ajuda dos monstros segregados por décadas, em troca de liberdade, para defender o planeta de uma ameaça que vem do espaço sideral.

“Monstros vs. Alienígenas” é uma ótima diversão para todas as idades, brincando o tempo todo com os clichês dos filmes de Ficção Científica e Horror da saudosa época de ouro do cinema fantástico, há mais de meio século atrás. Não falta a característica arrogância militar num ambiente conspiratório, com o exército escondendo da população a “verdade que está lá fora”, destacando a presença exagerada do General W. R. Monger (voz de Kiefer Sutherland). Tem também a presença de um típico presidente americano, Hathaway (voz de Stephen Colbert), metido a corajoso, mas que no final não passa de um “bunda mole” no comando de uma nação imperialista, que tenta sem sucesso uma comunicação no estilo “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” com uma imensa sonda robótica enviada para reconhecimento pelos alienígenas. E não poderia deixar de citar as tradicionais risadas debochadas de um “cientista louco”, que numa experiência equivocada em que participou como cobaia, passou a fazer parte da galeria dos “homens transformados em monstros”, outro sub-gênero do cinema fantástico largamente explorado em filmes preciosos do passado.
Enfim, diversão garantida com monstros de todos os tipos, seres que não são deste mundo, paranóia de conspiração governamental e com todos os clichês do cinema fantástico bagaceiro que marcou época.

“Monstros vs. Alienígenas” (Monsters vs. Aliens, Estados Unidos, 2008) # 518 – data: 12/04/09
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