Viagem Maldita (The Hills Have Eyes, 2006)


Para contribuir ainda mais com a imensa quantidade de refilmagens que estão sendo lançadas todos os anos, ou seja, filmes inspirados em outros mais antigos, estreou nos cinemas brasileiros em 28/07/06 “Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, 2006), dirigido e escrito pelo francês Alexandre Aja (de “Alta Tensão” / “Haute Tension”), uma refilmagem do violento “Quadrilha de Sádicos” (77), escrito e dirigido por Wes Craven.

Na história, uma família em férias, viajando com destino a San Diego, na California, atravessando o deserto do Novo México num trailer puxado por uma pick-up, sofre um acidente quando todos os pneus são furados de forma criminosa numa armadilha para turistas, depois que eles entraram numa estrada secundária, orientados pelo velho atendente do único posto de gasolina em muitos quilômetros (Tom Bower). A família Carter é formada pelo pai Big Bobby (Ted Levine), um detetive aposentado, a mãe Ethel (Kathleen Quinlan), e três filhos, os adolescentes Brenda (Emilie de Ravin) e Bobby (Dan Byrd), além de Lynn (Vinessa Shaw), que por sua vez é casada com Doug Bukowski (Aaron Stanford), dono de uma loja de celulares, e tem uma filha ainda bebê, Catherine (a pequenina Maisie Camilleri Preziosi).
Uma vez perdidos no meio de um imenso deserto, eles não imaginavam que o pior problema não seria como voltar para a civilização, mas sim como enfrentar a terrível experiência de serem brutalmente ameaçados por um grotesco grupo de humanos mutantes e deformados, vítimas mentalmente perturbadas que sofreram os efeitos nocivos de testes nucleares que o governo americano realizou na área entre os anos de 1945 e 1962, e que tornaram-se canibais. Eles negaram abandonar sua casa na época e tiveram que se abrigar das bombas atômicas numa mina subterrânea, vivendo isolados escondidos nas colinas, apenas espreitando a oportunidade de se vingarem da humanidade, atacando os viajantes que atravessassem seu território proibido. Entre essas criaturas horrendas e bizarras, destaca-se o gigantesco e ultra violento Pluto (Michael Bailey Smith), que no original foi interpretado por Michael Berryman. Os outros mutantes são Lizard (Robert Joy), Goggle (Ezra Buzzington), Papa Jupiter (Billy Drago), Big Brain (Desmond Askew), com seu imenso cérebro descomunal, e Big Mama (Ivana Turchetto), além da jovem Ruby (Laura Ortiz), que tem um papel importante no destino específico de uma das personagens.

“Viagem Maldita” é mais um dos bons filmes de horror que entraram em cartaz nas telonas brasileiras nesse ano de 2006, aliás, um ano bem interessante para o cinema fantástico, somando-se ao australiano “Wolf Creek – Viagem ao Inferno” (com temática similar), ao tailandês “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado” (Shutter), e aos também americanos “O Albergue” (Hostel), de Eli Roth, a refilmagem “A Profecia” (The Omen), e a bagaceira super divertida “Seres Rastejantes” (Slither), esse numa co-produção com o Canadá. Sem contar ainda “Doom – A Porta do Inferno” e “Premonição 3” (Final Destination 3), que também são bem divertidos, dentro de suas limitações e temáticas clichês.
Wes Craven é um nome importante dentro do gênero horror, principalmente pelos violentos “Aniversário Macabro” (Last House on the Left, 1972), e o já citado “Quadrilha de Sádicos”, além de ser o criador das franquias “A Hora do Pesadelo” nos anos 80 e “Pânico” na década de 90. Mas, a maioria de seus outros trabalhos e principalmente os últimos, “Vôo Noturno” (Red Eye) e “Amaldiçoados” (Cursed), que são péssimos exemplos de cinema de suspense e horror, fizeram definitivamente seus admiradores desconfiarem de qualquer filme que tenha seu nome nos créditos. Por isso mesmo, não deixa de ser uma surpresa que a refilmagem de “The Hills Have Eyes”, com Craven na produção, seja um filme que merece destaque (com grandes méritos para o cineasta Alexandre Aja), principalmente pela ousadia na violência das cenas de mortes, todas bastante gráficas e perturbadoras, não poupando dor e sofrimento para as vítimas (tanto os humanos normais como os mutantes deformados): temos desde um corpo queimado vivo, passando por cabeça explodida à bala, e machadada no crânio.
O prólogo movimentado e a cena do primeiro ataque dos mutantes contra o trailer da família de viajantes são carregados de tensão e brutalidade e o roteiro foi bastante ousado no destino que reservou para alguns dos personagens. E apesar de um certo exagero na forma forçada como os sobreviventes lutaram por suas vidas e combateram os canibais insanos (a conduta do herói parece excessivamente fantasiosa), o resultado final até surpreendeu pela intensidade de violência em todos os confrontos, perseguições e fugas desesperadas, e mortes sangrentas.

Entre as curiosidades, vale citar o fato do produtor Peter Locke e o diretor Wes Craven, responsáveis pelo original dos anos 70, serem os produtores da refilmagem de quase 30 anos depois. As filmagens ocorreram no Marrocos, um país africano com altas temperaturas. O técnico em efeitos especiais Greg Nicotero participa do filme no papel do mutante deformado Cyst. As fotos reais de crianças mutantes apresentadas em meio aos créditos iniciais do filme não são provenientes do efeito nocivo de testes com a energia nuclear, mas sim por causa do temível agente laranja, um produto químico altamente tóxico utilizado como arma letal na Guerra do Vietnã, e que deixou seqüelas graves nas vítimas daquele conflito insano e seus descendentes.

A refilmagem ganhou uma sequência inferior em 2007, que recebeu o nome por aqui de “O Retorno dos Malditos”, e o filme original de 1977 recebeu uma continuação bem inferior em 1985, também produzida por Peter Locke e dirigida por Wes Craven.

A viagem pode até ser maldita, mas maldita mesmo é a incrível incompetência dos responsáveis pela escolha do título nacional dessa refilmagem, pois se eles tivessem pesquisado apenas um pouco, descobririam que seria muito mais coerente (e ajudaria imensamente um trabalho de catalogação dos filmes de horror que chegam ao Brasil) se a refilmagem recebesse o mesmo nome do original de 1977, “Quadrilha de Sádicos”, que se não é a tradução literal de “The Hills Have Eyes” (“As Colinas Possuem Olhos”), pelo menos é um bom título também. Agora, escolher “Viagem Maldita” não poderia ser mais oportunista, comum e trivial, pois é um nome óbvio demais, comercial demais, e sem criatividade.

“Viagem Maldita” (The Hills Have Eyes, Estados Unidos, 2006) # 393 – data: 29/07/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/07/06)

Plataforma do Medo (2004)


Dos muitos filmes de horror que são lançados mensalmente nas locadoras no formato DVD, para a sorte e satisfação dos apreciadores e colecionadores desse fascinante estilo de cinema, sempre alguns deles conseguem um destaque maior e merecem uma citação especial. Um desses casos é “Plataforma do Medo” (Creep, 2004), uma co-produção entre Inglaterra e Alemanha, escrita e dirigida por Christopher Smith, e estrelada pela bela atriz alemã Franka Potente (de “Corra, Lola, Corra”, “A Identidade Bourne” e “A Supremacia Bourne”).

Kate (Franka Potente) é uma jovem que descobre que o ator americano George Clooney está na Inglaterra e planeja ir ao hotel onde ele está hospedado na esperança de conseguir um autógrafo. Porém, ao sair de uma festa, já bastante cansada e alcoolizada, ela vai no fim de noite para uma estação de metrô em Londres, e num descuido perde o último trem, após um cochilo. Ao acordar, ela descobre que a estação está fechada e todas as saídas bloqueadas. Passar a noite na estação de metrô é o menor de seus problemas, pois ela terá que enfrentar o intransigente assédio sexual de um colega que a seguiu desde a festa, Guy (Jeremy Sheffield).
O que Kate não imaginaria é que um psicopata deformado, Craig (Sean Harris), o “Creep” do título original, vive oculto nos corredores escuros do metrô, e que gosta de atacar violentamente as pessoas que invadem seu território, como um casal de mendigos, Jimmy (Paul Rattray) e Mandy (Kelly Scott), que mora numa fresta entre os diversos túneis. A jovem é então capturada e juntamente com outro prisioneiro do maníaco, George (Vas Blackwood), um funcionário do metrô que trabalha na manutenção hidráulica da estação, eles tentam desesperadamente lutar por suas vidas, fugindo das garras do assassino desfigurado.

O filme é um slasher que poderia ser comum pois o argumento básico pode ser definido como “uma noite de horror num metrô, com um psicopata assassino vivendo à espreita nos corredores escuros da estação, em busca de suas vítimas”. Mas, mesmo com essa idéia clichê, “Plataforma do Medo” consegue se destacar dos demais filmes similares por vários motivos:
* não exagerar na tentativa de sustos fáceis e previsíveis (ao contrário, as cenas de sustos são bem elaboradas);
* investir num clima de claustrofobia intensa, com a maior parte das cenas de correrias e perseguições ambientadas em longos e perturbadores corredores escuros, sujos, infestados de ratos e inundados com esgotos fétidos;
* não explicar demais, divulgando apenas poucas informações e deixando muitas situações subentendidas (principalmente quanto à origem e motivações do psicopata desfigurado);
* demorar para mostrar o assassino, que nos momentos de dor e raiva grita como um animal enlouquecido (ele só é visto pela primeira vez após quase 50 minutos de filme);
* deixar de lado aquelas piadas idiotas que estragam a maioria dos filmes com histórias parecidas (e também por não apresentar aqueles típicos personagens insuportáveis e patéticos que apenas nos incentiva a torcer por suas mortes dolorosas);
* não poupar esforços no quesito “sangue e violência”, presenteando o espectador com cenas bem chocantes (pescoço dilacerado, cabeça perfurada, cadáver estripado), além de outras atrocidades, como uma “cirurgia” doentia numa jovem indefesa, que tem seu corpo rasgado brutalmente por uma enorme lâmina;
* optar por uma duração curta (apenas 83 minutos), pois o tipo de roteiro apresentado não tem potencial para um filme mais longo, que obrigaria o diretor a inventar cenas desnecessárias ou insistir em situações repetitivas;
* mostrar um desfecho interessante, apesar de previsível, e que se destaca pelo humor negro da situação.

“Plataforma do Medo” foi lançado em DVD no Brasil pela “Imagem Filmes”, trazendo como materiais extras uma série de entrevistas curtas com parte da equipe de produção e elenco. Os pequenos depoimentos foram dados pelo diretor e roteirista Christopher Smith e os produtores Jason Newmark, Julie Baines, Martin Hagemann e Kai Kunnemann, além da atriz Franka Potente e dos atores Jeremy Sheffield e Vas Blackwood. Para completar os extras, o disco ainda traz as filmografias de Franka Potente, Sean Harris, Vas Blackwood e Jeremy Sheffield, uma pequena galeria de fotos, um trailer de dois minutos de duração, e novidades sobre outros filmes lançados pela distribuidora, e entre eles o horror “7 Múmias” (7 Mummies) e o drama de guerra “Combate na Escuridão” (Straight Into Darkness).

“Plataforma do Medo” (Creep, Inglaterra / Alemanha, 2004) # 394 – data: 29/07/06 – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/07/06)

O Aniversário do Demônio (1993)


É melhor escrever merda do que pôr a mão nela

Essa frase, escrita na parede do quarto de um péssimo escritor de histórias pornográficas, é provavelmente a única coisa que presta no filme “O Aniversário do Demônio” (Little Devils: The Birth), produção canadense de 1993, dirigida por George Pavlou, de “Monster – A Ressurreição do Mal” (Rawhead Rex, 89). Digo isso porque a frase, que no filme tem a intenção de zombar com a qualidade sofrível da obra literária de um escritor de quinta categoria, reflete exatamente o que é o roteiro de Elliott Stein: uma merda de tamanho descomunal, e que sou obrigado a concordar que é muito melhor escrever do que pôr a mão.
Brincadeiras à parte, “O Aniversário do Demônio”, que tem um título nacional mal escolhido, sendo melhor uma tradução literal do original (“Pequenos Demônios: O Nascimento”), é um filme assumidamente trash ao extremo, muito ruim em todos os sentidos, desde história ridícula cheia de clichês e crateras no roteiro com piadas sem graça, passando pelos atores completamente inexpressivos (salvando-se apenas a atriz Nancy Valen, não pela atuação e sim apenas por sua beleza notável), e culminando com efeitos especiais grotescos e extremamente toscos. Mas, o problema maior é que o filme não diverte, é uma bomba intragável, ao contrário de outras bagaceiras que conseguem divertir justificando a existência de uma legião de apreciadores desse estilo de cinema.
Apesar da intenção clara dos responsáveis pelo projeto em fazer um filme ruim e que tenta parodiar o próprio gênero, o resultado final não conseguiu agradar, nem como comédia, nem como horror, nem como trash, nem como filme “B”, nem como porra nenhuma...

A história, completamente desprovida de lógica, mostra um jovem cientista nerd, Lionel Gray (Wayne McNamara), envolvido numa experiência macabra onde ele fazia esculturas de pequenos demônios, a partir da lama gosmenta retirada de um fosso que se encontrava numa cripta em um cemitério isolado. Descobrindo que havia uma inteligência maligna vivendo no fosso, ele é mentalmente manipulado para dar forma física a essa entidade, criando pequenas criaturas diabólicas (aliás, bonecos toscos de tão mal feitos), que gostavam de se armar para atacar as pessoas, utilizando desde maçaricos incineradores e arremessadores de dardos mortais, até bombas pulverizadoras de ácido corrosivo.
Para tentar salvar o planeta dos monstrinhos, surge o escritor Ed Reid (Marc Price), vizinho de quarto de Lionel na pensão onde ambos moram, de propriedade da lunática Sra. Clara Madison (Stella Stevens), uma mulher pervertida sexualmente e que é tarada pela limpeza do carpete da pensão. Para ajudar o péssimo escritor no combate aos diabinhos, temos a bela Lynn (Nancy Valen), que obviamente vai se apaixonar fazendo com Ed o par romântico e casal de heróis, além de um médico do tipo “amigo de todos”, o Dr. Clapton (Russ Tamblyn), que tem o hábito de servir de psiquiatra nas horas de folga para um grupo bizarro de malucos que vivem nas ruas (sendo que um deles é interpretado pelo próprio roteirista Elliott Stein).
A partir daí, temos os pequenos demônios massacrando algumas pessoas totalmente dispensáveis para a humanidade, utilizando suas armas exóticas, e o confronto entre eles e os heróis para evitar que o mundo esteja a um passo do verdadeiro inferno (como diz uma tagline na contra capa do DVD), sendo que nós, que estamos testemunhando essa história, estamos a um passo de jogar o filme no lixo e mandar seus realizadores para o inferno.

Não vale a pena gastar muita energia para comentar ainda mais essa tralha, mas não consigo deixar de citar algumas coisas: em nenhum momento aparece algum policial para investigar as várias mortes violentas; a arma utilizada para os heróis destruírem os demônios é um refrigerante, que derrete as criaturas (não dá nem para rir dessa solução tão ridícula); em determinado momento, o médico Dr. Clapton está precisando de um medicamento que está em seu consultório para ajudar a curar o cientista nerd, e pede para os demônios trazerem o remédio, mostrando para eles o nome num bilhete (para o roteirista os diabinhos sabem ler); em outro momento, Lynn e Ed estão presos no apartamento de Lionel, vigiados por alguns monstrinhos, e a moça faz um comentário sobre a situação surreal que enfrentavam, “Isto está parecendo ficção científica”, e o escritor responde, “Na verdade, o estilo certo é terror”. Ainda reproduzindo frases do roteiro, não posso deixar de citar uma dita pelo Dr. Clapton quando atacava os demônios com o refrigerante: “Isso mata o inimigo... e refresca quem o usa”. Deveria ser engraçado, mas não funcionou. E para finalizar, temos um desfecho em meios aos letreiros que é ridículo demais e prefiro nem comentar.

“O Aniversário do Demônio” foi lançado em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, sem materiais extras e com imagens em “full screen”, sendo um dos piores filmes de seu catálogo, juntamente com tranqueiras como “Cemitério Macabro” (92), “Pelotão Vampiro” (91), “Invasão Mortal” (95) e “Werewolf – A Noite do Lobo” (96). Ainda bem que para compensar, a distribuidora lançou também diversos outros filmes indispensáveis como “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (63), “Drácula – O Príncipe das Trevas” (66), “O Homem de Palha” (73), “Suspiria” (77), “Despertar dos Mortos” (78), “Zombie – A Volta dos Mortos” (79), entre vários outros.

“O Aniversário do Demônio” (Little Devils: The Birth, Canadá, 1993) # 392 – data: 22/07/06 – avaliação: 2 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 23/07/06)

Olhos de Fogo (1983)


No século XVIII, por volta de 1750, quando os Estados Unidos ainda tinha seu território ocupado pela Inglaterra e França, um falso pastor católico, Will Smythe (Dennis Lipscomb), é acusado de adultério e poligamia pelos aldeões de um vilarejo chamado Dalton´s Ferry. Enfurecidos com a conduta imoral do reverendo, os moradores tentam puni-lo sentenciando-o à morte por enforcamento, mas ele é salvo no último momento pelos poderes sobrenaturais de uma jovem, Leah (Karlene Crockett), que tem a capacidade de premonição e mover objetos com a mente, e cuja mãe havia sido executada na fogueira acusada de feitiçaria.
O padre então é expulso da cidade viajando em direção à floresta procurar um lugar para viver, sendo acompanhado por um grupo de seguidores, formado por Eloise Dalton (Rebecca Stanley), a mulher que abandonou o marido sempre ausente (um caçador chamado Marion, interpretado por Guy Boyd) para ser amante do pastor, além de sua filha adolescente Fanny (Sally Klein), e outras duas famílias: Jewell Buchanan (Rob Paulsen), sua esposa Margaret (Kenny Sherman) e filha pequena Cathleen (Caitlin Baldwin), e o veterano Calvin (Will Hare), sua esposa Sister (Fran Ryan) e neta Meg (Erin Buchanan).
No caminho à procura de um lar, eles são atacados por índios Shawnee e recebem a ajuda de Marion, o marido traído que tenta reconquistar a esposa, e após se estabelecerem num vale utilizando algumas cabanas parcialmente destruídas como abrigo, eles passam também a enfrentar uma série de acontecimentos bizarros na floresta com aparições de fantasmas perturbados, aprisionados por uma terrível e ameaçadora bruxa.

Com roteiro e direção de Avery Crounse, e duração de apenas 84 minutos, “Olhos de Fogo” (Eyes of Fire, Estados Unidos, 1983) é um daqueles filmes que depois de ver a capa do DVD e ler a sinopse, inicialmente podemos até esperar algo descartável e facilmente esquecível, mais um outro filme trivial em meio a tantos que são lançados todos os anos, apenas mais uma história sobre lendas antigas e uma bruxa cruel.
Porém, ao contrário, trata-se de uma agradável surpresa, com um roteiro atraente misturando elementos de western (pioneiros viajando por terras perigosas e selvagens) com horror (entidades sobrenaturais que controlam a floresta), explorando de forma interessante as lendas folclóricas locais que falam de espíritos malignos habitando as árvores e o solo, e que estão à procura de mais almas para aumentar a legião de atormentados em seu mundo de escuridão.
E tudo isso filmado com o auxílio de efeitos especiais simples, típicos de uma produção de baixo orçamento, mas com resultados bastante eficientes, principalmente na caracterização da bruxa, interpretada por Russell James Young Jr., que atuou coberto por uma maquiagem sinistra com ênfase nos ameaçadores “olhos de fogo” do título da película.

“Olhos de Fogo” já havia sido lançado no Brasil em vídeo VHS (pela “Jaguar”, fora de catálogo há muito tempo), e também foi distribuído em DVD pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”, imagens em “full screen”, trazendo como materiais extras a biografia do cineasta Avery Crounse e do ator Dennis Lipscomb, além de uma breve sinopse. O filme é também conhecido pelo título alternativo original “Cry Blue Sky”, e entre as taglines de divulgação tem uma bem interessante que vale a citação: “Quando a América era jovem e espíritos malignos reinavam numa floresta de escuridão”.

“Olhos de Fogo” (Eyes of Fire, 1983) # 391 – data: 16/07/06 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 17/07/06)

Premonição 3 (2006)


De todas as franquias desse início de século XXI no cinema de horror, uma que tem recebido destaque é “Premonição”, que se iniciou em 2000 e que teve mais duas seqüências, uma em 2003 e outra em 2006, “Premonição 3” (Final Destination 3), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 07 de Julho. Os três filmes tem a mesma premissa, ou seja, a idéia básica é comum em todos eles: uma premonição envolvendo um acidente violento faz com que parte das vítimas fatais seja impedida de participar da tragédia e conseqüentemente conseguindo salvar suas vidas, enganando a “morte”, que por sua vez, como se fosse uma entidade consciente, passa a perseguir os sobreviventes para reparar o erro.
Mas se os três filmes tem o mesmo tipo de argumento central, e ainda contam com clichês irritantes como a presença de alguns adolescentes idiotas e descartáveis entre os personagens (felizmente apenas fazendo os papéis de candidatos para morrerem de forma violenta), por que a franquia “Premonição” tem um certo destaque entre tantas outras? Na minha opinião, o destaque fica por conta justamente das longas e muito bem filmadas cenas dos acidentes, a explosão de um avião na decolagem no primeiro filme, uma catástrofe numa rodovia no filme seguinte, e uma tragédia num parque de diversões envolvendo uma montanha russa no terceiro episódio. E também por todas as cenas de assassinatos posteriores dos sobreviventes dos acidentes, sempre com os roteiros procurando apresentar mortes violentas e criativas. Esses são basicamente os motivos que diferem essa franquia da maioria dos filmes similares dentro do subgênero “horror adolescente”.

Em “Premonição 3”, dirigido por James Wong (o mesmo cineasta do original), e escrito por ele em parceria com Glen Morgan, a partir dos personagens criados por Jeffrey Reddick, um grupo de estudantes está comemorando a formatura numa noite de diversão num parque repleto de atrações para instigar a adrenalina. Entre eles estão dois casais de namorados, a bela Wendy Christensen (Mary Elizabeth Winstead) e Jason Robert Wise (Jesse Moss), e Kevin Fischer (Ryan Merriman) e Carrie Dreyer (Gina Holden), entre outros jovens com cérebro pouco desenvolvidos como as garotas Ashley Freund (Chelan Simmons) e Ashlyn Halperin (Chrystal Lowe), que gostam de exibir seus corpos esculturais, Frankie Cheeks (Sam Easton), um nerd que gosta de filmar tudo com sua câmera de vídeo, Lewis Romero (Texas Battle), um cara atlético também com cérebro reduzido em comparação com a massa muscular, o casal Ian McKinley (Kris Lemche) e Erin Ulmer (Alexz Johnson), e a irmã de Wendy, Julie Christensen (Amanda Crew).
As coisas passam a se complicar quando Wendy tem uma premonição onde visualiza um terrível acidente com ela e seus amigos na montanha russa. Confusa com a alucinação, ela tenta impedir os amigos de fazerem o passeio turbulento, mas somente alguns desistem. Com a confirmação do acidente, ela se une a Kevin, deixando de lado suas diferenças, e tenta alertar os outros sobreviventes do perigo a espreita, pois agora todos eles passam a ser candidatos a morrerem de forma violenta através de pistas deixadas em fotografias aleatórias tiradas no parque naquela noite fatídica, e tentam se organizar para defenderem suas vidas e enganar a morte novamente.

Pela sinopse acima, e para quem viu os outros dois filmes anteriores da franquia, podemos facilmente constatar que o argumento básico é realmente o mesmo, e que a única diferença está no tipo de acidente, nos assassinatos violentos dos sobreviventes e a forma deles tentarem escapar novamente da morte, sempre impiedosa e triunfante. Mas, mesmo sabendo a história central comum em todos os filmes, não podemos ficar indiferentes nas excepcionais cenas dos acidentes, carregados de tensão e violência, e também nas mortes bastante sangrentas nos eventos depois das tragédias. Por isso tudo, fico até imaginando como seria uma “Premonição 4”, pensando no tipo de acidente grave em que os roteiristas escolheriam...

Em tempo, vale citar algumas curiosidades:
* como as filmagens utilizaram locações no Canadá (inclusive o parque de diversões), a maior parte do jovem elenco é formada por canadenses.
* o veterano ator Tony Todd (da refilmagem “A Noite dos Mortos-Vivos”, 90, e “O Mistério de Candyman”, 92), que participou rapidamente dos dois filmes anteriores fazendo o papel de um personagem sinistro que trabalha num necrotério, Sr. William Bludworth, não apareceu neste terceiro episódio, numa decisão da dupla de roteiristas James Wong e Glen Morgan, que acharam que o misterioso personagem já não tinha mais motivos para continuar na franquia. Entretanto, ele participou emprestando sua voz cavernosa para a estátua do diabo que está na entrada da montanha russa.
* os personagens Lewis Romero e Jason Robert Wise tiveram seus nomes inspirados em personalidades conhecidas do cinema fantástico: Lewis vem do diretor Herschell Gordon Lewis (de bagaceiras como “Banquete de Sangue”, 63), Romero vem do pai dos mortos-vivos George Romero (responsável pelo clássico absoluto “A Noite dos Mortos-Vivos”, 68), e Robert Wise é o nome do diretor de pérolas como “O Túmulo Vazio” (45), “O Dia Em Que a Terra Parou” (51) e “Desafio ao Além” (63).

“Premonição 3” (Final Destination 3, 2006) # 390 – data: 10/07/06 – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 11/07/06)

Invasão Mortal (1995)


Em 1956, pela primeira vez as abelhas assassinas foram levadas da África para a América do Sul. Lá chegando, as abelhas africanas começaram a se reproduzir e se tornaram a raça dominante, causando centenas de mortes. Apesar dessa ameaça mortal, todos os esforços para evitar sua reprodução ou migração para o Texas e California falharam. Especula-se que até o final da década de 90, as abelhas assassinas terão se espalhado em quase todo o continente dos Estados Unidos. O que verão poderia ser uma história verdadeira...

A “Works Editora” é uma pequena empresa de distribuição de DVDs por aqui, sediada em Jundiaí, no interior de São Paulo, e que tem presenteado os fãs de Horror com dezenas de filmes valiosos que vão desde as preciosidades da nostálgica produtora inglesa “Hammer” até obras-primas dos anos 70 do século passado como “O Homem de Palha” (73), com Christopher Lee, “Suspiria” (77), de Dario Argento, e “Despertar dos Mortos” (78), de George Romero.
Mas, por outro lado, no catálogo da “Works” também temos vários filmes totalmente desnecessários e de qualidade muito ruim como “Cemitério Macabro” (92), “Werewolf – A Noite do Lobo” (96), “Pelotão Vampiro” (91) e o tema dessa resenha, “Invasão Mortal” (Deadly Invasion: The Killer Bee Nightmare, 95), uma produção especialmente para a televisão.
O filme faz parte do já extremamente explorado subgênero sobre ameaças contra a humanidade causadas por insetos, onde os roteiristas parecem nunca se cansar de tentar assustar em vão o público com invasões de aranhas, gafanhotos, lesmas, baratas, formigas, além de outros animais peçonhentos como ratos e cobras, e até os aparentemente inofensivos pássaros. No caso de “Invasão Mortal”, os insetos escolhidos pelos produtores são as temíveis abelhas, que já foram utilizadas numa infinidade de filmes anteriores.

Uma pacata cidade do interior do Estado americano da California, chamada Blossom Meadow, é invadida por um exército de abelhas assassinas. Uma família em especial, recém chegada de uma cidade grande, compra uma fazenda nas imediações. Ela é formada pelo advogado Chad Ingram (Robert Hays, da série de TV “Starman”, 1986/87), sua esposa Karen (Nancy Stafford), e os três filhos, os adolescentes Kevin (Gregory Gordon) e a bela Tracy (Gina Philips, de “Olhos Famintos”, 2001), além da caçula Lucy (Whitney Danielle Porter). Todos eles, e mais o amigo acéfalo de Kevin, Tom Redman (Ryan Phillippe, de “Ameaça Virtual”, 2001), são obrigados a se refugiarem no interior de sua casa devido um ataque de um enxame de abelhas que haviam sido perturbadas em suas colméias. Eles terão que unir forças para lutar e tentarem sobreviver da “invasão mortal” dos insetos furiosos que procuram de todas as formas entrar no território inimigo.

“Invasão Mortal” não apresenta cenas de ação, tensas ou carregadas de algum tipo de violência, com poucas mortes e todas filmadas fora da tela. O roteiro trivial procura especular (como pode ser visto na introdução do filme, reproduzida no início desse texto) as conseqüências de uma invasão de abelhas que conseguem matar as pessoas em seus ataques maciços quando incomodadas.
Mas a história é completamente banal, previsível (sabemos o que vai acontecer com antecedência e extrema facilidade) e repleta de furos absurdos (tem um personagem que aparece e desaparece do nada, chamado Pruitt Taylor Beauchamp, interpretado por Dennis Christopher, apresentando-se como um observador de insetos, só para explicar os hábitos das abelhas). Sem contar o desfile imenso de clichês do tipo “família isolada atacada por insetos” e “pai super herói que salva todos”. E com tudo isso, o roteiro não consegue em nenhum momento estabelecer uma interação com o espectador, na intenção mal sucedida de tentar transmitir um sentimento incômodo que seria causado pela ameaça de abelhas assassinas.
Os personagens são superficiais e óbvios demais, e o elenco contribuiu ainda mais para o desinteresse pela história, com interpretações inexpressivas, principalmente da garotinha Lucy (numa péssima atuação da atriz mirim) e do adolescente descerebrado Tom, um jovem idiota ao extremo, com inteligência menor que a de uma ameba, e com atitudes típicas de alguém que não faria nenhuma falta se fosse mortalmente picado pelas abelhas (e a atuação de Ryan Phillippe apenas confirmou essa impressão). O único interesse talvez seja a presença de Gina Philips, uma jovem de beleza admirável, apesar de atriz apenas mediana e que se limitou a chorar e resmungar de medo das abelhas.
O filme ganha uma nota 3 (de 0 a 10) apenas pelos esforços dos envolvidos no projeto, e é apenas recomendável para os colecionadores de filmes de horror que não se importam em possuir tranqueiras de todos os tipos em seus acervos.

“Invasão Mortal” (Deadly Invasion: The Killer Bee Nightmare, 1995) # 389 – data: 08/07/06 – avaliação: 3 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 09/07/06)

Horas de Desespero (1955)


Os atores Humphrey Bogart (de “Casablanca”, “Relíquia Macabra” e “O Tesouro de Sierra Madre”) e Fredric March (o Dr. Jekyll e o Sr. Hyde na versão de 1932 de “O Médico e o Monstro”) fazem parte de uma galeria seleta que reúne os principais profissionais da arte de atuar na história de mais de um século de cinema. E a única vez em que eles atuaram juntos foi num clássico absoluto do suspense, “Horas de Desespero” (The Desperate Hours, 1955), dirigido por William Wyler, com roteiro de Joseph Hayes (baseado em seu livro), e que foi lançado em DVD no Brasil pela “Paramount” (antes, havia sido lançado em VHS pela “CIC”).

Três criminosos altamente perigosos escapam de um presídio. Eles são os irmãos Glenn Griffin (Bogart) e o jovem Hal (Dewey Martin), além do grosseiro Samuel Kobish (Robert Middleton, que tem cara de vilão), cujo planejamento de fuga inclui uma parada estratégica numa casa de família para pousarem enquanto aguardam a chegada de dinheiro enviada pela namorada de Glenn, que financiaria a fuga. A família escolhida é formada pai Dan C. Hilliard (March), um executivo bem sucedido, sua esposa Eleanor (Martha Scott), e um casal de filhos, o pequeno Ralph (Richard Eyer) e a bela Cindy (Mary Murphy), de 19 anos. A liderança nas investigações e perseguição aos fugitivos da cadeia está inicialmente nas mãos do agente do FBI Carson (Whit Bissell, da série de TV “O Túnel do Tempo”), que por sua vez repassa a responsabilidade para o Xerife Jesse Bard (Arthur Kennedy), policial experiente e que já tinha capturado Griffin no passado, estabelecendo uma rivalidade entre eles.
Enquanto o tempo passa, com a família de Hilliard refém dos assassinos, uma terrível luta psicológica vai aumentando cada vez mais em intensidade entre o patriarca para salvar sua família, e o líder dos criminosos para conseguir o dinheiro e poder escapar da polícia, até culminar num desfecho carregado de tensão.

Na história do filme, são muitas “horas de desespero” enfrentadas por uma família comum dentro de sua própria casa, nas mãos de assassinos. E quando assistimos, são quase duas horas de um suspense crescente, numa trama que de aparentemente simples (família refém de bandidos), torna-se complexa e cheia de reviravoltas, convidando-nos a interagir com o drama dos personagens e também com a frieza calculista do líder do bando, interpretado de forma magistral por Humphrey Bogart. E a seqüência final é antológica e digna de ficar na memória de todo fã de cinema, com o ápice da batalha psicológica entre um homem obstinado em defender sua família e um homem que não tem nada a perder em sua vida de delitos, mas que tenta a todo custo escapar ileso da perseguição policial.
“Horas de Desespero” é um thriller recomendável para quem aprecia aquelas produções maravilhosas da década de 50 do século passado, fotografadas em preto e branco, e que traziam elencos excepcionais como esse formado por Humphrey Bogart e Fredric March. Curiosamente, em 1990 a história foi refilmada pelo diretor Michael Cimino e protagonizada por Mickey Rourke e Anthony Hopkins.

“Horas de Desespero” (The Desperate Hours, 1955) # 388 – data: 01/07/06 – avaliação: 9 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 02/07/06)