Sete Dias Para Viver (2000)


A quantidade de filmes que são produzidos todos os anos abordando casas assombradas por fantasmas é tão grande que até torna-se difícil conseguir acompanhar o ritmo dos lançamentos. Histórias de fantasmas e assombrações sempre foram temas muito atraentes e bastante utilizados pelo cinema de horror, e em muitos casos com resultados bem satisfatórios.
Mia um exemplo positivo disso é o filme “Sete Dias Para Viver” (Seven Days to Live, 2000), uma produção simples e despretensiosa, que poderia estar tranquilamente perdida no meio das centenas de filmes de horror que surgem constantemente, mas que consegue contar uma história interessante e envolvente transformando-se num exemplo de thriller sobrenatural acima da média.
Dirigido pelo alemão Sebastian Niemann, escrito pelo também alemão Dirk Ahner, e numa co-produção entre Estados Unidos, República Tcheca e Alemanha, a história é sobre um casal formado pelo escritor Martin Shaw (o ator inglês Sean Pertwee, de “Cães de Caça”, 2002) e sua esposa Ellen (Amanda Plummer, de “Os Anjos Rebeldes”, 95), que se mudam para um casarão abandonado há anos no meio do mato, para se isolarem da rotina das grandes cidades e tentar esquecer uma tragédia recente envolvendo a morte de seu único filho, em condições pouco comuns (o garoto de oito anos morreu asfixiado ao engasgar-se com um inseto acidentalmente). O retiro para as proximidades de uma cidade do interior tinha como objetivo também o encontro do sossego necessário para Martin poder escrever um novo livro de sucesso, pressionado por seu editor e amigo, Paul (Sean Chapman, de “Hellraiser”, 87, e “Hellbound”, 88), já que seus dois livros anteriores tinham sido um fracasso de mercado.
Porém, em vez de paz e tranquilidade, o casal encontra na nova moradia, uma sinistra e enorme casa com arquitetura gótica, um série de eventos sobrenaturais e fantasmagóricos informando misteriosamente para Ellen que ela teria apenas sete dias para viver (daí o nome original do filme, corretamente traduzido em sua forma literal), com esse número diminuindo gradativamente com o passar do tempo. Os estranhos sinais recebidos pela mulher variavam de uma placa na estrada informando quantos dias ainda tinha para viver, passando por uma mensagem no rádio e o aviso de uma senhora internada num hospício. Paralelamente a isso, Ellen também passa a ter alucinações e visões com seu filho morto, levando-a a questionar sobre sua própria sanidade, enquanto seu marido tenta escrever o livro demonstrando também um comportamento estranho, sendo cada vez mais agressivo em relação à esposa.
Ellen decide então procurar um médico na cidade, o Prof. Ed Saunders (Julian Curry), para discutir sobre a ocorrência das visões e dos fatos misteriosos, e também faz uma investigação para tentar descobrir alguma informação histórica sobre a estranha casa onde estão morando. Nisso ela entra em contato com o ex-policial Carl Farrell (Nick Brimble, que foi a criatura em “Frankenstein, O Monstro das Trevas”, 90, de Roger Corman), que havia enfrentado um misterioso caso de assassinato no mesmo local vinte e três anos antes, em 1976. A partir daí, Ellen descobre revelações interessantes com um antigo morador do casarão, Frank Kosinski (Chris Barnes), internado num manicômio acusado de assassinato da esposa, além de ter que lutar desesperadamente por sua vida enfrentando a fúria violenta do marido, possuído por uma força maligna, além da manifestação de uma legião de fantasmas atormentados de pessoas que foram mortas afogadas durante a Idade Média num sombrio pântano próximo à casa.
“Sete Dias Para Viver” não apresenta uma história original, e lembra filmes similares no estilo de “O Iluminado” (The Shinning, 1980) e “Poltergeist, o Fenômeno” (Poltergeist, 82), além de idéias já bem exploradas em filmes como o japonês “Ringu” (98), que mais tarde foi refilmado nos Estados Unidos como “O Chamado” (The Ring, 2002), principalmente no fato do anúncio dos sete dias até a morte da protagonista. Mas ainda assim, mesmo com os clichês habituais dos filmes de fantasmas, a história consegue prender a atenção durante todo o tempo, incitando o espectador a acompanhar o drama vivido por Ellen Shaw, traumatizada pela morte do filho em circunstâncias não convencionais, e que torna-se vítima de uma força maligna que habita sua nova casa. Entre os pontos positivos destacam-se a própria casa com seu visual de uma construção antiga e que parece ter vida própria, além das cenas de alucinações de Ellen, a aparição do fantasma de seu filho morto, e a sequência final com os espíritos atormentados no porão. De negativo, temos o óbvio desfecho previsível, numa escolha sempre equivocada da grande maioria dos cineastas em optar por mostrar uma conclusão feliz e convencional.
Porém, para aqueles fãs não muito exigentes e que procuram uma diversão rápida, através de uma boa história de suspense com elementos sobrenaturais, “Sete Dias Para Viver” é mais uma interessante recomendação.

“Sete Dias Para Viver” (Seven Days to Live, 2000) # 229 – data: 21/03/04 – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 31/05/06)

Scooby-Doo (2002)


Uma famosa e popular série de desenho animado criada em 1969 pela dupla William Hanna e Joseph Barbera, foi transformada em filme pela produtora Warner e lançada nos cinemas brasileiros em 04/10/02.
Scooby-Doo” (Scooby-Doo) é um cachorro falante que acompanha um grupo de jovens detetives que viajam numa van chamada “Máquina do Mistério” envolvendo-se com supostos casos sobrenaturais, casas assombradas, aparecimento de fantasmas e monstros, que revelam-se posteriormente apenas encenações de criminosos falsários. Essa é a temática básica do desenho animado que foi adaptado para o cinema num filme dirigido por Raja Gosnell e estrelado na maioria por jovens conhecidos em filmes de horror adolescente como Matthew Lillard (“Pânico” e “13 Fantasmas”), que interpreta Salsicha, um rapaz alto, magro, medroso e sempre faminto; Freddie Prinze Jr. (“Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”), como o playboy convencido Fred Jones; Sarah Michelle Gellar (“Buffy – A Caça Vampiros”), como Daphne Blake, a bonitinha e desastrada do grupo; e Linda Cardellini (“Mórbido Silêncio”), como a estudiosa e inteligente Velma Dinkley. Já o cachorro Scooby-Doo é totalmente criado por computador e sua voz original é dublada por Scott Innes.
Juntos eles formam a agência de detetives “Mistério S.A.”, que por desentendimentos de egos entre seus integrantes, estava temporariamente desativada até que retorna suas atividades quando todos recebem um convite para visitarem um obscuro parque de diversões com temática fantasmagórica chamado de “Ilha do Terror” (Spooky Island), comandado pelo vilão Emile Mondavarious (Rowan Atkinson, o popular comediante Mr. Bean da televisão inglesa). Chegando à ilha, eles são recrutados para uma missão de investigação de um mistério envolvendo um artefato mágico capaz de invocar uma antiga raça de criaturas demoníacas que desejam tomar o poder do planeta através de um macabro ritual de sacrifício de uma alma pura. Ao contrário das brincadeiras do parque, seu proprietário Mondavarious, como todo tradicional cientista louco, planeja conquistar o mundo com o auxílio de possíveis fantasmas reais que habitam o lugar.
Eu particularmente acompanhei o desenho animado no início dos anos 1970, assim como vários outros do mesmo período da dupla especialista Hanna & Barbera, e sempre gostei de “Scooby-Doo” apesar de que preferia que as soluções dos casos misteriosos tivessem realmente um motivo sobrenatural, que seria mais divertido e interessante, do que os desfechos banais desvendando as eventuais farsas por trás de tudo. E também não sou muito simpatizante de adaptações desses desenhos clássicos para o cinema com atores de carne e osso, fato que remete praticamente à idéia de interesse econômico dos produtores visando apenas seus sempre garantidos lucros, pois o orçamento de “Scooby-Doo” ficou em torno de US$ 84 milhões e a renda das bilheterias gerou cifras muito superiores ao investimento gasto.
O filme de “Scooby-Doo” tem belos efeitos especiais, cenários coloridos, momentos engraçados (como a competição de gases entre o cachorro falante e seu amigo Salsicha, ou ainda a disputa entre eles para ver quem come mais pimentas, com um resultado catastrófico), porém a história é a mais óbvia possível, num desfile sucessivo de clichês que apenas garantem um divertimento rápido e descartável. Além de ser um filme comum, ainda tive a enorme dificuldade em conseguir assistir uma versão legendada, pois os distribuidores preferiram priorizar as cópias dubladas. Comercialmente eles até estão certos, pois o público claramente prefere a dublagem, fato que explica a sala vazia da minha sessão em que fui o único espectador. O “Scooby-Doo” do cinema valeu mais por relembrar a existência do desenho animado, que povoou o imaginário da infância de muita gente e por muito tempo, estimulando novamente um agradável sentimento de nostalgia. Fora isso, é apenas outro filme sem nada de especial, gerando unicamente alta lucratividade aos executivos do cinema de entretenimento.

“Scooby-Doo” (Scooby-Doo, 2002) – avaliação: 5,5 (de 0 a 10)
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Rota da Morte (2003)


Uma prova que ainda existem ótimos filmes de horror sendo produzidos atualmente está em “Rota da Morte” (Dead End, 2003), dirigido e escrito por Jean-Baptiste Andréa e Fabrice Canepa, e lançado em DVD no Brasil pela “Europa”.
A história é praticamente toda ambientada numa estrada à noite, onde na véspera do Natal uma família formada pelo pai (interpretado por Ray Wise), a mãe e um casal de filhos adolescentes, mais o namorado da filha, está viajando rumo a uma confraternização familiar com outros parentes. Mas a aparição de uma mulher sinistra na estrada, segurando misteriosamente um bebê no colo, mudaria o rumo de suas vidas conduzindo-os para uma “rota da morte”.
O filme lembra um episódio estendido da nostálgica e cultuada série de TV “Além da Imaginação”, onde um roteiro simples com poucos personagens transforma-se numa interessante diversão com reviravoltas, surpresas, diversos elementos de horror e um desfecho satisfatório. Altamente recomendável.

“Rota da Morte” (Dead End, Estados Unidos / França, 2003) # 375 – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
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Rollerball (2002)


Para aumentar ainda mais as estatísticas com a grande quantidade de refilmagens de filmes antigos que tem invadido o cinema americano atual, demonstrando a escassez de idéias novas dos produtores e roteiristas, em 27/09/02 estreou no Brasil o filme de ação com elementos de ficção científica “Rollerball” (Rollerball), dirigido e produzido por John McTiernan (de “Duro de Matar” e “O 13o Guerreiro”).
A fita foi inspirada no filme homônimo de 1975, de Norman Jewison, com James Caan no elenco e que teve o título nacional de “Rollerball – Os Gladiadores do Futuro”. Nele, a ação se passa no século 21 onde um esporte popular e violento misturando futebol americano e hóquei era utilizado para distrair as pessoas.
O novo “Rollerball” é ambientado no Cazaquistão e países vizinhos, onde o grande lazer das pessoas é acompanhar pela TV a prática de um esporte futurista radical e extremamente violento, com os competidores utilizando patins e motocicletas numa arena especial tendo como objetivo o arremesso de uma bola de ferro contra uma espécie de gol.
Os maiores astros desse brutal esporte são o jovem americano Jonathan Cross (Chris Klein, visto no drama da Guerra do Vietnã “Fomos Heróis”), seu amigo Marcus Ridley (o rapper LL Cool J) e a bela Aurora (Rebecca Romjin-Stamos). Eles acabam descobrindo e tentam denunciar um sistema de corrupção com sabotagens nos jogos visando aumentar a violência do esporte colocando em risco a vida dos participantes e consequentemente crescendo de forma significativa os índices de audiência com o fortalecimento dos interesses comerciais envolvendo contratos com emissoras de TV de um perigoso e inescrupuloso empresário, Alexi Petrovich (o francês Jean Reno), que tem ligações com a máfia russa e é o idealizador do “rollerball”.
Curiosamente, a mesma temática foi explorada também em “O Sobrevivente” (The Running Man, 1987), estrelada por Arnold Schwarzenegger e com história baseada em obra do escritor Stephen King, onde um esporte montado numa arena mortal obriga os participantes a correrem por suas vidas, sendo perseguidos por assassinos fortemente armados, e tudo com exibição ao vivo pela televisão, manipulando a selvageria oculta no público espectador.
A versão de 2002 de “Rollerball” está repleta de muita ação, movimentos rápidos de câmera, perseguições com motos e patins, homens arremessados aos ares com suas roupas e máscaras coloridas e muita porrada e violência gratuita, tendo como trilha sonora um rock pesado ao som principalmente da banda de New Metal “Slipknot”.
O tema da história é até interessante, explorando a existência de um esporte mortal para saciar a sede de violência e selvageria da humanidade, que sempre sentiu prazer em ver o sangue alheio. A história da raça humana está repleta de citações parecidas como as atrocidades cometidas na época dos gladiadores de Roma, com lutas sangrentas até a morte ou pessoas sendo devoradas vivas por animais selvagens em arenas lotadas de espectadores, ou ainda as execuções de feiticeiras sendo queimadas vivas nas estacas na época da Inquisição Européia. Sem contar os condenados à decapitação na guilhotina na Revolução Francesa, ou os enforcamentos para os infratores da lei no velho oeste americano, tudo devidamente acompanhado por multidões ensandecidas.
Porém, “Rollerball” é apenas mais um filme comum com um roteiro convencional no mais puro clichê. Os atores estão inexpressivos, não poupando nem o experiente Jean Reno (de “Godzilla” e “Rios Vermelhos”) no papel do vilão. O desfecho é altamente previsível tornando a produção descartável e justificando as razões do fracasso de bilheteria que acabou arrecadando muito menos do que foi gasto no orçamento milionário (algo em torno de US$ 70 milhões). “Rollerball” acaba servindo unicamente como um passatempo rápido por suas cenas de ação bem filmadas, só que numa história quase nula que poderia ser bem melhor trabalhada, e não apenas transformada em exposição de violência gratuita.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 13/06/05, pela TV Globo, na sessão “Tela Quente”.

“Rollerball” (Rollerball, 2002) – avaliação: 3,5 (de 0 a 10)
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Retratos de Uma Obsessão (One Hour Photo, EUA, 2002)


O ator Robin Williams construiu sua carreira de sucesso principalmente por seus papéis de comediante em vários filmes que conquistaram as platéias pelo mundo. Porém, ele tem ultimamente procurado escolher personagens mais dramáticos e curiosamente interpretou um escritor assassino em “Insônia”, filme dirigido por Christopher Nolan e com Al Pacino e Hilary Swank no elenco, e agora ele é um psicopata obsessivo em “Retratos de Uma Obsessão” (One Hour Photo), que entrou em cartaz nos cinemas em 06/09/02.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)
Dirigido e escrito pelo novato Mark Romanek, o filme é um thriller psicológico onde Williams interpreta Seymour Parrish, apelidado de “Sy”, um funcionário de uma grande loja de departamentos, sendo o responsável pela seção de revelação rápida de fotografias em uma hora (daí o título original). Dentre os seus vários clientes fiéis, ele passa a ficar obcecado por uma família tradicional formada pela bela mãe Nina Yorkin (Connie Nielsen), seu marido empresário William (Michael Vartan), e o filho pequeno do casal, Jake (Dylan Smith), de 9 anos de idade.
Parrish revela-se na verdade um homem perturbado pela solidão com uma natureza psicótica explicada pela estranha coleção de fotos da família Yorkin, que ele montou ao longo dos anos acompanhando desde o matrimônio do casal e o nascimento do filho até os dias atuais, expondo numa parede de um quarto de sua casa. Transformando-se numa espécie de guardião secreto da família, ele tem atitudes estranhas como espionar a casa deles quando não estão presentes (e até imaginar frequentando o local como sendo o fantasioso tio Sy do pequeno Jake), ou assistir os treinos de futebol do garoto. As coisas começam a ficar tensas quando ele descobre em uma foto que revelou de uma cliente, Maya Burson (Erin Daniels), uma antiga colega de escola de Will Yorkin, que eles estavam tendo um romance, com Will traindo a confiança de sua esposa. Simultaneamente, por ser alvo de investigação de seu gerente, Bill Owens (Gary Cole), que descobriu numa auditoria uma enorme defasagem entre a quantidade de negativos e fotos reveladas ao longo dos anos, Parrish perde o emprego por copiar ilegalmente centenas de fotos, cobrindo uma parede de sua casa com retratos de “sua família favorita”.
Uma vez transtornado pela perda do emprego de sua vida e revoltado com Will Yorkin pela traição com a esposa, Parrish resolve delatar secretamente o caso de adultério para Connie, iniciando uma vingança particular contra Will e a amante Maya e principalmente demonstrando sua perigosa insanidade. Para complicar a situação, ele passa a ser perseguido por um detetive da polícia, Van Der Zee (Eriq La Salle), que começou a investigá-lo após uma denúncia do gerente do shopping que despediu Parrish, devido uma suposta ameaça contra a sua família na forma de fotos que Parrish tirou de sua filha e enviou ao gerente.
“Retratos de uma Obsessão” é um suspense psicológico narrado de forma bem pausada, sem muita ação, correrias ou violência. É a história de um homem solitário e sua misteriosa obsessão por fotografias e em especial por uma família tradicional que poderia ser a sua, já que ele se imagina como um membro dela, algo que não existe em sua vida e o principal motivo de sua perturbação mental. Os eventos são todos apresentados devagar onde vamos conhecendo o personagem doentio Sy Parrish e seu fascínio incomum pela família Yorkin.
Robin Williams está muito bem no papel do obcecado funcionário da loja de fotos e vem consolidando cada vez mais seu talento como ator em performances variadas. O diretor Mark Romanek é estreante e começou de forma positiva, trabalhando com um grande astro e fazendo um filme diferente, distanciando-se dos convencionais similares.
Um destaque é uma cena de pesadelo de Parrish, onde ele está parado em pé num corredor comprido e todo branco, e repentinamente seus olhos começam a jorrar enormes jatos de sangue. Como curiosidade, num momento em que Parrish está em sua casa, a televisão está exibindo o clássico da ficção científica “O Dia em que a Terra Parou” (The Day the Earth Stood Still, 1951), uma produção em preto e branco dirigida por Robert Wise, numa sequência onde o ator Michael Rennie, interpretando um alienígena humanóide enviado pela “Federação dos Planetas”, está fazendo um discurso em frente a sua nave recém aterrissada, exigindo o fim das guerras e a paz na humanidade pela força ou a Terra seria eliminada.
Para os fãs do trabalho de Robin Williams e apreciadores de filmes psicológicos, “Retratos de uma Obsessão” é indicado como uma boa opção de entretenimento, explorando mais uma das facetas da misteriosa mente humana.

“Retratos de Uma Obsessão” (One Hour Photo, EUA, 2002) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
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O Retorno da Múmia (2001)


Em 18 de maio de 2001 entrou em cartaz a continuação de “A Múmia” (1999), agora com o título de “O Retorno da Múmia” (The Mummy Returns), novamente com o mesmo elenco base formado principalmente por Brendan Fraser, Rachel Weisz e John Hannah, acrescido agora com o garoto Freddie Boath e o astro da luta livre americana Dwayne “The Rock” Johnson, numa pequena participação como o “Rei Escorpião” (que até ganhou um filme solo em 2002).
Numa super produção de mais de 100 milhões de dólares e com a mesma direção do original de Stephen Sommers, o filme traz novamente as aventuras de Rick O´Connell (Fraser) que se casou agora com Evelyn (Weisz) e tiveram um filho (Boath). Eles se envolveram em novas confusões nos anos 30 em terras egípcias enfrentando múmias e exércitos sobrenaturais de criaturas malignas, à procura da misteriosa “Pirâmide de Ouro”.
Muita ação, aventura, efeitos especiais de primeira qualidade, porém, a exemplo do que já foi o primeiro filme da série, num roteiro repleto de clichês e situações previsíveis, com o casal de heróis arqueólogos podendo praticamente se considerar imortal pois nada consegue detê-los, com direito às piadas inevitáveis e até ressurreição da mocinha. Uma cena é digna de nota de tão hilariante: o momento em que um dirigível voador, fugindo em meio a um grande canyon, da ameaça mortal de uma avalanche de águas sobrenaturais que o perseguiam, aciona uma espécie de motor turbo que lhe dá imensa velocidade conseguindo obviamente escapar. É difícil aguentar o herói canastrão Brendan Fraser, mas apesar disso tudo e sem muita exigência, e devido à bela produção visual, podemos ainda assim passar bons momentos de diversão com esse filme que pode ser rotulado como uma espécie de “Indiana Jones do horror”.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 27/12/04, pela TV Globo, às 22:00 horas na sessão “Tela Quente”.

“O Retorno da Múmia” (The Mummy Returns, 2001) – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/05/06)

Resident Evil - O Hóspede Maldito (Resident Evil, 2002)


O fascinante cinema de horror possui dentro de sua extensa e diversificada temática fantástica vários sub-gêneros como por exemplo os filmes sobre monstros clássicos (Drácula, Criatura de Frankenstein, Lobisomem, Múmia, Monstro da Lagoa Negra, etc.); filmes sobre fantasmas e casas mal assombradas; filmes sobre cientistas loucos e suas invenções maléficas; filmes sobre vampiros em geral; filmes sobre possessões demoníacas e bruxaria; filmes “splatter” (excesso de sangue e violência); e os filmes sobre zumbis ou mortos-vivos. Essa última categoria tem como seu representante máximo o clássico “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Night of the Living Dead) produzido em preto e branco em 1968, dirigido pelo especialista George Romero e que gerou outras três sequências em 1978 (O Despertar dos Mortos), 1985 (O Dia dos Mortos) e 2005 (Terra dos Mortos), completando a trilogia. A história é basicamente a luta pela sobrevivência de um pequeno grupo de pessoas isoladas numa casa de campo sendo brutalmente atacadas por zumbis que foram contaminados por um misterioso vírus.
Muitos foram os filmes produzidos dentro dessa temática e um popular videogame chamado “Resident Evil” foi lançado em 1996 onde nele o jogador combate um grupo de mortais zumbis. Confirmando uma tendência do momento, com muitas adaptações de quadrinhos e games paras as telas do cinema, agora o jogo dos sanguinários mortos-vivos teve sua história filmada, aumentando ainda mais as estatísticas de produções desse sub-gênero do Horror.
Em 26/07/02 estreou no Brasil o filme homônimo “Resident Evil – O Hóspede Maldito” (Resident Evil), numa co-produção entre Alemanha e Inglaterra e dirigido por Paul W. S. Anderson, o mesmo de duas outras interessantes histórias de Ficção Científica com elementos de ação e horror, “O Soldado do Futuro” e “O Enigma do Horizonte”, e também de outra adaptação de game para as telas com “Mortal Kombat – O Filme”.
Tendo à frente do elenco duas belas mulheres, Alice (Milla Jovovich, de “O Quinto Elemento”) e Rain (Michelle Rodriguez, de “Velozes e Furiosos”), propositadamente portando grandes armas em papéis de heroínas mostrando habilidades em lutas, “Resident Evil” conta a história de um laboratório governamental subterrâneo, de propriedade da poderosa empresa “Umbrella Corporation”, conhecida por seus funcionários como a “Colméia”, por sua complexa arquitetura encravada no subsolo de uma cidade. O misterioso laboratório realiza experiências genéticas perigosas e secretas para uso militar, numa atividade ilegal de grande lucratividade. Todo o complexo é movimentado pelo trabalho de pesquisa de centenas de técnicos e cientistas e com a segurança coordenada por um super computador conhecido por “Rainha Vermelha”. A máquina controla todas as atividades e tem como responsabilidade garantir que em caso de algum acidente nada escape do laboratório ou tenha contato com o ambiente externo.
Porém, é justamente isso que acontece, um mortal vírus criado como arma química se liberta e contamina o laboratório transformando todos os funcionários em zumbis assassinos famintos por carne. Uma equipe ultra secreta de elite da própria Umbrella é então acionada para intervir nas instalações e desligar o computador central, porém eles descobrem também a existência da população de zumbis sanguinários e inicia-se então um combate mortal pela sobrevivência em meio ao caos instaurado no laboratório. Para complicar ainda mais a situação surge também um grupo de ferozes cachorros zumbis e uma criatura mutante enorme, fruto de uma fracassada experiência genética com o poderoso vírus.
Em “Resident Evil” encontramos muita ação, correrias, tiroteios, sangue, violência, destruição, ruínas, desespero e também inevitavelmente todos os exaustivos clichês característicos dos filmes de zumbis, elementos já largamente explorados pelo cinema em dezenas de produções similares. O roteiro, também escrito pelo diretor Paul Anderson, se esforça em apresentar várias reviravoltas e surpresas, procurando amarrar as tramas paralelas como a tentativa de roubo do vírus para vendê-lo no mercado negro com uma sabotagem no laboratório ou a também tentativa de coletar uma amostra do mortal vírus para servir de prova da ilegalidade da operação secreta e com isso concretizar a destruição da corporação.
A trilha sonora pesada, com músicas de Marilyn Manson, se encaixa bem na história, mas os elementos de horror resumem-se basicamente num grupo de pessoas tentando fugir de zumbis assassinos comedores de carne lutando bravamente por sua sobrevivência, lembrando “A Noite dos Mortos-Vivos” de George Romero. Apesar disso, e não sendo muito exigente, “Resident Evil” garante também algum entretenimento com sequências de sustos e violência, tendo a bela Milla Jovovich como a típica e corajosa heroína que lidera as ações, lembrando muito Natasha Henstridge em “Fantasmas de Marte”, de John Carpenter, em função similar na trama, ou ainda a já nostálgica Tenente Ripley interpretada por Sigourney Weaver no clássico “Alien” (79), de Ridley Scott.
Assim como o jogo é um sucesso popular, o filme também conquistou o público que aprecia horror e zumbis, pois já foi anunciada a produção para uma sequência que deverá se chamar “Resident Evil 2: Nemesis”, com a mesma direção de Paul Anderson, contando eventos anteriores e posteriores ao primeiro filme, já que seu desfecho procurou claramente uma forma de continuar a história. Pelo jeito, os zumbis continuarão conquistando o mundo e vagando à procura de carne...
Notas do Autor: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 31/10/05, pela TV Globo, na sessão “Tela Quente”, às 22:30 horas. Houve uma continuação que recebeu o nome de “Resident Evil: Apocalipse”, com direção de Alexander Witt e roteiro de Paul W. S. Anderson, e que estreou nos cinemas brasileiros em 08/10/04. O terceiro filme da série chamou-se “Resident Evil 3: A Extinção” (Resident Evil: Extinction, 2007), novamente com Milla Jovovich e Oded Fehr, e dirigido por Russell Mulcahy. Foi lançado nos cinemas brasileiros em 05/10/07. O quarto filme da série chamou-se “Resident Evil 4: O Recomeço” (Resident Evil: Afterlife, 2010), com estréia nos cinemas brasileiros em 17/09/10.
“Resident Evil – O Hóspede Maldito” (Resident Evil, 2002) – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/05/06)

Replicante (2001)


Em 11/05/2001 estreou nos cinemas brasileiros mais uma aventura de ficção científica e clonagem (a exemplo de “O Sexto Dia” com Arnold Schwarzenegger) amparada por modernos efeitos especiais. “Replicante” (Replicant) traz na liderança do elenco o ator belga nascido em 1960 e especialista em artes marciais, Jean-Claude Van Damme, que até esteve no Brasil para promover seu filme, participando de vários programas de televisão e demonstrando ser um sujeito simples, divertido e bastante simpático com o público e seus fãs em geral.
Ele interpreta um papel duplo, sendo um violento psicopata chamado Torch, conhecido por incendiar suas vítimas, normalmente jovens mães que supostamente não cuidavam bem de seus filhos, e também o seu clone que foi criado secretamente em laboratório pelo Serviço de Segurança Nacional através de uma experiência genética com uma amostra do DNA do criminoso, retirada do sangue encontrado numa das vítimas. Com o objetivo de combater o terrorismo, a experiência na criação de um replicante foi utilizada como teste pela polícia para tentar deter os crimes do serial killer incendiário.
Particularmente, não sou fã dos filmes de Van Damme, principalmente por parecerem todos iguais mostrando apenas lutas e pancadarias o tempo inteiro. O único filme dele que gostei realmente foi “Legionário”, que apresentou uma história interessante e onde o ator teve a oportunidade de interpretar um personagem mais dramático e com emoções, em meio à violência de guerra na época da invasão colonialista da Legião Estrangeira na África.
Porém, nesse “Replicante”, Van Damme parece atingir um outro bom momento em sua carreira, mostrando algumas qualidades como ator, ao lado do experiente Michael Rooker (de “Risco Total” e “O Colecionador de Ossos”), que com sua voz rouca interpreta o policial que acompanha a aprendizagem do clone e tenta dele obter as informações para capturar o psicopata. O filme é uma aventura futurista com muitos momentos de ação e lutas, além também de um pouco de humor, e que no final até garante um entretenimento razoável sem muita exigência.
Curiosamente, após o lançamento de “Replicante”, o ator Jean-Claude Van Damme, a exemplo de outros companheiros de profissão também marcados por seus filmes de pancadarias como Sylvester Stallone e Chuck Norris, passou a enfrentar um inevitável declínio em sua carreira, sendo que seus últimos filmes não ofereceram mais grande interesse comercial para serem lançados nos cinemas, tanto que foram distribuídos diretamente no mercado de vídeo.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 15/08/05 (Domingo), pela TV Record, às 20:30 horas, e curiosamente, na segunda exibição pela emissora, num Domingo também no mesmo horário, em 30/10/05, o nome do filme passou para “Experiência Mortal – O Replicante” (apenas para complicar ainda mais a já difícil tarefa dos pesquisadores em catalogar os filmes que são exibidos no Brasil pelos diversos nomes escolhidos).

“Replicante” (Replicant, 2001) – avaliação: 5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/05/06)

Reino de Fogo (2002)


Os dragões são criaturas mitológicas fascinantes que sempre povoaram o imaginário das pessoas com os piores pesadelos. Seres enormes alados cuspidores de fogo, são tradicionais monstros habitantes do universo da fantasia medieval e quando tornam-se personagens do cinema, despertam inevitavelmente um interesse especial. Assim ocorreu com o divertido “Coração de Dragão” (Dragonheart, 1996), estrelado por Dennis Quaid e com a voz do dragão dublada por Sean Connery, e também com o fraco “Dungeons & Dragons” (2000), com Jeremy Irons e Bruce Payne, que tem uma história inexpressiva, porém repleta de dragões que são a grande atração do filme. E agora, novamente outra produção com temíveis dragões foi lançada com estréia nos cinemas brasileiros em 25/10/02: “Reino de Fogo” (Reign of Fire), uma boa fita de ação com elementos de horror.
Com direção de Rob Bowman (“Arquivo X – o Filme”) e elenco principal jovem formado por Christian Bale (“Psicopata Americano”) e Matthew McCounaghey (“Contato”), a história começa mostrando o jovem estudante de doze anos Quinn (Ben Thornton) e sua mãe Karen, uma engenheira projetista, num trabalho de escavação nos subterrâneos do metrô de Londres. Acidentalmente as máquinas descobrem uma caverna que guardava um poderoso dragão oculto em estado de hibernação. Uma vez despertando o monstro, pertencente a uma raça que sempre existiu, sendo inclusive responsável pelo extermínio dos dinossauros no passado, e que permanecia apenas adormecida, esse trágico acontecimento deu início a uma catástrofe que destruiu a civilização e permitiu o domínio do planeta pelos dragões. Passados vários anos, em 2020, a ação volta-se para uma Inglaterra destruída e completamente dominada por bestiais dragões voadores que obrigam grupos isolados de humanos a viverem escondidos. Quinn (mais velho, agora interpretado por Christian Bale) é o líder de uma dessas comunidades que vive num subterrâneo de um antigo castelo em ruínas na região montanhosa de Northumberland. Em meio ao caos e auxiliado por seu amigo e primeiro imediato no comando, Dave Creedy (Gerard Butler), e depois pelo garoto Jared Wilke (Scott Mouttier), Quinn tenta encontrar uma forma de derrotar os monstros e devolver a liberdade para seu povo. Para ajudá-lo, surge um grupo de militares americanos fortemente armados, com sua típica e quase insuportável arrogância peculiar. Eles são liderados pelo general Denton Van Zan (Matthew McCounaghey), que viajaram até a Inglaterra com seus tanques terrestres e um helicóptero pilotado pela bela Alex Jensen (Izabella Scorupco). O objetivo era encontrar e matar o dragão macho reprodutor e consequentemente exterminar os demais monstros da face da Terra e restaurar a ordem dominante para a humanidade.
Nós estamos acostumados a ver dragões em histórias ambientadas na Idade Média e é até curiosa a idéia de transportar a ação para os tempos atuais e mais ainda para um futuro próximo, num mundo pós apocalíptico destruído por monstros alados que instalaram seu “reino de fogo”. Porém, a base do roteiro nos remete à situações que já foram largamente vistas anteriormente em várias outras produções, onde monstros são acidentalmente despertados e vingam-se da humanidade destruindo tudo a sua volta. Essa era a premissa básica de dezenas de filmes baratos da década de 1950, onde animais pré-históricos ressurgiam de sua inatividade para enfrentar a humanidade (vale citar um em especial: “Gorgo”, produzido em 1960, onde um enorme monstro ataca Londres e causa pânico na população). E é claro que esses elementos fazem parte da fantasia do cinema, pois a existência de dragões num passado remoto e que despertaram possibilitando que sua prole domine o planeta é uma idéia típica da imaginação dos roteiristas do cinema de entretenimento. É difícil imaginar como a humanidade e seu alto grau de desenvolvimento tecnológico conseguiu permitir a submissão de nossa espécie inteligente para um dragão e seus descendentes, onde a própria raça humana ajudou a destruir o planeta ao tentar combater os monstros com armas nucleares.
“Reino de Fogo” tem características que lembram uma mistura do ambiente apocalíptico de “Mad Max” (1980) com a idéia de renascimento dos monstros de “Parque dos Dinossauros” (1993) ou “Godzilla” (1998), trazendo muita ação, aventura e dragões. Os destaques são justamente as cenas protagonizadas por essas fascinantes criaturas, que criadas digitalmente por modernos efeitos especiais, parecem assustadoramente reais, apesar que elas deveriam aparecer mais durante o filme. As belas imagens de uma Londres devastada, à margem do imponente rio Tâmisa, não por uma guerra fatal entre nações inimigas, mas pela ação das criaturas aladas cuspidoras de fogo num poderoso “napalm” natural, é outro momento de destaque. Como curiosidade temos uma cena interessante em homenagem à popular saga cinematográfica “Star Wars”, de George Lucas. Um detalhe que poderia ser melhor explorado na trama é como os dragões dominaram a raça humana, pois o filme optou em ambientar a história diretamente numa época onde o planeta já estava em ruínas e a humanidade vivia oprimida fugindo da tirania dos fictícios monstros voadores.
A dupla central de atores está bem com Christian Bale interpretando o típico mocinho herói, que luta bravamente contra os monstros para defender seus amigos, e com Matthew McCounaghey fazendo o militar frio com sede de vingança, alucinado para matar os dragões inimigos. O desfecho é previsível e bem inverossímil, no confronto final entre o dragão macho e uns poucos humanos heróis. Mas, apesar das falhas do roteiro, “Reino de Fogo” consegue cumprir seu objetivo de proporcionar divertimento apresentando um cenário interessante e devastador para a humanidade, numa luta de sobrevivência entre nossa espécie e dragões ferozes.

“Reino de Fogo” (Reign of Fire, 2002) – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/05/06)

Rei Arthur (2004)


Em 17/09/04 chegou aos cinemas brasileiros o épico “Rei Arthur” (King Arthur), uma produção milionária dirigida por Antoine Fuqua (o mesmo de “Dia de Treinamento”).
Independente do roteiro ter sido baseado em eventos que realmente aconteceram ou de ter o acréscimo de novas versões e elementos para a famosa lenda do “Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”, o filme tem grandes cenas de batalhas campais, onde a violência dos combates reina absoluta e a lâmina ensangüentada das espadas define o destino dos vencedores e derrotados. Excluindo o inevitável desfile daqueles clichês típicos de um cinema mais convencional e popular, “Rei Arthur” ainda consegue transmitir cerca de duas horas de entretenimento para os cinéfilos, onde a principal idéia que vem à mente do espectador ao término da exibição é a evidência da incrível barbárie histórica da raça humana, sempre em guerras sangrentas por liberdade ou questões religiosas. E que no final a única vencedora invariavelmente é a Morte, soberana e invencível.
Essa história de preconceito na diferença entre as raças e fé religiosa, sempre acompanhou a trajetória da humanidade até os dias de hoje, e é o maior exemplo de sua fraqueza e irracionalidade, sempre procurando resolver os conflitos com a prática de guerras selvagens, sendo que talvez isso só acabe mesmo quando conseguirmos a extinção de nossa espécie.
“Rei Arthur”, além das filmagens de batalhas, será lembrado também por uma das cenas mais forçadas e inverossímeis que já tive a oportunidade de ver nos cinemas: um dos cavaleiros de Arthur, um habilidoso arqueiro, acerta mortalmente de uma longa distância o peito de um bretão traidor que estava fornecendo informações para os inimigos saxões, e que estava escondido no alto de uma árvore.

“Rei Arthur” (King Arthur, 2004) # 374 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 30/05/06)

A Orgia Noturna dos Vampiros (1973)


Estou aqui em nome da condessa.

Com direção do argentino León Klimovsky e roteiro de Gabriel Burgos e Antonio Fos, o filme espanhol “A Orgia Noturna dos Vampiros” conta a história de um grupo de pessoas que viajam de ônibus pelo interior com destino à cidade de Bojoni para trabalharem numa mansão aristocrata em funções caseiras como camareiro, cozinheiro, jardineiro, mordomo, professor e chofer. Esse grupo é formado pelo líder Marcus (Manuel de Blas), pela professora Alma (Dianik Zurakowska), além de Raquel (Charo Soriano) e sua filha de oito anos Violet (Sarita Gil), e completando com o jardineiro Godo (Luis Ciges), o professor de matemática César (David Aller) e o ajudante geral Ernesto (I. González), que tem uma notável semelhança física com o falecido astro Charles Bronson.
Porém, no meio do caminho, o motorista do ônibus (L. Villena) sofre um ataque cardíaco fulminante e eles são obrigados a interromper o trajeto indo parar num vilarejo chamado Tolnia. Lá chegando, eles estranhamente não encontram ninguém nas ruas e casas, parecendo uma cidade fantasma, e conhecem apenas mais tarde, durante a noite, seus anfitriões, especialmente Boris (José Guardiola), ou Major, uma espécie de prefeito e representante do povoado, e a rica e misteriosa condessa (Helga Liné), que os recebem com bastante hospitalidade.
Em Tolnia, eles encontram também um outro viajante que decidiu parar na cidadezinha, Luis (Jack Taylor), que inevitavelmente acabou se envolvendo amorosamente com Alma e que se juntou ao grupo depois que seu carro apresentou pane mecânica. Mas o que todos não imaginavam é o segredo obscuro que paira sobre o pequeno vilarejo e envolve seus misteriosos habitantes que só saem durante à noite.

O filme é da primeira metade da década de 70 (mais especificamente 1973), tem produção européia e de baixo orçamento (Espanha), é curto (apenas 79 minutos na versão distribuída em DVD no Brasil pelo selo “Dark Side” da “Works Editora”), tem um título grande, sonoro e que instiga a curiosidade (“A Orgia Noturna dos Vampiros”), trata de um tema que sempre desperta interesse (vampirismo), e apresenta um horror apenas sugerido e insinuado, investindo em cenas noturnas sinistras num pequeno vilarejo misterioso, com doses bastante discretas de sangue e violência. Essas características são importantes de serem evidenciadas para justamente situar o espectador na categoria de filme que estamos falando, e para orientar aqueles apreciadores que procuram esse tipo de cinema de horror, com esses ingredientes específicos.
Temos algumas boas seqüências de filmagens noturnas carregadas de um clima tenso e mórbido com uma cidadezinha obscura e cheia de segredos, cujos habitantes inicialmente hospitaleiros planejam outros destinos bem mais trágicos para seus visitantes e forasteiros. E existe um refinado senso de humor que merece ser enaltecido, principalmente na cena onde os visitantes estão apreciando uma refeição com uma carne extremamente saborosa (providenciada especialmente sob encomenda pelo sinistro “gigante do machado”, interpretado por Fernando Bilbao, o autor da frase reproduzida logo no início desse texto), enquanto o anfitrião garante de forma sarcástica que eles nunca comeram iguaria tão rara em nenhum outro lugar.
Mas o roteiro é pouco inspirado e reserva para o espectador alguns momentos de monotonia, com situações previsíveis, um elenco com atuações inexpressivas onde apenas se salva a bela Dianik Zurakowska (mais pela sua beleza do que interpretação), e principalmente uma trilha sonora ruim e totalmente inapropriada que em vez de contribuir com o clima de mistério que envolve a história, ajuda a dispersar nossa tentativa de interação com o filme.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

E ainda temos um desfecho meio equivocado, com uma solução clichê e absurda. Já que a intenção dos realizadores do filme era poupar a vida do casal de protagonistas, então eu particularmente preferiria um final onde eles, sobreviventes da chacina dos vampiros, apenas fugissem de carro, deixando para nossa imaginação os eventos que poderiam ocorrer depois disso, em vez da opção escolhida, com eles pedindo ajuda na cidade vizinha de Bojoni e recebendo a informação que o vilarejo de Tolnia não existe, indo até o local com os policiais e não encontrando nada, e a câmera fechando a imagem num canto que esconde o ônibus destruído em que eles viajavam.

Curiosamente, “A Orgia Noturna dos Vampiros” possui o nome original espanhol “La Orgia Nocturna de los Vampiros” e recebeu outros títulos alternativos como “Grave Desires” e “Orgy of the Vampires”.

“A Orgia Noturna dos Vampiros” (La Orgia Nocturna de los Vampiros / The Vampires Night Orgy, Espanha, 1973) # 383 – data: 27/05/06 – avaliação: 6 (de 0 a 10) – site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/05/06)

A Rainha dos Condenados (2002)


A escritora Anne Rice, responsável pela série de livros de horror “Crônicas Vampirescas” (The Vampire Chronicles), vendeu os direitos para filmagem de sua obra para o estúdio Warner e em 1994 foi produzido o filme baseado no primeiro livro, “Entrevista com o Vampiro”, que teve direção de Neil Jordan e elenco famoso composto por Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas, Stephen Rea, Christian Slater e Kirsten Dunst (vista em “Homem-Aranha”), se transformando num grande sucesso.
O segundo livro da autora foi “O Vampiro Lestat” que juntamente com o terceiro romance, “A Rainha dos Condenados”, transformaram-se em mais um filme para o cinema, que também recebeu o nome de “A Rainha dos Condenados” (Queen of the Damned), entrando em cartaz nos cinemas brasileiros em 10/05/02, numa co-produção entre Austrália e Estados Unidos, e dirigido por Michael Rymer.
O filme traz novamente o vampiro Lestat, interpretado por Cruise em 1994 e agora pelo ator irlandês Stuart Townsend, explicando o seu surgimento e drama pessoal. Nos dias de hoje ele é agora um astro do rock e sua popularidade entra em conflito com todos os outros vampiros existentes, uma vez que ele admite ser um vampiro publicamente não cumprindo uma orientação onde eles devem viver nas sombras da humanidade, nunca revelando suas identidades reais. Porém, esse é justamente o seu objetivo num plano de vingança pelo que aconteceu no passado, quando foi mordido em 1788 pelo vampiro Marius (Vincent Perez), transformando-o também numa criatura sobrenatural.
A partir daí, ele passou a conviver um conflito interno com suas emoções ainda humanas dificultando a aceitação de sua nova condição de um ser amaldiçoado para sempre, condenado a vagar na escuridão e sedento por sangue. Nesse momento, ele toma conhecimento da existência da “Rainha dos Condenados”, uma vampira poderosa chamada Akasha, interpretada pela falecida cantora Aaliyah Dana Haughton, morta aos 21 anos de idade num acidente aéreo após o término das filmagens. Akasha era tão temida por sua crueldade que ela e seu rei foram transformados em estátuas de pedra, mas o jovem e iniciante vampiro Lestat acaba incitando a rainha a acordar novamente para a vida, contrariando Marius, que o abandona condenando-o a viver sozinho pelo mundo, uma vida eterna e solitária. A rainha desperta definitivamente ao beber o sangue de seu rei tornando-se ainda mais poderosa e ressurge mais de 200 anos depois, numa época onde Lestat agora é um famoso cantor de rock, líder de uma banda que leva o seu nome e espalha uma música gótica que conquista uma enorme multidão de fãs.
Porém, sua real identidade é descoberta pela jovem Jesse Reeves (Marguerite Moreau), que faz parte de um grupo secreto de estudo do vampirismo, criando entre eles uma relação mortal de sedução, e revelando mais tarde também a existência de um certo parentesco entre eles. O ápice acontece quando Lestat anuncia o seu único show ao vivo no Vale da Morte, acompanhado por milhares de fãs e por vampiros descontentes que pretendiam matá-lo, ao mesmo tempo que aparece Akasha, a rainha dos condenados, para levar Lestat como o escolhido para ser seu novo rei, onde ele tem a difícil tarefa de decidir se permanece ao lado da rainha tirana e assassina ou fica do lado dos outros vampiros e converte a jovem Jesse em sua companheira eterna.
Uma cena em destaque é quando a rainha Akasha aparece num bar londrino frequentado por vampiros e começa a destruí-los violentamente incendiando seus corpos, e numa sequência em especial arrancando o coração de um deles e devorando de forma grotesca. Outra cena é quando Lestat está sendo atacado no palco de sua banda por outros vampiros e um deles tem sua cabeça degolada cirurgicamente por um golpe preciso de uma afiada lâmina manuseada por Lestat.
Os filmes de vampiros são sempre interessantes, fato que é provado pela enorme legião de fãs do assunto no mundo inteiro, e pelas centenas de produções de todos os tipos e épocas ao longo da história do cinema. Desde o lançamento do livro “Drácula” escrito por Bram Stoker em 1897, e filmado várias vezes com destaque para o clássico homônimo de 1931 com Bela Lugosi e “O Vampiro da Noite” (1958), da produtora inglesa “Hammer” (imortalizando o brilhante ator Christopher Lee como o conde vampiro), até os dias atuais, o vampirismo continua com grande força e interesse no cinema, principalmente pela essência de seu apelo erótico e pelo seu lado sombrio e gótico.
Em “A Rainha dos Condenados”, apesar de um enorme desfile com todos os clichês característicos do gênero, o interesse por esse fascinante tema se mantém forte, auxiliado pela inclusão de elementos visuais do ambiente obscuro do rock e sua música agressiva, além do fato trágico da morte prematura da cantora Aaliyah, que fazia grande sucesso com sua música e tentava iniciar também sua carreira no cinema. Seus únicos dois filmes ficaram sendo esse “A Rainha dos Condenados” e o anterior “Romeu Deve Morrer” (Romeo Must Die, 2000), e sua atuação acabou se constituindo de um sentimento de morbidez e curiosidade.
A trilha sonora, de forte impacto no filme, está sob o comando de Richard Gibbs (ex-integrante da banda Oingo Boingo), com a participação de Jonathan Davis, vocalista da banda Korn, que empresta sua voz para o personagem Lestat em suas canções, além ainda das presenças do misterioso astro gótico Marilyn Manson e de Chester Bennington, líder da banda Linkin Park.
“A Rainha dos Condenados”, ao contrário de seu antecessor “Entrevista com o Vampiro”, tem um elenco inferior e muitos momentos exagerados de fantasia e apelos visuais, com bastante ação, correrias e violência, mas para os fãs não muito exigentes do horror, vampirismo e rock, certamente o filme é mais uma garantia de entretenimento.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 05/07/05, pelo SBT, na sessão “Cine Espetacular”, numa Terça-Feira às 22:30 horas.

“A Rainha dos Condenados” (Queen of the Damned, 2002) – avaliação: 7 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/05/06)

O Quarto do Pânico (2002)


Os excelentes atores Jodie Foster e Forest Whitaker contracenam como oponentes na intrigante trama de suspense dirigida por David Fincher (de “Seven” e “Clube da Luta”), “O Quarto do Pânico” (Panic Room), que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 07/06/02.
Já começando com uma diferenciada apresentação dos créditos iniciais, com os nomes dos atores e equipe técnica misturando-se aos enormes e imponentes prédios de New York, num efeito muito interessante, o filme traz Foster como Meg Altman, uma mulher recém divorciada de um marido rico (Stephen, interpretado por Patrick Bauchau), que se muda com sua filha adolescente Sarah (Kristen Stewart) para um casarão de um bairro nobre de New York. Ao serem apresentadas à casa e seus aposentos, elas conhecem um quarto especial secreto, com paredes reforçadas, linha de telefone própria, sistema eletrônico de monitoramento de segurança com um circuito interno de câmeras, ou seja, uma sala construída para situações de emergência.
Na primeira noite na nova casa, mãe e filha já são obrigadas a utilizar o “quarto do pânico” devido à invasão de três homens que pretendiam roubar a mansão. O grupo de assaltantes é formado por Burnham (Forest Whitaker), um funcionário da empresa construtora dos tais quartos especiais, Raoul (Dwight Yoakam), um perigoso e traiçoeiro marginal armado, e pelo líder Junior (Jared Leto), um jovem parente do milionário ex-proprietário da mansão, que havia morrido mas antes escondido uma fortuna em títulos bancários num cofre localizado exatamente no quarto secreto em que se refugiaram Meg e sua filha Sarah, constituindo-se no objetivo dos homens invasores.
A partir daí, começa uma batalha entre elas e os ladrões, com estes tentando entrar no quarto “impenetrável” e as mulheres tentando se defender e procurar ajuda (para o azar delas a linha telefônica especial estava ainda desligada), com muitas surpresas e reviravoltas culminando em várias situações de suspense, incluindo o fato de Sarah ser diabética e precisar de medicamentos que não existem no quarto secreto e até uma crise entre os próprios ladrões com Burnham demonstrando boa índole e com a finalidade de apenas conseguir o dinheiro escondido, com Raoul sendo um criminoso violento e sem escrúpulos, e com Junior sendo um jovem rebelde e impaciente.
“O Quarto do Pânico” é um thriller com roteiro de David Koepp (de “Homem-Aranha”) com muitos momentos de entretenimento, numa história ágil e repleta de situações de tensão, apesar de inevitáveis clichês como principalmente o final previsível e feliz (é difícil imaginar como o ladrão Raoul ainda conseguiu sobreviver e encontrar forças para atacar após um violento golpe de marreta desferido por Meg, seguido de uma queda significativa).
Como curiosidade, a atriz Nicole Kidman iria interpretar inicialmente a personagem Meg, mas teve que abandonar o projeto por motivos de saúde e o papel acabou ficando para Jodie Foster. Uma cena também curiosa é quando Meg Altman demonstra sofrer algum tipo de claustrofobia ao ser apresentada ao “quarto do pânico” num momento em que estava em seu interior confinada (e que no decorrer do filme esse fato é desprezado, numa falha do roteiro), e ela cita o nome de Poe (o escritor Edgar Allan Poe), que foi um dos maiores autores de horror de todos os tempos, muito cultuado até hoje e que utilizava em boa parte de seus contos macabros o tema da claustrofobia e as sensações mórbidas de ser enterrado vivo, e para sua decepção, a corretora de imóveis que a acompanhava no quarto desconhecia Poe e até o confundiu com um astro do rock.
Outros momentos interessantes no filme são as cenas com movimentos ágeis de câmera, criados por efeitos especiais de computadores, onde percorremos em planos incríveis os aposentos da casa, por dentro de suas paredes e até no buraco da fechadura da porta de entrada. Uma outra cena a se destacar por seu tom humorístico é quando a adolescente Sarah diz a sua mãe Meg para ser enérgica ao falar com os ladrões através do interfone do quarto secreto, utilizando “palavrões” na comunicação, sendo um momento engraçado em meio à tensão inevitável que estava no ambiente.
Enfim, “O Quarto do Pânico” tem o diferenciado David Fincher na direção e Jodie Foster e Forest Whitaker no elenco competente, sendo uma interessante história de suspense e tensão, ingredientes suficientes para garantir nosso maior objetivo com o cinema que é a diversão.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 07/11/05, pela TV Globo, na sessão “Tela Quente”.

“O Quarto do Pânico” (Panic Room, 2002) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/05/06)

Pearl Harbor (2001)


Em 02/06/01 entrou em cartaz nos cinemas brasileiros o filme de guerra “Pearl Harbor”, mais uma produção enfocando a famosa invasão surpresa do Japão aos Estados Unidos, arrasando a marinha americana ancorada no Hawai e impulsionando sua entrada na Segunda Guerra Mundial.
Dessa vez, contando com os modernos efeitos especiais da era digital, “Pearl Harbor” apresenta incríveis cenas de batalha no melhor estilo dos também recentes “O Resgate do Soldado Ryan”, “Além da Linha Vermelha” e “Círculo de Fogo”, todos abordando eventos desse período sangrento de meados do século passado, muito vergonhoso na história da humanidade.
O cinema atual de alta tecnologia consegue fazer com que as sequências de guerra sejam praticamente “reais” e essas produções do gênero são bem oportunas justamente para mostrar o tamanho da irracionalidade humana em sua ânsia de conquista e poder.
Entre os destaques, vale citar uma cena em especial, onde uma bomba é lançada de um avião japonês contra um navio americano, e acompanhamos sua trajetória até o impacto contra o alvo, como se o espectador estivesse viajando com a bomba.
É claro que esse filme, para seguir os padrões hollywoodianos, inseriu alguns elementos para uma melhor interação e aceitação do grande público, através de uma história de romance e patriotismo dispensável, no triângulo amoroso do trio de personagens principais formado pelos jovens Ben Affleck, Josh Hartnett e a bela Kate Beckinsale. O elenco ainda conta com as presenças de astros mais experientes como Alec Baldwin, Tom Sizemore, Cuba Gooding Jr. e o veterano Jon Voight, mas o que vale mesmo são as fortes e convincentes sequências de batalhas, repletas de muita violência e realismo, que deveriam servir de exemplo da bestialidade da raça humana.
Porém, é pena constatar que o Homem ainda insiste em seus próprios erros e em pleno século XXI continuamos resolvendo nossas intrigas com guerras estúpidas ao redor do mundo.

“Pearl Harbor” (Pearl Harbor, 2001) – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/05/06)

O Pacto dos Lobos (2001)


É sempre interessante acompanhar uma produção com elementos de horror produzida fora dos Estados Unidos. Nesse caso, trata-se do filme francês “O Pacto dos Lobos” (Le Pacte des Loups / Brotherhood of the Wolf), que estreou nos cinemas brasileiros em 14/06/02. Com direção de Christophe Gans, a história mescla ação, lutas marciais, violência, suspense e situações supostamente sobrenaturais, ambientada no interior da França no século XVIII, onde uma enorme fera semelhante a um lobo está atacando violentamente os aldeões, causando pânico e terror com muitas mortes, principalmente de mulheres. O roteiro é baseado numa suposta lenda local francesa, a “Besta de Gevaudan”, onde dezenas de pessoas foram brutalmente assassinadas por uma criatura desconhecida, entre os anos de 1764 e 1767, no período governado pelo Rei Luis XV, e as razões das mortes na verdade nunca foram descobertas.
No filme, o rei envia um cavalheiro responsável pelos jardins do reino, Gregoire de Fronsac (interpretado por Samuel Le Bihan), juntamente com seu “irmão de sangue”, o índio da América do Norte Mani (Mark Dacascos, um ex-campeão de artes marciais), para o vilarejo de Gevaudan com o objetivo de caçar a fera que está aterrorizando a região.
Após um tempo eles se convencem não se tratar de um lobo normal e passam a enfrentar a intolerância do povo local além de obstáculos políticos e religiosos. Fronsac acaba se apaixonando pela bela aristocrata Marianne de Morangias (Emilie Dequenne) e toma contato com uma misteriosa prostituta italiana Sylvia (Monica Bellucci), que na verdade está no vilarejo com objetivos muito maiores que apenas vender seu corpo, e também com o irmão de Marianne, Jean-François (Vincent Cassel), um caçador implacável e suspeito pelos acontecimentos macabros envolvendo a fera e suas vítimas.
Após muita ação, correrias, lutas movimentadas e fascinantes, mortes e sangue, o mistério da lenda local vai tomando forma e evidenciando uma sociedade secreta e conspiração política e religiosa para a tomada do poder na França.
Como curiosidade temos uma cena onde Fronsac ajuda uma camponesa doente que está tendo uma convulsão, espumando pela boca, ao colocar o cabo de uma faca em sua boca para impedir que a língua se dobre e cause o sufocamento, até a moça voltar ao normal do ataque. Enquanto ele estava tentando salvar a moça de um problema de saúde, os outros aldeões estavam gritando que ela estava na verdade possuída e era uma feiticeira, fato que era rotineiro naquele período mórbido da humanidade onde muitas pessoas inocentes foram executadas por supostas relações com o demônio e práticas de bruxaria. Outras sequências muito interessantes são todas aquelas em que Mark Dacascos no papel do índio Mani mostra suas habilidades em artes marciais, em momentos muito agitados de lutas.
“O Pacto dos Lobos”, apesar de longo em seus 142 minutos de projeção, e ambientada numa época e local específicos, é uma grande produção francesa digna do melhor cinema de entretenimento, com bela fotografia das florestas européias e interessante história de uma lenda envolvendo uma criatura feroz, brutais assassinatos e conspiração política.

“O Pacto dos Lobos” (Le Pacte des Loups / Brotherhood of the Wolf, França, 2001) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/05/06)

Os Outros (2001)


Em 02/11/01 entrou em cartaz nos cinemas o horror sobrenatural “Os Outros” (The Others / Los Otros), numa co-produção entre Espanha, França e Estados Unidos, com a americana Nicole Kidman encabeçando o elenco num filme que retorna com o velho e fascinante tema de “casa mal assombrada”.
Lembrando em alguns aspectos o excelente clássico “Os Inocentes” (1960), de Jack Clayton, o roteiro conta a história de uma jovem e recente viúva, Grace (Kidman), que perdeu seu marido lutando pela Inglaterra contra os alemães na Segunda Guerra Mundial, e que vai morar logo após o final da guerra em 1945 com seus dois filhos pequenos, uma menina e um menino, numa misteriosa e isolada casa numa ilha na costa da Inglaterra que se revela uma enorme mansão no melhor estilo gótico. Como seus filhos possuem uma rara doença que os impede de receber raios solares, que podem causá-los graves feridas no corpo e um sufocamento mortal, a casa está quase sempre fechada e mergulhada num ambiente sombrio e lúgubre, onde cada porta aberta obriga o fechamento com chave da anterior e os ambientes estão sempre repletos de grandes cortinas para impedir a entrada da luz natural.
Quando um grupo de três estranhos empregados é contratado para os serviços domésticos, um casal de idosos (o jardineiro Mr. Tuttle, interpretado por Eric Sykes, e a governanta Mrs. Mills, papel de Fionulla Flanagan), e uma jovem adolescente muda cozinheira (Lydia, interpretada por Elaine Cassidy), fatos estranhos passam a ocorrer, envolvendo assombrações e situações sobrenaturais, culminando numa revelação surpreendente.
É um dos melhores filmes de horror psicológico dos últimos tempos, retornando com a nostálgica e infalível idéia de um horror sugerido, à espreita, atrás da porta, numa história típica de mansão assombrada por fantasmas (ou pelos vivos...). Nicole Kidman está ótima como a mãe excessivamente religiosa e protetora de seus filhos, que ficou viúva por uma fatalidade do destino e terá que viver sozinha num enorme casarão antigo, revelando-se neurótica e permitindo mais tarde o desenvolvimento inevitável de sua insanidade.
A direção e o roteiro são do talentoso cineasta chileno Alejandro Amenábar e o filme se utiliza obviamente dos velhos clichês característicos do gênero, como uma mansão gótica, neblina espessa em meio a um bosque com árvores fantasmagóricas, portas que rangem e fecham sozinhas, vozes do além, ruídos estranhos nos outros aposentos, cemitério com lápides de pedra no jardim, piano que toca sozinho, porém tudo de forma bem colocada não deixando cair na banalidade e mantendo a atenção (ou tensão) do espectador.
Algumas cenas são memoráveis e grande exemplo de um horror clássico, como quando o misterioso trio de empregados tem sua real identidade descoberta pelas crianças da casa e são vistos caminhando vagarosamente na direção delas em meio à espessa neblina de uma noite de luar num enorme jardim macabro, ou quando num momento de alucinação de Grace, ela vê sua filha vestindo um véu de noiva branco brincar com uma marionete e a confunde com uma estranha velha que fala com a voz da criança, culminando num ataque de loucura da mãe contra a filha.
E o final é bem criativo, tentando fugir do convencional, procurando amarrar todas as situações da história numa surpresa muito interessante. É como diz a misteriosa governanta para sua patroa num momento em que esta está confusa mentalmente frente aos eventos assombrosos que estão ocorrendo: “Às vezes o mundo dos vivos se mistura com o mundo dos mortos...”.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 17/11/04, pela TV Globo, às 22:30 horas na sessão “Cinema Especial”, que acontece às quartas-feiras em ocasiões especiais, quando não há a exibição de algum jogo de futebol.

“Os Outros” (The Others / Los Otros, Espanha / França / Estados Unidos, 2001) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 29/05/06)

Mulher-Gato (2004)


Na Sexta-feira 13 de Agosto de 2004, uma data sinistra, confirmando a forte tendência atual de personagens dos quadrinhos adaptados para o cinema, chegou ao Brasil “Mulher-Gato” (Catwoman), com a bela Halle Berry no papel título.
Seguramente é o pior filme que conferi nos cinemas em 2004, juntamente com a paródia “Todo Mundo em Pânico 3”. Os efeitos especiais são artificiais demais e não convincentes, o roteiro é completamente desinteressante, as cenas de ação são mal produzidas e não empolgam, num típico filme de orçamento milionário mas descartável, e talvez apenas valendo a pena de se ver quando sair em DVD, para os fãs da personagem dos quadrinhos e sem muita exigência.
Na história existem tentativas de piadas dispensáveis, e a outrora virtuosa Sharon Stone faz um papel tão ruim de vilã que até esconde sua beleza. De positivo temos apenas a presença de muitos gatos (para quem aprecia esses dóceis animais) e a participação de Halle Berry, uma das mais belas mulheres do cinema atual. Tomara que o bom senso prevaleça e que os produtores não tentem filmar uma continuação...

“Mulher-Gato” (Catwoman, 2004) – avaliação: 2 (de 0 a 10)
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Olhos Famintos (2001)


Em 15/1101 estreou nos cinemas brasileiros mais um filme de horror adolescente, “Olhos Famintos” (Jeepers Creepers), numa co-produção entre Estados Unidos e Alemanha e com o prestigiado cineasta Francis Ford Coppola entre os produtores.
Com direção e roteiro de Victor Salva, a história mostra um casal de jovens irmãos, interpretados por Justin Long e Gina Phillips, que estão viajando de carro pelo interior dos Estados Unidos rumo a uma visita aos pais, quando se surpreendem com um misterioso motorista de caminhão despejando dois grandes pacotes amarrados envoltos em lençóis brancos e manchados de vermelho numa clara alusão a corpos, em uma tubulação nos jardins de uma igreja abandonada. Ao investigarem, descobrem um porão repleto de cadáveres e passam a partir daí a serem perseguidos por uma criatura sobrenatural que se fortalece alimentando-se de determinados orgãos humanos como os olhos, língua, coração ou vísceras, escolhidos pelo cheiro exalado das vítimas quando em estado de medo.
É mais um filme de horror repleto de clichês característicos do estilo e sem grandes novidades, com sustos fáceis e cenas óbvias de violência. Não acrescenta nada, mas ainda assim pode até garantir alguns momentos de diversão sem muita exigência, principalmente nas sequências com o monstro do inferno. Teve uma continuação em 2003, “Olhos Famintos 2”, com Ray Wise.

“Olhos Famintos” (Jeepers Creepers, 2001) – avaliação: 6 (de 0 a 10)
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Olhar de Anjo (2001)


Olhar de Anjo” (Angel Eyes) é um drama que estreou em nossos cinemas em 19/10/01, e que traz a belíssima atriz Jennifer Lopez e o jovem e talentoso ator Jim Caviezel num misterioso e intrigante envolvimento amoroso.
Lopez é Sharon Pogue, uma policial da violenta cidade americana de Chicago, que tem dificuldades em sua vida sentimental e sérios problemas de relacionamento com a família, mais especificamente com o pai e irmão que já tiveram participações em agressões contra suas respectivas esposas, sobrando apenas a mãe (interpretada pela brasileira Sônia Braga) que não a rejeita. Caviezel é Catch, um músico de Blues que sofre um grave acidente de carro que matou sua esposa e filho pequeno, e que foi salvo dos escombros justamente por Lopez. Após o acidente e não aceitando a fatalidade do ocorrido, a vida dele praticamente acabou e ele passou apenas a sobreviver num grande sentimento de culpa. Um ano depois, o jovem reaparece na vida da policial e a salva de um ataque de um bandido armado, iniciando a partir daí um romance misterioso e tumultuado.
“Olhar de Anjo” é um filme interessante e agradável, com um roteiro de belos diálogos mostrando como os destinos de duas pessoas se cruzam em momentos de gravidade culminando num desfecho onde eles tem que enfrentar seus problemas interiores para voltarem a viver em paz. Lopez (de “A Cela”) e Caviezel (de “Alta Frequência” e do excelente drama de guerra “Além da Linha Vermelha”) estão bem em seus papéis mantendo o interesse da história não deixando cair num sentimentalismo óbvio e banal.

“Olhar de Anjo” (Angel Eyes, 2001) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
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Olga (2004)


Em 20/08/04 entrou em cartaz nos cinemas a produção nacional “Olga”, motivo de orgulho para os brasileiros, provando para o mundo que sabemos fazer cinema de qualidade, apesar do roteiro se concentrar de forma exagerada nas cenas melodramáticas. Com um visual caprichado e excepcional interpretação dos atores, em especial de Camila Morgado como a personagem título, a alemã judia e revolucionária Olga Benario, o filme procura retratar um período político conturbado num passado recente da humanidade, com a ascensão do comunismo em diversos países pelo mundo, inclusive no Brasil sob a liderança do histórico Luís Carlos Prestes, abordando repressão, violência e principalmente a intolerância da humanidade, a maior responsável pelos conflitos e guerras que sempre marcaram a trajetória de nossa espécie supostamente racional.
Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 16/04/07 (Segunda-Feira), pela TV Globo, na sessão “Tela Quente” às 22:30 horas.

“Olga” (Olga, 2004) – avaliação: 7,5 (de 0 a 10)
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O Mistério da Libélula (2002)


O Mistério da Libélula” (Dragonfly) é um filme de suspense com elementos sobrenaturais, estrelado por Kevin Costner e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 30/05/02.
Um médico de atendimentos de emergência, Joe Darrow (Costner), perde sua esposa também médica, Emily (Susanna Thompson), num acidente com um ônibus na Venezuela quando estava realizando um trabalho voluntário pela Cruz Vermelha Internacional para um povoado pobre de índios. Devido à instabilidade política local, eles tiveram que abandonar com urgência suas atividades e num momento de muita chuva o ônibus é atingido por um desmoronamento de pedras que o arremessou por um precipício caindo num rio, com todos os passageiros considerados mortos.
O corpo de Emily não é encontrado e o choque de sua morte repentina e ainda com o agravante de estar grávida, faz com que seu marido Joe tenha muitas dificuldades em aceitar a tragédia, procurando trabalhar quase sem parar para poder enfrentar a dor da perda de sua esposa.
Porém, seis meses após o acidente, ele começa a receber mensagens de Emily através dos antigos pacientes dela, crianças internadas com problemas graves de saúde. Quando elas tiveram experiências de quase morte, com suas consciências vagando no limite entre a vida e a morte caminhando na tênue linha que separa esses dois mundos, elas voltaram com mensagens de Emily para Joe, principalmente através de simbologias e a presença misteriosa de libélulas.
Uma vez tentando entender o novo ambiente fantástico ao seu redor e atormentado por visões sobrenaturais de sua esposa tentando comunicação, o médico Joe procura orientação com uma freira estudiosa dos fenômenos de “quase morte” e com seus amigos, principalmente a vizinha interpretada por Kathy Bates, que passou por situação similar e que procura sempre uma explicação lógica para os fatos. Mas para desvendar o real “mistério da libélula”, o médico terá mesmo é que viajar ao local do acidente de sua esposa e tentar descobrir os segredos que envolveram a sua morte e desaparecimento.
O filme é um suspense com algum interesse, principalmente pela interpretação segura de Kevin Costner num personagem em conflito entre a razão e a fé, através dos contatos sobrenaturais com sua esposa morta em condições trágicas, levantando questionamentos sobre sua própria sanidade e todos os elementos misteriosos envolvendo sua nova condição com a perda de alguém querido. Mas também inevitavelmente o filme apresenta alguns clichês característicos do gênero e um tradicional final feliz com situações inverossímeis, principalmente no desfecho encontrado para a solução do enigma envolvendo a morte da esposa do médico e as tentativas de comunicação dela com o mundo dos vivos.
Porém, de uma forma geral “O Mistério da Libélula” é mais um suspense sobrenatural com alguns bons momentos de diversão para os apreciadores não muito exigentes, trazendo o popular ator Kevin Costner envolvido com mistérios “do além”...

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 05/11/05, pela TV Globo, na sessão “Super Cine”, às 23:00 horas.

“O Mistério da Libélula” (Dragonfly, 2002) – avaliação: 6,5 (de 0 a 10)
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Ripper: Mensageiro do Inferno (2001)


Em 28/11/01 entrou em cartaz mais um filme de horror na linha “serial killer”, “Ripper: Mensageiro do Inferno” (Ripper: Letter from Hell).
A única sobrevivente de uma chacina ocorrida numa ilha com adolescentes que passeavam num belo iate sendo assassinados violentamente por um psicopata, a jovem Molly Keller (interpretada por A. J. Cook), vai para uma escola cinco anos depois para frequentar um curso que estuda o comportamento e o perfil psicológico dos chamados “serial killers”, ministrados pelo misterioso professor Martin Kane (interpretado pelo bom ator Bruce Payne, que foi um dos principais vilões na fantasia “Dungeons and Dragons”).
Historicamente, um dos primeiros assassinos em série apareceu em Londres no final do século XIX, violentando e mutilando brutalmente prostitutas, e ficou conhecido como “Jack, o Estripador”. Quando uma das alunas é assassinada com dezenas de facadas e requintes de crueldade, um grupo de estudantes se une para tentar traçar o perfil do criminoso, que supostamente parecia ser o mesmo da carnificina presenciada por Molly. Ajudados pelo detetive da polícia Kelso (Jurgen Prochnow) que investigou o massacre da ilha, os estudantes e seu professor enfrentam o psicopata num confronto banhado em muito sangue.
Num gênero já bastante explorado e tema desgastado, “Ripper: Mensageiro do Inferno” até tenta oferecer algum interesse sem muita exigência, na medida em que o roteiro interage com o público para a descoberta da identidade do assassino e suas motivações, numa possível relação sobrenatural com o famoso estripador londrino. Mas inevitavelmente encontramos todos os clichês característicos do estilo desfilando na história, com os habituais sustos fáceis e as triviais mortes recheadas com sangue e mutilações que sempre vemos em dezenas de filmes similares.

“Ripper: Mensageiro do Inferno” (Ripper: Letter from Hell, 2001) – avaliação: 4 (de 0 a 10)
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Minority Report - A Nova Lei (2002)


Um dos escritores mais conhecidos e respeitáveis na literatura mundial de ficção científica é o americano Philip Kindred Dick (1928-1982). Em seu currículo figuram dezenas de romances e contos e algumas de suas histórias foram adaptadas para o cinema, tendo como destaques os filmes “Blade Runner – O Caçador de Andróides” (Blade Runner, 1982), dirigido por Ridley Scott e estrelado por Harrison Ford, e “O Vingador do Futuro” (Total Recall, 1990), de Paul Verhoeven e com Arnold Schwarzenegger.
Dessa vez, é um conto escrito em 1956 que foi filmado e estreou nos cinemas brasileiros em 02/08/02. Trata-se de “Minority Report – A Nova Lei” (Minority Report), um thriller de ficção científica dirigido pelo especialista em entretenimento Steven Spielberg e protagonizado pelo astro Tom Cruise, na primeira vez em que trabalham juntos.
A história é ambientada numa Washington DC futurista onde em 2054 o índice de criminalidade é zero não ocorrendo assassinatos há seis anos devido à ação de uma divisão de elite da polícia chamada de “Pré-Crime”, que prende os infratores antes deles cometerem seus delitos. Isso é possível graças às informações de premonição captadas através de três paranormais mutantes denominados “Pré-Cogs”, frutos de um programa experimental secreto, onde suas visões são digitalizadas e utilizadas para identificar as futuras vítimas e respectivos assassinos antes da consumação efetiva dos crimes.
Liderando essa equipe especial está John Anderton (Tom Cruise), que acredita veementemente na credibilidade do sistema devido aos resultados obtidos e por questões pessoais já que teve uma tragédia familiar envolvendo seu filho e que culminou com a separação da esposa, Lara (Kathryn Morris), e com o início de seu vício em drogas para suportar seus conflitos interiores, e com a “Pré-Crime” ele poderia ajudar a eliminar a criminalidade.
Porém, tudo repentinamente muda quando ele próprio é denunciado como um futuro assassino, ao mesmo tempo em que um detetive do Departamento de Justiça, Danny Witwer (Colin Farrell), surge para questionar o sistema avaliando sua eficácia para uma possível implantação no resto dos Estados Unidos. Anderton é acusado de um futuro assassinato dentro de 36 horas de uma pessoa que ele nem conhece, e então passa a ser perseguido por seus ex-companheiros de polícia, liderados pelo oficial Fletcher (Neal McDonough).
Após muita correria, perseguições, tiroteios, fugas espetaculares, reviravoltas e surpresas na trama, a única saída de Anderton é tentar descobrir a verdade dos fatos, procurando respostas seqüestrando até a principal “Pré-Cog”, Agatha (Samantha Morton), e questionando agora a eficiência do sistema que ele sempre defendeu ou provar a existência de uma possível conspiração.
“Minority Report” é um thriller bem movimentado e complexo mostrando um futuro próximo com belíssimos prédios, estradas e carros que incitam nossa imaginação (apesar do acelerado ritmo de modernização tecnológica em curso, acho particularmente difícil atingirmos o estágio proposto no filme daqui há 50 anos). Tom Cruise é um bom ator e está novamente muito bem no papel do policial atormentado pela perda do filho que passa de caçador à caça devido à acusação do programa de “Pré-Crime” que tanto ele defendeu, e o elenco ainda tem as presenças marcantes do veterano Max Von Sydow como Lamar Burgess, o diretor da organização e personagem com importante participação na trama, de Peter Stormare como o debochado cirurgião de transplantes ilegais de olhos (nessa época todos os cidadãos são reconhecidos pela leitura da íris ocular), e da veterana Lois Smith como a Dra. Iris Hineman, a criadora do projeto experimental dos “Pré-Cogs”.
Os efeitos especiais são de grande qualidade, principalmente na visualização em tela de cristal das imagens premonitórias dos videntes, na reprodução da imponente cidade futurista e na seqüência onde várias pequenas aranhas cibernéticas invadem um prédio à procura de John Anderton utilizando suas funções de reconhecimento dos olhos de todos os moradores.
Uma curiosidade é o fato do personagem de Tom Cruise ter seu rosto deformado novamente, nesse caso para ajudar em sua fuga utilizando o efeito temporário de uma química injetada na face, pois em seu filme anterior, o igualmente thriller de ficção científica “Vanilla Sky”, um fato similar aconteceu com o personagem David Aames que sofreu um acidente de carro e teve seu rosto desfigurado.
“Minority Report” é uma bem sucedida parceria entre o rei de bilheterias Steven Spielberg e o astro Tom Cruise, que vem mostrando cada vez mais suas qualidades interpretativas (como na refilmagem de “Guerra dos Mundos”, em 2005, também de Spielberg). É uma produção longa em seus 146 minutos, porém com uma história inteligente baseada em obra do escritor Philip K. Dick, evidenciando um roteiro ágil, interessante, movimentado e repleto de situações que prendem a atenção do espectador, apresentando a complexidade de um futuro possível para a humanidade, e garantindo um excelente entretenimento.

Observação: O filme foi exibido pela primeira vez na televisão aberta em 26/12/05, pela TV Globo, na sessão “Tela Quente”.

“Minority Report – A Nova Lei” (Minority Report, 2002) – avaliação: 8 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/05/06)

Megiddo (2001)


Os temas relacionados a profecias bíblicas sobre o fim do mundo, Apocalipse, Armageddon, a batalha final entre os exércitos do Bem, amparados por Deus, e do Mal, liderados por um anticristo, sempre chamaram a atenção do grande público e foram explorados à exaustão em muitos filmes do gênero fantástico. E com a esperada virada de século e milênio e a passagem do tão misterioso e temido ano 2000, esses assuntos receberam novamente uma atenção especial dos executivos da indústria de cinema, que viram nesse momento uma oportunidade interessante para investir.

Megiddo” (Megiddo) foi lançado em 2001, e narra eventos tanto anteriores quanto posteriores à “The Omega Code”, filme produzido em 1999. A história mostra a ascensão gradativa de um anticristo entre a humanidade, narrando momentos de sua infância, adolescência e principalmente vida adulta. O escolhido é Stone Alexander (Michael York, o único ator que esteve no filme anterior e foi agora também um dos produtores executivos), filho de um rico empresário das comunicações, Daniel Alexander (David Hedison), e que se casou com a bela italiana Gabriella (Diane Venora), filha do General Francini (Franco Nero), que dirigia uma conceituada escola militar. Auxiliado por um misterioso e obscuro guardião (o veterano Udo Kier), Stone constrói uma vida política influente, eliminando todos que se opõem aos seus planos malignos, até chegar à conquista da Presidência da União Européia. Para combater sua tirania e autonomia mundial, surge em seu caminho o irmão mais novo David (Michael Biehn), um rival que tornou-se o Presidente dos Estados Unidos da América, e que agora transformou-se em seu maior inimigo numa guerra declarada entre o Bem (amparado por Deus) e o Mal (liderado por Lúcifer) pelo destino da humanidade, uma batalha violenta a ser travada no lendário vale de Megiddo, conforme profecias reveladas na Bíblia, enquanto paralelamente o planeta está sofrendo as conseqüências devastadoras de pragas e uma infinidade de tragédias naturais.

“Megiddo” tem três desvantagens significativas. Uma é a exploração de um tema super esgotado e que não desperta mais tanto interesse nos fãs mais experientes que se cansaram de ver argumentos similares em filmes anteriores. O outro ponto desfavorável é o desfecho extremamente exagerado e previsível (eu particularmente preferiria uma solução mais intermediária para o conflito religioso, deixando em aberto o resultado final, permitindo o espectador tirar suas próprias conclusões, afinal os conceitos básicos do Bem e do Mal são bastante subjetivos. E além disso, o filme parece priorizar a ação em detrimento de mais momentos de horror sobrenatural, exemplificado em inúmeras cenas barulhentas e repletas de tiroteios. Uma em especial é digna de nota de tão forçada, num fato que certamente comprometeu significativamente a qualidade do roteiro. Um grupo de agentes do FBI tem a missão de prender o Presidente dos Estados Unidos (o homem mais poderoso e heróico do mundo, o salvador da humanidade, conforme sempre procura enfatizar o cinema americano), e invadem sua casa disparando de forma desenfreada com suas armas de fogo contra os seguranças locais, enquanto o Presidente escapa numa fuga extraordinária, típica das fantasias do mundo do cinema.
Porém, a favor do filme temos também três detalhes positivos. Um é a narrativa super dinâmica da história, que possui um ritmo acelerado mantendo a atenção do espectador, não deixando que os clichês e situações absurdas aborreçam demais ou dispersem a concentração. Outro fator é o trabalho dedicado da equipe de efeitos especiais, com direito a terremotos que destruíram monumentos históricos no Egito, passando por chuvas de meteoros que desintegraram literalmente o outrora imponente Coliseu em Roma, na Itália, e culminando com a representação de Lúcifer, uma criatura alada demoníaca e de aspecto macabro. E finalmente a qualidade do elenco escolhido, indo do par de protagonistas formado pelos rivais em cena Michael York (da versão de 1976 de “A Ilha do Dr. Moreau”) e Michael Biehn (de “O Exterminador do Futuro”, 84), passando por coadjuvantes talentosos como o alemão Udo Kier (que esteve recentemente em “Medopontocom”, 2002) e o italiano Franco Nero, além do nostálgico David Hedison (o Capitão Lee Crane da série de TV dos anos 60 “Viagem ao Fundo do Mar”, criada por Irwin Allen, e que também participou de pérolas do cinema fantástico como “A Mosca da Cabeça Branca”, 58, e “O Mundo Perdido”, 60).

A “FlashStar” fez uma parceria com a “NBO Editora” para lançar nas bancas de jornais alguns DVDs de filmes de horror menos badalados pelo público. Assim ocorreu com “Sasquatch – O Abominável” (2002) e também com “Megiddo”, que foi distribuído no final de Janeiro de 2005 encartado na revista “DVD News Home Cinema”, ano 5, número 55, Setembro de 2004, ao custo de R$ 19,90. Trazendo na capa a manjada tagline “A Batalha entre o Bem e o Mal Começou...”, o DVD tem como material extra um trailer de um minuto e meio sem legendas, sinopse (a mesma que está na contra capa), pequenos depoimentos legendados em português do produtor executivo Paul Crouch sobre “A Verdade Bíblica de Megiddo”, e de Hal Lindsey sobre “O Apocalipse: A Verdade de Megiddo”, além comentários da equipe técnica sobre a concepção dos efeitos especiais, breves biografias e filmografias do diretor inglês Brian Trenchard-Smith e dos atores Michael York, Michael Biehn e Diane Venora.

“Megiddo” (Megiddo, 2001) # 297 – data: 01/02/05 – avaliação: 6 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/05/06)

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (Sleep Hollow, EUA / Alemanha, 1999)


                Com produção de Francis Ford Coppola e direção de Tim Burton, já fica previsível o resultado dessa união: um excelente filme de horror gótico, “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, com todos os elementos característicos do gênero, casarões sombrios, florestas com árvores fantasmagóricas e constante névoa espessa, cemitério horripilante com suas lápides de pedra, carruagens e vestuário do século XIX, etc. Burton também homenageou o lendário ator Christopher Lee, que participou em magistrais, nostálgicos e emocionantes 3 minutos de película na pele de um burgomestre, assim como ele fez em 1990 com o já falecido Vincent Price em “Edward Mãos de Tesoura”.
                Lee é o único, ainda vivo com mais de 90 anos de idade, do grupo de atores que moldaram o Horror cinematográfico ao longo dos anos 1950, 60 e 70, ao lado de Price (1911-93), Peter Cushing (1913-94), John Carradine (1906-88) e Donald Pleasence (1919-95), entre outros, e que tem sua carreira principalmente marcada por suas interpretações como o “Conde Drácula” (das produtoras inglesas “Hammer” e “Amicus”), e diversos outros vilões do Horror. O diretor também homenageou novamente o grande e veterano Martin Landau, que participou em poucos minutos no início do filme como o patriarca da família Van Garrett, sendo logo decapitado. Ele também é um ícone do gênero muito conhecido por atuar fixo na antiga série de ficção científica da TV “Espaço 1999”. Um fato estranho é que ele não aparece nos créditos do filme.
                Tem também o eterno vilão do cinema moderno Christopher Walken (o diabólico anjo Gabriel de “Os Anjos Rebeldes”, 1994), cujo nome só aparece nos créditos finais (o que também é estranho). Ele, que encarnou magistralmente o cavaleiro decapitador de cabeças (quando ele ainda tinha a sua, é claro), sem precisar emitir uma única palavra e apenas utilizando-se de interpretações faciais e grunhidos de gelar a alma dos vivos e mortos, ajudado pela expressão de seus dentes pontiagudos serrilhados especialmente para impor de forma mais acentuada sua ferocidade anormal.
                E para completar o time, o jovem casal de protagonistas é formado por Johnny Depp e Christina Ricci. Ele iniciou sua carreira no primeiro filme da franquia “A Hora do Pesadelo” (1984), além do drama de guerra “Platoon” (1985), a série televisiva “Anjos da Lei” (1987-90) e participações em outros filmes de Burton como “Edward Mãos de Tesoura” e “Ed Wood’. Já a lindíssima Christina Ricci, cuja beleza fenomenal é a única oposição ao horror sanguinário do filme, foi a garota esquisita de “A Família Addams”, com os cabelos morenos, e agora produzida com longos cabelos loiros, que realçaram ainda mais sua beleza.
                Depois de uma introdução desse porte fica fácil imaginar a grandiosidade dessa obra, que já concorre como um dos melhores filmes de horror dos carentes últimos tempos. “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (Sleepy Hollow, 1999) estreou nos cinemas brasileiros em 28/01/2000, dirigido por Tim Burton, que já é conhecido por suas outras produções similares dentro do universo gótico como a belíssima fantasia “Edward Mãos de Tesoura”, “Batman” 1 e 2, a homenagem emocionante “Ed Wood”, as animações dark “O Estranho Mundo de Jack”, “A Noiva Cadáver” e “Frankenweenie”, a comédia “Os Fantasmas Se Divertem”, a divertidíssima paródia de ficção científica “Marte Ataca!”, a versão de 2001 de “Planeta dos Macacos”, a de 2005 de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, a de 2010 de “Alice no País das Maravilhas” e a de 2012 de “Sombras da Noite”, além do musical “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”.
                O cinema de Horror ao longo de sua história gerou muitas faces, entre elas os velhos filmes góticos ambientados em séculos recentes do passado, com mansões obscuras, famílias amaldiçoadas, ou as obras que exploraram o horror psicológico em histórias de fantasmas e assombrações, ou ainda aqueles centrados em violência explícita com muito sangue entre zumbis, monstros disformes e psicopatas modernos. Mas o horror que mais assusta e influencia o público é certamente aquele mais próximo da realidade do que da ficção. A história da humanidade está repleta de referências e provas decisivas de grandes atrocidades cometidas como guerras bestiais e sangrentas e torturas insanas, e vários foram os filmes que utilizaram essa temática. “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” mistura a realidade dos ferozes guerreiros do passado que empalavam e decapitavam suas vítimas por puro prazer sádico, à ficção sobrenatural de fantasmas que retornam do inferno para continuar a espalhar sangue através de suas espadas. A união desses elementos resultou num filme agressivo por sua violência, apesar de bons momentos de humor negro, e divertido por suas caracterizações góticas, sem contar as diversas homenagens que Tim Burton fez tanto com os atores especialmente convidados quanto às referências de velhos filmes.
                O diretor já havia feito isso de maneira muito mais detalhada na paródia de FC “Marte Ataca!” (1996), onde ele homenageia todos os velhos clichês da ficção científica dos anos 50 e 60, a época dos “monstros de olhos esbugalhados” e a paranoia de invasão comunista aos Estados Unidos, num exercício de pura nostalgia e entretenimento, com referências explícitas a diversos clássicos do cinema “B” como “O Dia Em Que a Terra Parou” (51), “A Invasão dos Discos Voadores” (56), “A Guerra dos Mundos” (53) e “O Planeta dos Macacos” (68).
                Em “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, baseado no livro “The Legend of Sleepy Hollow”, de Washington Irving, a história passa-se em 1799 e fala de um sanguinário guerreiro (Christopher Walken) cuja especialidade era decepar as cabeças de seus inimigos em batalhas decididas pelo aço das lâminas das espadas. Ele era como se fosse o próprio demônio na Terra, lembrando personagens reais de nossa sangrenta história como o Drácula que empalava seus prisioneiros de guerra. Um fato curioso é que nas cenas onde o vilão já está sem sua cabeça e nas sequências onde ele cavalga seu corcel negro, a interpretação ficou por conta de Ray Park, o Darth Maul do episódio I de “Star Wars: A Ameaça Fantasma”.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

                Após muito tempo colecionando mortes em seu currículo de sangue, o cavaleiro decapitador foi finalmente pego numa emboscada e morto com um destino irônico, pois deceparam-lhe a cabeça, fato testemunhado por duas pequenas meninas que estavam nas proximidades. Seus restos mortais foram então enterrados numa floresta e o local de sua cova ficou conhecido como “A árvore dos mortos“, um verdadeiro portal entre o mundo externo e o inferno. Muitos anos se passaram e uma das meninas, já adulta, desenterrou o cavaleiro e roubou-lhe o crânio, incitando feitiçaria para trazer de volta do além o assassino em busca de sua cabeça, que agora estava sob o poder negro da moça. Ele é incitado a decapitar brutalmente os aldeões de uma pequena comunidade chamada “Sleepy Hollow”.
                A moça, Lady Van Tassel (interpretada por Miranda Richardson), está agora casada com um rico fazendeiro da região, Baltus Van Tassel (Michael Gambon), e ela planeja matá-lo e às principais personalidades do vilarejo para herdar fortunas e propriedades. Com o crânio do cavaleiro sanguinário em suas mãos, ela controla e ordena seus assassinatos, todos com requintes de crueldade e cabeças decepadas. Para ajudar nas investigações das mortes, é então enviado um detetive de New York, Ichabod Crane, o jovem interpretado por Johnny Depp num estilo Sherlock Holmes, que tem a missão de desvendar a lenda do cavaleiro sem cabeça. Ele, ajudado pela jovem Katrina Van Tassel (interpretada por Christina Ricci) e principalmente por um garoto, órfão graças ao decapitador, consegue descobrir a trama sobrenatural e ao devolver o crânio ao cavaleiro negro ele despacha-o novamente para o mundo das trevas, levando consigo a moça que havia roubado sua cabeça.
                São várias as cenas memoráveis ao longo do filme, como a autópsia feita pelo detetive no cadáver de uma senhora grávida, vítima do decapitador, onde um preciso corte no abdômen denuncia também a decapitação do feto, e que deixou o jovem coberto de sangue parecendo um açougueiro em um matadouro; os pesadelos do detetive ambientados em sua infância, num momento onde ele entra em uma câmara de torturas e vê sua mãe, Lady Crane (Lisa Marie), morrendo aprisionada em um brutal instrumento de tortura da inquisição que rasgou toda a sua carne e dilacerou seu corpo em um banho de sangue; a sequência do duelo entre o cavaleiro decapitador e um corajoso jovem, Brom Van Brunt (interpretado por Casper Van Dien, de Tropas Estelares, 97), onde após longa batalha de espadas, o vilão, manuseando duas armas cortantes nas mãos com uma habilidade sobrenatural, esquarteja o jovem em dois pedaços; o momento onde o detetive, procurando pistas sobre o local da cova do cavaleiro sem cabeça, entra em contato com uma feiticeira da floresta (na verdade, a irmã de Lady Van Tassel, que também testemunhou a morte do vilão), a qual lhe revela a existência e o mapa da “árvore dos mortos” através da possessão de um demônio; a cena onde o jovem Crane, de posse de um grande machado, desfere vários golpes nas raízes da “árvore dos mortos” e a cada golpe uma enorme golfada de sangue jorrava da árvore manchando a sua face; ou ainda a sequência final da luta entre o cavaleiro sem cabeça e o detetive num moinho de vento abandonado, numa clara referência ao clássico Frankenstein (31), onde também na sequência final a criatura e o criador se confrontam mortalmente num moinho idêntico.

(Fim dos spoilers)

                Depois de tudo que foi relatado fica óbvio dizer que o filme é uma grande diversão e homenagem ao cinema de horror. Pois tem grandes personalidades envolvidas no projeto como Francis Ford Coppola (diretor do clássico sobre a Guerra do Vietnã “Apocalypse Now”, 79, da clássica trilogia de máfia “O Poderoso Chefão” e do moderno “Drácula”, 1992), os veteranos atores Christopher Lee e Martin Landau em pequenas, porém notáveis participações e ainda outros artistas talentosos como Christopher Walken e Johnny Depp. Tem todos os elementos góticos do horror numa atmosfera sombria de épocas passadas onde lendas sobrenaturais imperavam em meio às atrocidades reais. E tem Tim Burton, um diretor não convencional, em um excelente momento cinematográfico proporcionando nostalgia e entretenimento, e mostrando que o gênero fantástico ainda sobrevive com talento, principalmente quando se propõe a homenagear com respeito e admiração os velhos clichês do estilo.

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (Sleepy Hollow, 1999) – avaliação: 8,5 (de 0 a 10)
site: www.bocadoinferno.com / blog: www.juvenatrix.blogspot.com (postado em 25/05/06)

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (Sleepy Hollow, EUA / Alemanha, 1999). Duração: 105 minutos. Direção de Tim Burton. Produção de Francis Ford Coppola. Roteito de Andrew Kevin Walker (o mesmo de Seven), baseado no livro The legend of Sleepy Hollow, de Washington Irving. Fotografia de Emmanuel Lubezki. Desenho de Produção de Rick Heinrichs. Música de Danny Elfman. Efeitos Especiais de Jim Mitchel (Industrial Light & Magic). Elenco: Martin Landau, Christopher Lee, Christopher Walken, Johnny Depp, Christina Ricci, Miranda Richardson, Michael Gambon, Michael Gough, Ian McDiarmid, Casper Van Dien.